Somos todos Amarildo: Caetano Veloso e Marisa Monte se unem para levantar público em show beneficente


Durante o show, rolou momento em que toda a plateia usou máscara com o rosto de Amarildo para uma grande homenagem ao cidadão desaparecido

Uma parceria inédita e memorável marcou o coração dos cariocas, nesta última quarta (20), no Circo Voador. Caetano Veloso e Marisa Monte subiram ao palco para, juntos, realizar o show ‘Somos todos Amarildo’, em homenagem à Amarildo de Souza, o pedreiro desaparecido após ser levado por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, em junho, deste ano. Toda a grana arrecadada com o show será direcionada ao IDDH (Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos) para viabilizar um projeto que pretende traçar um perfil dos desaparecidos na região metropolitana do Rio.

Marcado para começar às 23h, o show começou com os artistas subindo ao palco separadamente. Anfitrião da noite, Caetano abriu a noite, às 23h40, em formatinho intimista, somente voz e violão, com os curtos versos de ‘Escapulário‘ (“o Pão-de-Açúcar/De caaada dia“). Em poucas palavras, mas com sorriso de visível gratidão pela lotação da casa, cumpriu a primeira parte da celebração levantando a multidão com clássicos como ‘Odeio‘, ‘Índio‘, ‘Tieta‘ e ‘Abraçaço‘. Sem a tradicional banda Cê que o acompanha há anos, o artista contou com um grupo de apoio em algumas músicas mais agitadas – composto pelo sambista Pretinho da Serrinha (Trio Preto+1), Marcelo Costa e Pedro Baby, filho da emblemática Baby do Brasil.

Logo depois, foi a vez da musa da noite subir ao palco. De saia na altura dos joelhos e top branco, Marisa deu um toque especial à arena carioca. Com sua voz doce e letras românticas, animou ainda mais a plateia que insistia permanecer em êxtase depois da apresentação de Caetano. Em seu repertório majoritariamente romântico, não faltaram hits como ‘Gentiliza’, ‘Vilarejo‘ e ‘Carnavália‘, mas ela também aproveitou para cantar ‘Dança da Solidão‘, de Paulinho da Viola, e ‘A menina dança‘, do incrível álbum ‘Acabou Chorare‘, dos Novos Baianos.

O desaparecimento do Amarildo, em um momento único e raro do Brasil, colocou todo o país para refletir sobre a dura realidade vivida no Brasil. A começar pela grande ilusão da pacificação e a necessidade urgente de uma mudança tanto institucional, quanto na atitude de cada cidadão, que não pode mais deixar fatos como o sumiço do pedreiro passarem despercebidos. Envoltos em tudo isso, artistas com papel influente na sociedade têm buscado meios para, de alguma forma, mobilizarem a população. Este show beneficente foi mais um passo desta longa jornada por mudanças.

Fotos: Vinícius Pereira

Com quase uma hora e meia de espetáculo, finalmente o momento mais esperado: Marisa convidou novamente Caetano ao palco para cantarem algumas músicas juntos. Nesse embalo íntimo, entoaram ‘Cajuína’ e ‘Tempo’, preparando-se para a tradicional saidinha do bis. No retorno, a cantora pediu que toda a plateia colocasse na face a máscara recebida ao entrar na casa de shows, com a representação do rosto de Amarildo. Atendendo ao pedido da compositora, a multidão posou em flashmob fazendo aquele registro para a posteridade. Uma linda homenagem! Em seguida, os ícones da música brasileira fecharam o show com o sucesso animadíssimo ‘De noite na cama’, fazendo os fãs dançarem e cantarem ao mesmo tempo. Ficou bonito!