Ana Carolina em papo cabeça sobre política e preconceito: “Não é justo achar que alguém de outra cor ou ‘orientação sexual’ deva ser visto diferente”


Antes de se apresentar no Teatro Bradesco Rio, nos dias 21 e 22 de janeiro, com o show “Solo”, na base da voz e violão, a cantora também conversou com HT sobre o projeto: “Escolhi canções que me dão vontade de interpretar não somente na voz mas na maneira como posso recriá-las ao violão”

A mineira Ana Carolina se diz uma mulher partidária da igualdade. “Todo mundo morre igual, todo mundo chega aqui nesse mundo com as mesmas questões. Não é justo achar que alguém de outra cor, sexo, religião ou o que chamam de ‘orientação sexual’ deva ser visto ou tratado de maneira diferente”, opina. Aos 41 anos, ela não acha que dividir “o mundo em blocos, guetos e tribos facilite chegarmos à conclusão de que se tá ruim para o vizinho não pode estar bom para você e vice versa”. O mesmo raciocínio a leva a crer: “O outro precisa entender que só há saúde nas relações quando há o equilíbrio, a igualdade de direitos, a divisão correta de valores e deveres”. Um local para refletir essa situação é a internet, segundo ela: “Ela expõe e expurga nossas mazelas, nossos medos, sentimentos positivos e negativos”.

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Ana é assim: fala de temas espinhosos com raciocínio coeso. Coisa de quem conseguiu encontrar – não que fosse muito difícil para ela – um meio mais “libertador e renovador” de se apresentar. Em seu novo show, “Solo”, Ana surge no estilo voz e violão. “Ao longo desses 16 anos de carreira, experimentei diversas formas de shows, parceiras, formatos de banda. Fiz uma viagem no tempo em que era apenas eu e meu violão, quando o descobri, quando me descobri artista e fui à luta em busca do sonho de fazer da música meu ofício”, explica. No que tange ao repertório, se apegou às letras, palavras e respectivos sentidos. “Escolhi canções que me dão vontade de interpretar não somente na voz, mas na maneira como posso recriá-las ao violão”, conta.

Talvez por isso, ela confessa: “Não foi uma escolha fácil”. Um dos motivos são o desejo em não  “cair no óbvio” e “perfilar sucessos alheios”. Foi quando Ana Carolina optou por buscar o “sublime, o sentido de apresentá-las neste formato orgânico” e, só assim, “ter condições de imprimir um olhar pessoal sem no entanto despistar da essência de cada uma delas”. Na lista de compositores escolhidos: Chico Buarque, Djavan, Seu Jorge, Chico Buarque e por aí vai. “São grandes artistas, músicos, cantores, compositores, exemplos e material de estudo”, se derrete antes de apresentar o show aos cariocas no Teatro Bradesco Rio, nos dias 21 e 22 de janeiro, e para os paulistas no Teatro Bradesco, em São Paulo, nos dias 25 e 26 de fevereiro.

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Mas antes, nessa entrevista exclusiva ao HT, Ana aceita falar, além da temática que abre esse texto, de outras polêmicas. A primeira delas tange o Planalto Central, onde, por lá correm a passos curtos as investigações contra o presidente da Câmara dos Deputados, estourou a denúncia do ex-presidente Lula ter negociado cargos com o senador Fernando Collor de Melo, entre outros disparates anti éticos. “Não me cabe apontar o dedo para este ou aquele personagem da nossa política, porque para isso existem os órgãos competentes, as diversas instâncias da máquina do poder, mas quero um Brasil melhor, quero ver a ética valer e acreditar no que está escrito em nossa bandeira: ‘Ordem e Progresso’. A mesma bandeira que vejo e respeito deveria ser a mesma que quem foi eleito pelo povo deveria respeitar”, deseja.

Discurso de quem, de maneira alguma fica alheia ao sistema e ao que nele acontece. “Não vivo em uma bolha, tenho empregados, pago impostos, vendo shows, compro comida, roupas e faço tudo que todo mundo faz. Sendo assim quero ter de volta o que todo mundo quer: dignidade e respeito como cidadã”, reclama. Já quando o assunto é a queda de braço entre músicos e o Google e o YouTube pelo repasse indevido de direitos de execução, e/ou o duelo entre os serviços de música por streaming contra compositores  pelo igual repasse indevido, dessa vez de direitos autorais; Ana recorre a uma analogia. “Penso que para vender um pão francês, o padeiro precisa reaver seu investimento, seu suor, os impostos e o fato de saber fazer o pão. Com a música não é diferente: é o nosso ganha pão. Diferentemente da padaria onde o consumidor está ali frente a frente, precisamos de meios de difusão, das mídias que significam o meio. Assim, quem quer que queira lucrar a partir da exploração desse conteúdo, deve dividir com aqueles que criaram esse conteúdo. Temos que lutar pelo pão nosso de cada dia e a luta é constante”, dispara.

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Papo de reto da mesma Ana Carolina que, recentemente, por meio de uma ação publicitária com uma detentora de fórmula de certo remédio, lançou uma playlist com canções que funcionam, em tese, no complemento para o alívio da dor de cabeça tensional. Se funciona na real? “Parei para pensar que a música tem realmente força quando é aliada a emoções. Dependendo do seu estado de espírito ela te leva à euforia, ao êxtase, ao relaxamento, à fúria e uma infinidade de reações. A música é divina no sentido da vibração do som, ela atua em nossos chakras e permite nos levantar da cama, nos desviar da dor. Não sei se ajudou a alguma enxaqueca por aí, mas que já curei muita dor de cotovelo, isso já”. Ah, a gente não duvida nada.

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Serviço

Ana Carolina em “Solo”

Quando: dias 21 e 22 de janeiro de 2016 (quinta e sexta-feira) às 21h

Onde: Teatro Bradesco Rio (Avenida das Américas, 3900 – loja 160 do Shopping VillageMall – Barra da Tijuca)

Informações: www.teatrobradescorio.com.br