Um papo com José Fernando Bello, presidente da CICB, sobre as inovações e lucros do couro no Brasil: “Somos um referencial em todo o mundo”


À frente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil, o presidente tem particidado, em parceria com a Assintecal, do Fórum de Inspirações, que apresenta as novidades da matéria-prima para o setor de componentes, e ainda toca projetos como a Blitz Lei do Couro, o Usamos Couro e o Preview do Couro, que valorizam, regularizam e visibilizam o material em todo o território brasileiro

Depois de quase quatro meses percorrendo os principais polos têxteis do país, o Fórum de Inspirações Verão 2017, projeto desenvolvido pelo Núcleo de Design da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro Calçados e Artefatos (Assintecal), comandado pelo estilista Walter Rodrigues, em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que tem como objetivo antecipar as principais tendências da indústria de componentes para as próximas estações, chega ao fim de sua rota pelo território nacional. E, como nos conta com exclusividade José Fernando Bello, o presidente executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), o resultado não poderia ser mais positivo: “Neste ano, mais uma vez, o projeto não apenas surpreendeu ao abordar couros, peles, tecidos e materiais diferenciados, mas por reunir expressivo número de profissionais ligados à moda, design e estilo em cada uma de suas apresentações, que, aliás, ocorreram em cidades dos mais diversos estados do país. Esta é uma iniciativa merecedora de muitos elogios, já que se propõe a extrair o melhor, a explorar a criatividade e a capacidade de inovação dos fornecedores de matéria-prima para a indústria da moda”, comenta.

 

José Fernando Bello é o presidente executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil e falou com HT sobre a importância e valorização do couro nacional (Foto: Zé Roberto Muniz | Divulgação)

José Fernando Bello é o presidente executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil e falou com HT sobre a importância e valorização do couro nacional (Foto: Zé Roberto Muniz | Divulgação)

À frente do órgão, José Fernando tem desenvolvido um trabalho minucioso quanto à promoção e informação do verdadeiro couro nacional, através de projetos inéditos em todo o mundo, como a Blitz Lei do Couro e o Usamos Couro. O primeiro tem como base a Lei 4.888/65, que proíbe a nomenclatura de qualquer material como “couro”, exceto aqueles de origem 100% animal, para encontrar e denunciar estabelecimentos que enganem o consumidor durante a venda do produto. O segundo, por sua vez, é desenvolvido como uma forma de promoção dos principais agentes da indústria criativa que utilizam o couro original em suas peças.

“Com respaldo legal, realizamos idas a lojas e shoppings para verificarmos a forma como anunciam seus produtos. Termos como ‘couro ecológico’ e ‘couro sintético’, por exemplo, infringem a lei. Ainda que a determinação legal preveja detenção ou multa aos infratores, o projeto Blitz Lei do Couro tem caráter educativo. Lojistas, consumidores e empresários são orientados sobre a existência da lei para que mudem etiquetas, cartazes e as formas de se referirem a produtos não-couro”, explica José Fernando.

Neste mês, a Lei do Couro completa 50 anos, e como o presidente comenta, seu desempenho tem sido primordial na luta contra a divulgação enganosa do material: “Ela tem se mostrado um instrumento extremamente válido na defesa da matéria-prima no Brasil, sendo, aliás, um referencial para o mundo. Em geral, empresários, lojistas e consumidores brasileiros desconhecem a legislação, porém, quando informados sobre a existência da lei, costumam aderir à ideia e também passam a defender o couro – material que então assimilam como realmente diferenciado. O CICB entende que, ao ter respaldo na lei, pode seguir trabalhando pela valorização do couro no Brasil e, quem sabe, no mundo”, conta, anunciando que as blitzes já foram realizadas em mais de 16 mil estabelecimentos, nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Mato Grosso, Goiás, Santa Catatrina e Rio Grande do Sul.

É preciso frisar que o cuidado com o uso e divulgação do couro nacional não passa de mero capricho, mas sim uma forma essencial de manutenção de grande agente da economia brasileira. Apenas em 2015, o rendimento que o material gerou ao país ficou na média de U$ 2,5 bilhões, com projeções ainda mais positivas para o próximo ano, que preveem um crescimento no lucro produzido pelo setor. “A expectativa é que em 2016 a indústria retome gradualmente suas remessas e ultrapasse os valores atingidos neste ano”, comenta José Fernando, completando que o Brasil está entre os três principais player do couro no planeta.

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A parceria da CICB com a Assintecal no que diz respeito à preservação e promoção do material tem se desenvolvido nos mais diferentes espectros da indústria, dando todo o apoio e informação para que os agentes da indústria se sintam seguros e cientes de tudo relacionado ao couro brasileiro. Em um pioneirismo surpreendente, foi lançado ainda este ano o primeiro Índice CICB-Assintecal de Produção do Couro no país, estudo sobre a indústria, cujo objetivo é o de auxiliar as empresas com dados que sirvam de parâmetro para a expansão das mesmas no setor.

Outro ponto primordial que é abordado pela parceria entre os órgãos é o impacto ambiental que a produção de couro pode gerar no país. Apesar de 90% da indústria incluir o tema entre seus planejamentos, ainda foi desenvolvida a Certificação de Sustentabilidade do Couro Brasileiro (CSCB), a primeira certificação em nível global a trazer em um documento parâmetros econômicos, ambientais e de responsabilidade social, que conta com o respaldo do Inmetro e tem como objetivo assegurar aos compradores que o couro que negociam é fabricado considerando critérios que sinalizam uma produção equilibrada com meio ambiente e comunidade. “Os curtumes são um dos segmentos industriais mais monitorados e fiscalizados, sobretudo por órgãos ambientais. Em 80% das fábricas, a água empregada no processo de fabricação é quase totalmente reutilizada. Vale lembrar ainda que a produção coureira é, em si, uma atividade sustentável – ao retirar da natureza cerca de 8 milhões de toneladas de peles que seriam resíduos se não fossem aproveitadas, o setor se configura como um ramo sustentável e que, na verdade, contribui para o equilíbrio ambiental”, avalia José Fernando.

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Apesar de o trabalho desenvolvido pelo Fórum de Inspirações ter chegado ao fim, por ora, o resultado obtido com as palestras e seminários será apresentado no Inspiramais – Salão de Design e Inovação de Materiais, que ocupará o Shopping Frei Caneca, em São Paulo, nos dias 11 e 12 de janeiro. No evento, produtores, jornalistas, estudantes e todos os apaixonados por moda poderão conferir as principais tendências de produtos para a próxima estação. Dentre os projeto que serão apresentados na plataforma, o Preview do Couro Inverno 2017  abordará as novidades desenvolvidas em bolsas, sapatos, acessórios e roupas, que posteriormente serão absorvidas pela indústria.

“O Preview do Couro é uma antecipação muito precisa das inspirações que serão absorvidas por couros e peles temporadas à frente. Fornecedores de matéria-prima à indústria da moda devem estar sempre atentos às tendências futuras, antes mesmo de estilistas e designers, já que seus materiais irão revestir calçados, bolsas, acessórios e roupas que ainda estão por ser criados. Para a próxima edição 18 curtumes desenvolveram artigos surpreendentes, todos orientados por profissionais de pesquisa e desenvolvimento”, esclarece José Fernando, frisando ainda que o Brasil está em posição de destaque quanto à matéria-prima. “Os couros e peles brasileiros hoje são destaque mundial em termos de design e inovação. Nosso produto é arrojado. Cores, texturas e mesclas diferenciadas imprimem um pouco da irreverência do país às peças”.

Um dos projetos também apoiados pela CICB e que evidencia ainda mais esse aspecto revolucionário do uso do couro nos produtos brasileiros é o “Design na Pele”, ação que mostramos aqui e aproxima alguns dos maiores estilistas do país, como Ronaldo Fraga e Heloisa Crocco, dos curtumes nacionais. Com tamanho empenho, respaldo e compromisso com o couro produzido no país, não é surpresa nenhuma que José Fernando Bello conclua: “O Brasil é, por si só, um referencial no panorama mundial do couro”. E ainda bem que nós temos a dupla Assintecal + CICB para continuarmos assim.