Madonna amarga 2º lugar na Billboard e com o sucesso de Kendrick Lamar a indústria fonográfica se consolida como produto da era online


13º álbum de estúdio da cantora, “Rebel Heart”, vendeu mais que o primeiro colocado – a trilha sonora de “Empire” -, mas, graças às novas regras de contagem, amargou o título de vice da Billboard, que se apoia cada vez mais na era digital da música

Após dias e dias de especulação, semanas de apostas e meses de teorias, foi batido o martelo: “Rebel Heart”, o 13º disco de estúdio da Rainha do Pop, Madonna, não alcançou o topo das paradas da Billboard, principal chart da indústria fonográfica, sendo o primeiro trabalho da cantora a ter tal desempenho desde “Ray Of Light”, em 1998. Mas muita calma nessa hora que a história não é tão simples assim: o novo trabalho de Madonna ultrapassou o #1 dessa semana em vendas. Então, por que raios o álbum está em segundo lugar? A resposta, meu caros? O mundo da música não é mais o mesmo e isso não é de hoje. Chega mais que HT explica melhor.

Há dois fatores relacionados à era digital que foram decisivos na “queda” de Madonna: em primeiro lugar, “Rebel Heart” foi um dos vazamentos mais emblemáticos dos últimos anos, tendo chegado à esfera online ainda em fase de pré-produção, na forma de demos e meses antes de seu lançamento previsto. Ou seja, quando o disco finalmente ficou disponível para compra, grande parte de seu público já havia se enjoado do material. Além do impacto nas vendas físicas – que, vale frisar, ainda assim superaram em número o “vencedor” -, a divulgação não-oficial do material teve um dano colateral que foi crucial na hora das contagens: diminuiu o número de streams oficialmente contabilizados pela Billboard que, há pouco tempo, mudou as regras do jogo.

“Rebel Heart” amargurou seu segundo lugar, “vendendo” 121 mil cópias, enquanto a trilha sonora de “Empire” – a série musical de hip hop que HT já falou aqui e que tem faixas originais produzidas por Timbaland, com participações de nomes como Mary J. Blige, Jennifer Hudson, Courtney Love e Rita Ora – alcançou o topo com 130 mil discos “vendidos”. O detalhe aqui é que, recentemente, a cada 1.000 streams oficiais do álbum – em outras palavras, cada vez que internautas ouviram o trabalho via Spotify, Rdio, Deezer, Youtube e afins – é contabilizada a venda de um disco. E assim o plano de marketing em volta de “Rebel Heart” – que já havia enfraquecido com o vazamento prévio – foi pelo ralo.

A nova regra combinada com a posição de Madonna nos charts mostra que o foco principal de artistas contemporâneos deve ser o meio online, uma vez que poucos jovens compram um disco mesmo em sua forma digital, e menos ainda sabem o que é pegar um CD físico nas mãos e folhear um encarte que não venha por meio de dispositivos. Se a estratégia não for a mundialmente conhecida como “fazer a Beyoncé” e lançar o produto todo de uma vez só, é preciso não apenas levar em conta, mas focar os esforços em fazer com que as músicas circulem pelo meio online. Um ótimo exemplo recente a ser seguido? Kendrick Lamar.

Seu terceiro trabalho de estúdio, “To Pimp a Butterfly”, foi anunciado no último dia 10 e, após um erro do iTunes e uma mudança de planos, já estava disponível para compra cinco dias depois. Ou seja, nada daquela ansiedade mortificante de aguardar meses por um álbum e os fãs do rapper ainda acordaram na segunda-feira com a grata surpresa de poderem adquirir o produto uma semana antes do esperado. Conclusão: “To Pimp a Butterfly” se tornou o disco mais ouvido em um dia no mundo todo desde o lançamento do Spotify, contabilizando 9,6 milhões de streams apenas em 24h, o que tira o posto conquistado por Drake com “If You’re Reading This It’s Too Late” – outro trabalhado que “fez a Beyoncé”.

O que faltou nos planos de Madonna é considerar que, na era da internet, a palavra-chave é “velocidade”. Provavelmente, Kendrick Lamar também teria um desempenho menor se não houvesse apressado seus planos, uma vez que a internet já disponibiliza seu disco desde segunda-feira e sua versão física ainda nem chegou às lojas.  “Empire” não teve um super planejamento e suas vendas se basearam exclusivamente na audiência astronômica da série e o talento de seus artistas. Assim, a indústria fonográfica mostra que não importa a qualidade do trabalho de um artista, o importante é se lançar antes de vazar.