De Pabllo Vittar a Isabella Santoni, artistas comentam Carnaval político que deu certo no Rio em 2018: “É um misto de sensações que faz com que a gente reflita”, disse a atriz


Das seis escolas que voltam a desfilar no Sábado das Campeãs, três apresentaram enredos com críticas políticas e sociais na Marquês de Sapucaí. A Beija Flor, campeã deste ano, levou a figura do Frankstein para falar das mazelas, a Paraíso do Tuiuti abordou os problemas na sociedade a partir da escravidão no contexto contemporâneo e a Mangueira destacou a situação do Rio de Janeiro na avenida

Não pode ser coincidência. E não é. Das seis escolas de samba do Carnaval do Rio que voltam a desfilar sábado no dia das campeãs, três levaram os problemas públicos e políticos para a avenida. A Beija-Flor, campeã do Carnaval carioca de 2018, tratou das mazelas de forma figurada através do personagem Frankstein, como um monstro que não sabe amar. O segundo lugar honrou uma surpresa que comoveu a Sapucaí no domingo. A Paraíso do Tuiuti fez uma crítica aos problemas sociais brasileiros a partir de uma visão contemporânea da escravidão. E a Mangueira, que ficou em quinto lugar, criticou a postura do governo do Rio de Janeiro e não poupou a imagem do prefeito da cidade Marcelo Crivella.

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Nos três casos, as escolas de samba destacaram uma arte politizada no maior espetáculo a céu aberto da Terra que vinha sendo sobreposta desde o icônico “Ratos e urubus, larguem minha fantasia”, de Joãozinho Trinta pela Beija Flor em 1989. Dentro e fora da Marquês de Sapucaí, artistas apaixonados pela festa comentaram a importância de um Carnaval engajado como o de 2018. Integrante da escola campeã, Isabella Santoni comentou esta postura política da Beija-Flor. “Eu acredito que a arte, independentemente de sua forma, toca em lugares que não conseguimos explicar. É um misto de sensações que faz com que a gente reflita sobre nossos padrões e verdades. Neste caso, não está sendo diferente. O Carnaval é uma grande expressão disso e a Beija Flor está cumprindo sua função”, disse a atriz que desfilou no segundo carro da escola representando o Planalto e a favela.

Desfile da Beija Flor, campeã do Carnaval carioca de 2018 (Foto: Alexandre Durão/Reprodução G1)

Além de Isabella, o desfile da Beija Flor deste ano também teve outros nomes de nossa cultura entre os componentes. No carro que abordou a intolerância em nossa sociedade, Pabllo Vittar apareceu como destaque no combate à homofobia. “Eu fiquei muito emocionada quando ouvi o enredo porque fala muito de mim, sabe? Na parte que fala ‘vem ver o filho que você desprezou’ representa todo mundo que já foi desprezado por ser minoria. Hoje estamos aqui dando a cara a tapa”, disse a cantora em entrevista ao site PurePeople pouco antes de cruzar a passarela.

Pabllo Vittar como destaque no desfile da Beija Flor, campeã do Carnaval carioca de 2018 (Foto: Alexandre Durão/Reprodução G1)

No mesmo carro, Jojo Todynho foi outra artista que levantou a bandeira contra todos os tipos de intolerância. Depois de sua estreia na Sapucaí, a cantora comentou o enredo da escola de Nilópolis e soltou o verbo em sua participação no Estúdio Globeleza, da Globo. “Eu venho representando tudo o que vem acontecendo. O desamor e a falta de respeito com o próximo estão muito grandes. Esse enredo veio para nos acordar. Se a gente quiser mudar o mundo, temos que começar com nós mesmos. Eu vim para desconstruir padrões. O meu padrão sou eu, não a sociedade. Língua para falar todo mundo tem, mas ninguém te sustenta, só Deus. Vamos reagir, Brasil”, disse a dona do hit “Que Tiro Foi Esse?”.

Jojo Todynho no desfile da Beija Flor, campeã do Carnaval carioca de 2018 (Foto: Alexandre Durão/Reprodução G1)

Do outro lado do espetáculo, no camarote, um time de celebs também comemorou o engajamento político das escolas de samba neste Carnaval. No Folia Tropical, Chandelly Braz ficou impactada com o desfile da Paraíso do Tuiuti. Literalmente. Após a escola cruzar a avenida, a atriz sentou-se no chão da frisa do camarote e ficou refletindo sobre a força do enredo da vice-campeã. Carnaval é festa e descontração, mas tem muita luta política também. Esse é um período de fala e de retomada de poder por parte do povo. Por isso foi tão importante ter assistido a um desfile como o da Acadêmicos do Tuiuti. Foi revolucionário o que eles fizeram na avenida. A escola não falou só de um assunto do passado, foi um desfile lindo e político que reivindicou muitas coisas”, disse Chandelly.

Desfile da Paraíso do Tuiuti, vice-campeã do Carnaval carioca de 2018 (Foto: Marcos Serra Lima/Reprodução G1)

Assim como ela, Erom Cordeiro também comentou a coragem e postura da Paraíso do Tuiuti na avenida. O ator, que foi ao Folia Tropical na segunda-feira, contou que ainda estava absorvendo tudo o que a escola de samba havia apresentado no dia anterior. “Agora nós estamos vendo uma retomada nos discursos por causa de todo este momento significativo que estamos tendo. A Paraíso do Tuiuti, por exemplo, arrasou e surpreendeu na avenida. Foi demais e eu aplaudi de pé. Tomara que agora a mensagem deste desfile chegue a quem tem que chegar. É o grito de muita gente”, disse.

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E deve ter funcionado. Porém, se a mensagem deixada pela Beija Flor, Paraíso do Tuiuti e Mangueira não tiver sido super clara, o Sábado das Campeãs vem como a consagração deste Carnaval político que o Rio de Janeiro viveu. Afinal, como apontou Jesuíta Barbosa, essa é uma festa que nos dá gás para aguentar os próximos meses – ainda mais em ano de eleições. “É uma extravagância, uma folia que às vezes nem faz muito sentido. Mas, aqui no Brasil, faz todo sentido a gente ter dias durante o ano em que podemos fazer o que quisermos. Extravasar agora faz com que a gente tenha um ano bem pela frente”, disse o ator sobre o Carnaval.

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