Vitória Moda: a excelência de uma indústria criativa e a perfeita simbiose entre o fashion show e uma edição business atacadista


Um passeio pelo melhor da indústria da moda do Espírito Santo, um setor da economia criativa bem desenvolvido no estado e cartão-postal da Câmara do Vestuário, no sentido de fomentar a cultura, a popularização e a valorização do tema

*Com Léo Fávaro

Os holofotes da moda estão cada vez mais plurais em um momento de descentralização do poderio Rio-São Paulo como ditadores de tendências. É o que tenho comprovado in loco pelas minhas viagens de Norte a Sul do país acompanhando semanas de moda e feiras que movimentam a engrenagem do fazer moda no nosso país. O Vitória Moda é o mais recente exemplo do que venho dizendo por aqui. Realizado pelo Sistema Findes, Câmara do Vestuário e SEBRAE-ES, o evento ganhou este ano uma edição business no Shopping Moda Brasil, na cidade de Colatina, e foram colhidos os louros de R$ 17 milhões em negócios no atacado.

O tema desta edição? “Cinco Sentidos – Razão e Emoção”. E, no Itamaraty Hall, na capital do Espírito Santo, além de 17 desfiles, foi dado ênfase a um Salão da Economia Criativa, com produtos de 20 micro e pequenas empresas ligadas à arte, cultura, moda, artesanato e audiovisual. A curadoria do espaço ficou a cargo da competente Jacqueline Chiabay, responsável pela mostra, onde os expositores exibiram produtos associados a negócios criativos. José Carlos Bergamin, que está à frente da Câmara do Vestuário do ES e é coordenador do evento, é tácito ao afirmar: “Todas as oportunidades oferecidas pela Findes para disseminar os princípios e as próprias atividades da economia criativa têm sido aproveitadas pelo setor. Por isso, inserir no Vitória Moda exemplares de empresas com significante conteúdo criativo, que é o que estamos fazendo ao investir no Salão da Economia Criativa, faz todo sentido. Entre as vantagens da indústria criativa, eu poderia citar sua baixa poluição, o fato de ser uma atividade que não é pautada pelo gigantismo, a questão de demandar menos insumos naturais, representar atividades mais rentáveis e valorizar o ser humano, com práticas mais saudáveis, que garantem a longevidade das pessoas, em um ambiente social de menos conflito.”

Para conhecer a fundo o que rolou nas passarelas do Itamaraty Hall, troquei figurinhas com Léo Fávaro e fizemos um resumo bem consistente do que as grifes capixabas vão aprontar no Alto-Verão. Mergulhe nessa viagem:

Surreal

“Soy loco por ti, América” e “Tropicália” na trilha foram escolhas acertadas numa coleção cuja temática era “Tropicalhe!”. A marca jovem trouxe ousadia e bastante mistura para a passarela, apresentando formas do new look dos anos 60 e elementos do movimento hippie, e empregou estampas que remetem à nossa fauna e nossa flora. O preto – num contrates das outras coleções – teve grande espaço na coleção de verão da Surreal, o que foi quebrado por looks em off white, pelas estampas e por transparências. A cintura das peças também subiu alguns centímetros e ficou bem marcada,  completando-se com saias evasês. Para dar movimento aos looks, fendas e franjas mil.

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Praia

Ao som de Cage the Elephant, a coleção da Praia ficou concentrada basicamente no laranja, no azul e no branco e, fugindo da temática marinha, a marca apostou em estampa étnica. O desfile parecia que tinha um casting composto por modelos que acabaram de sair da praia, com maquiagem bem leve e com efeito bronzeado e sem saltos. As malhas naturais, como o algodão e o linho, compunham a maior parte dos looks, mas as fibras sintéticas também apareceram nas peças para surf, como boardshorts e sungas. Para elas, vestidos soltos e caftans faziam as vezes de saída de praia.

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Clutch

O primeiríssimo desfile da marca, que acaba de entrar no mercado, teve como tema a África. Não faltaram, então, estampas étnicas e tribais, passeando pela selva africana e traduzida numa coleção feminina e jovem. As estampas ganharam cores vibrantes e enérgicas, e as fendas foram presenças unânimes nesta coleção, dando às peças mais movimento e atitude. Os tecidos fluidos foram apresentados em vestidos longos e macacões, com recortes nos ombros e cintura marcada – aliás, a cintura marcada ficou bem evidente no desfile. Completavam o desfile ankle boots, franjas, make tribal e acessórios de cabeça. Era um passeio por uma savana bem estilosa.

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Amabilis

Anunciando que o verão está chegando, o desfile da Amabilis foi embalado por uma versão longe de “Here comes the Sun”, dos Beatles, e apresentou peças bem versáteis, confortáveis e sensuais. A marca investiu principalmente no vermelho, laranja e azul, e como um toque de ousadia, agregou à cartela de cores tons metalizados. A estamparia tinha referências do batik indonésio, resultando numa experiência visual interessante.

Para trazer o frescor do verão, a Amabilis utilizou shapes curvilíneos, com caimento leve e fluido. Malhas de jérsei deram a fluidez necessária para a coleção. Transparências, fendas e babados, por sua vez, proporcionaram aos looks charme bem feminino e sensual, mostrando estrategicamente o movimento do corpo na estação quente. Merece destaque a alfaiataria da marca, que deu frescor às formas clássicas com decotes bonitos e combinados com o estilo glam. O final row da marca foi apresentado por todas as modelos usando bodies e hot pants com estampas e tecidos da coleção.

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Cobra D’Água

Conhecida pelo seu surfwear, a Cobra D’Água mostrou amadurecimento deste conceito na passarela do Vitória Moda. A trilha do desfile ficou por conta da banda Macucos, que fez um pocket show, e a ambientação da catwalk lembrava um luau. Revelada em cores, estampas e tecidos que remetem ao mar, à praia e ao sol, a marca abordou o tema “Verão sem fim”. A cartela de cores passava pelos tons de laranja, amarelo, branco e azul, sempre vibrantes, inclusive nas estampas, onde predominaram florais, elementos náuticos e grafismos.

Os looks do desfile tinham uma pegada de anos 50, com a presença de shorts curtos, sungões, suspensórios e bainhas dobradas. A alfaiataria também ganhou espaço em bermudas, camisas e até cardigãs, tudo numa releitura bem leve e praiana – como é o estilo da Cobra D’água. Entre as matérias-primas, a marca optou por aquelas já conhecidas no surfwear, como o neoprene, o tactel e o flamê, mas também trouxe um tecido tecnológico (ergonomic flex), que possibilitou a confecção de peças elásticas e impermeáveis. O shape das peças eram retos e confortáveis.

Nas poucas peças femininas que apresentou, a marca também buscou referência nos anos 50, com hot pants, croppeds, saia patinadora e cintura marcada. Tudo bem colorido e mostrado em corpos bronzeados. Por que é verão!

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Carvalho Bambu

Minimalismo é a palavra que define a coleção de verão da marca. Basicamente em preto, branco e dourado, os pontos de cor foram marcados por amarelo e azul, que vieram em maxi estampas gráficas e florais. Prevaleceram modelos retos e clean, nos quais a sensualidade feminina é apresentada pelas transparências, pelas fendas e pelos decotes. O contraponto nessa linha formal? As formas lady like, com cintura marcada e saia evasê. A Carvalho Bambu apostou no “menos é mais”, e colocou na passarela looks clássicos em tecidos de renda, couro ecológico e malhas de jérseis.

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Empório Nacional

A alfaiataria resort da marca teve como inspiração a Espanha. Modelos soltos e confortáveis passavam a leveza da estação, que também pôde ser percebida a partir da utilização de fibras naturais nas peças, como o linho, o algodão. As estampas não tiveram grande destaque na coleção, já que a Empório Nacional apostou principalmente em bordados discretos. Na cartela de cores o branco foi o grande coringa, permeado por tons claros de vermelho, azul e amarelo.

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Marcí

Em torno do tema “Arte na superfície”, a marca buscou influências de Paris, Milão e Barcelona para elaborar sua coleção. As peças foram construídas com a técnica de moulage, onde são elaboradas diretamente no manequim. O caimento e o acabamento são, então, aprimorados. A coleção não foi básica. Um dos grandes destaques do desfile da Marcí, as estampas ficaram por conta da artista plástica Bianca Romano, que retratou draisines, um tipo de bicicleta francesa. As cores quentes e vivas também chamaram a atenção, prevalecendo os tons de laranja, de turquesa e o contraste entre o preto e o branco.

Seda, linho e guipir coloridos tomaram conta da passarela, extravasando delicadamente a energia do verão. Os babados foram constantes nos looks, assim como as rendas – uma das marcas registradas de Marcí -, que apareceram até em peças de alfaiataria. No comprimento, os mídis e longos ganharam força, vindo em saias, vestidos e macacões, e a cintura marcada reforça a essência feminina da marca.

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Konyk

O desfile de moda masculina de maior destaque trouxe à passarela o ator Joaquim Lopes. Com a temática “Al mare”, a Konyk apresentou âncoras, nós de marinheiro e o movimento das marés, que vieram em estampas (algumas pintadas à mão), acessórios e acabamentos, tudo remetendo ao contexto náutico. As listras, que também são associadas às atividades marinhas, estiveram bem presentes na coleção. A cartela de cores ficou por conta de tons como o branco, o areia, o amarelo, o marinho e as variações de azul.

A Konyk conseguiu elaborou sua moda praia sem que isso ofuscasse toda a coleção. Para conseguir o feito, trabalhou – muito bem – a alfaiataria, colocando-a em um contexto moderno e adequado para o verão, seja na modelagem, seja nos tecidos. Aliás, a marca usou materiais já conhecidos, mas em releituras interessantes: o linho, que dominou a coleção, foi tinturado, e o jeans ganhou versões resinadas e sublimadas, de modo que as estampas no denim criaram um resultado incrível. As malhas também ganharam fibras de linho e de denim, valorizando as peças. Nas calças e nas bermudas, a modelagem reta foi a mais vista na passarela da marca, mas o comprimento da barra subiu poucos centímetros, ficando acima do tornozelo (quando nas calças) ou do joelho (nas bermudas). As sungas, por sua vez, ficaram mais largas, seguindo a modelagem boxer.

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Missbella

Como se fosse o mar, a passarela refletia o pôr-do-sol projetado ao fundo. O clima tropical e contagiante do Havaí foi a inspiração para a coleção da Missbella, que apostou forte em estampas florais e de paisagens e em cores vivas, como o laranja, o azul e o verde cítrico. Com looks alegres e jovens, a franjas ganharam bastante força, assim como os babados e as transparências, conferindo mais movimento e leveza nas peças.

Combinado com shorts ou saias, o top cropped garantiu mais uma vez seu lugar ao sol na próxima temporada, mostrando os corpos bronzeados. Os quimonos e maxi cardigãs deixavam a pele à mostra por meio de fendas, decotes e transparências. E num embalo retrô, os looks ganharam cintura levemente mais alta, modelos soltos e comprimentos mídis. A Missbella trouxe para a passarela o novo galã Chay Suede, que é de Vitória e faz parte do elenco da novela Império, da Rede Globo. Não faltaram suspiros pelo ator.

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Illusyon

A batida de “Team”, da cantora Lorde, foi a trilha para que a Illusyon, que está há 15 anos no mercado, mostrasse seu já conhecido jeanswear. O tema da temporada foi “Be Fresh. Be Jeans”, a partir do qual a marca apresentou diversas lavagens. A Miss Brasil 2010 Débora Lyra abriu o desfile com um conjunto jeans de colete e calça bastante rasgada, e o fechou com o mesmo modelo, mas numa lavagem diferente.

Para o alto verão, a marca apresentou peças com tecidos mais leves e fluidos, lavagens claras e bastantes aplicações nos acabamentos, como tachas, pérolas e metais. Não faltaram na passarela looks total jeans, que apareceram em tops croppeds combinado com shorts e saias curtos, jardineiras (uma das apostas da marca) e macacões.

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PK Premium

“Romance selvagem” foi o tema da coleção da marca, que investe sobretudo nos bottons. A PK apostou na leveza dos tops, usando tecidos como chifon e seda, em contraponto com jeans e sarja destroyeds, usados na parte de baixo. As franjas e os quimonos também foram presenças unânimes no desfile da marca, aparecendo tanto nas roupas quanto nos acessórios. Não faltaram, também, decotes. Transparências, bordados e aplicações nas peças.

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Base Nuclear

Ao som de The Strokes e The Killers, a marca apresentou sarjas coloridas e jeans claros – algumas vezes até brancos. As estampas vivas (destaque para o animal print) da Base deram às peças a vivacidade do verão, e as transparências apresentadas em tecidos acetinados e sedas deixaram os look ainda mais leves. A barriga ficou à mostra com o uso de tops e croppeds, e os acessórios ganharam o formato maxi.

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Verônica Santolini

Com estampas inspiradas no litoral brasileiro e na própria energia do verão, a moda praia de Verônica Santolini veio bem tropical nesta temporada. Embaladas por versões lounges de “Welcome to the jungle” e “It’s so easy” (ambas do Guns N’ Roses), as modelos desfilaram biquínis com a cintura um pouco mais alta, evidenciado pelo uso de hot pants, que ganhou destaque na temporada. Não ficaram de fora, entretanto, os modelos tão brasileiros fio-dental e com babados. Apresentadas em tules, chifons e fluitys, as saídas de praia tomaram formas confortáveis, bastantes fluidas e com fendas.

Para os homens, o modelo boxer de sungas de praia é o must da temporada. Mais largo, confere conforto para eles, e, para ficar consoante com a estação, a marca apostou em estampas vivas e coloridas.

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Puro Luxo

Com apenas dois anos de mercado, a Puro Luxo colocou o samba chic na passarela e apresentou uma coleção lindamente feminina e refinada. Num desfile muito bem coeso, a marca foi do movimento do verão à alfaiataria estruturada sem perder a tropicalidade. Sedas e tecidos leves se equilibraram com peças mais estruturadas, as quais foram apresentadas principalmente em tafetá – sim, para usar à luz do dia! O tule ganhou destaque especial por meio de releituras modernas e diferentes do que vinha sendo visto em outras temporadas. As estampas somam fauna e flora e resultam numa experiência visual interessante, sobretudo pela evidência em cores como o azul claro, verde claro e o off white.

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Hagaef

Com um conceito baseado na sinestesia, a Hagaef buscou o sexto sentido para apresentar sua coleção Verão 2015. O desfile foi bem conceitual e foram mostradas peças muito estampadas (principalmente com grafismos), amplas e em jérseis esvoaçantes. Parte da coleção tinha uma pegada mais 70’s, com comprimento mídi, mangas amplas e modelos soltos. A marca é bem conhecida por seu trabalho em estamparia digital, o que ficou evidente no desfile.

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Ivan Aguilar

Conhecido por sua impecável alfaiataria masculina, Ivan Aguilar reapresentou sua primeira coleção feminina, que já havia sido mostrada na semana de moda de Nova York, incorporando a ela peças novas e mais leves. Feitas em tecidos nobres, que vão do jacquard à seda, do couro trabalhado à mão à tweed, o estilista usou técnicas de alfaiataria para elaborar os looks, que seguem um padrão de alto nível. Ivan trabalhou formas bem estruturadas, mas sem perder a feminilidade, e as golas chamavam a atenção pelo volume.

Apresentados numa sequência dégradé, prevaleceram tons sóbrios, do off  white ao preto, passando pelo nude, pelos metalizados em tons esverdeados e pelo dourado. A inspiração para as peças (permitam-me elogiar mais uma vez) maravilhosas veio da arte barroca, da arquitetura de Gaudí e dos metais preciosos encontrados no Brasil. A cintura marcada e o cumprimento curto valorizam as formas femininas, mas Aguilar foi além e deu aos looks sofisticação.

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