SPFWN45 – Batalha de dança, comunidade autossuficiente e novos talentos invadem a passarela no #Day3 da São Paulo Fashion Week


Enquanto Fernanda Yamamoto se inspirou na sustentabilidade da comunidade agrícola Yuba, a Memo, de Patrícia Birman, levou uma batalha de dança divertida à passarela do evento.

SPFWN45 - Desfile Amir Slama (foto: Henrique Fonseca)

*Por Karina Kuperman

O terceiro dia de desfiles da São Paulo Fashion Week começou com ninguém menos do que Reinaldo Lourenço, que levou sua primavera-verão 2019 à um prédio recém-inaugurado na Rua Augusta com a Alameda Santos e apresentou uma coleção inspirada em obras cinematográficas. Em seguida, já no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque Ibirapuera, a Modem estreou com pé direito na semana de moda paulistana, seguida por Fernanda Yamamoto, que levou a comunidade agrícola autossuficiente Yuba à passarela, com direito à tecidos pintados a partir de pigmentos naturais. O projeto Top 5 apresentou ao mundo fashion os novos talentos Borana, do Espírito Santo, Kalline, de Santa Catarina, Karine Fouvry, do Rio de Janeiro, Led, de Minas Gerais, e Vankoke, do Rio Grande do Norte. Depois, Fabiana Milazzo tomou a passarela com sua moda cheia de glamour, inspirada pelo trabalho dos artesãos peruanos. A Memo foi além do formato-desfile e, em uma apresentação com direção criativa de Paulo Borges, propôs uma batalha de dança para mostrar sua coleção-cápsula com a colorida Isolda. Fechando o dia, Amir Slama levou à passarela um beachwear sofisticado, que vai muito além das areias. Vem com a gente!

Reinaldo Lourenço:
O rei da moda escolheu o recém-inaugurado edifício Santos Augusta, assinado por Isay Weinfeld, para apresentar sua primavera/verão 2019. O local, no cruzamento da Rua Augusta com Alameda Santos, dá sequência à tradição do estilista – mesmo há duas edições fora do evento – de desfilar sempre em prédios, conjuntos ou museus que são a cara de São Paulo. Para a coleção, Reinaldo inspirou-se nos longas “De olhos bem fechados”, de Stanley Kubrick, “Morte em Veneza”, de Luchino Visconti e “Sid e Nancy”, de Sid Vicious.

O resultado? Vestidos de inspiração vitoriana, peças brancas rendadas, longos pretos de seda, alfaiataria masculina, listras navy, camisaria, bordado inglês, xadrez, parkas, sobreposições, corsets e saias pregueadas tomaram a passarela, montada no último andar do prédio e desfilada quase que contra a luz de enormes janelões. Tecidos como chifon, crepe, tule, couro, renda, tricoline, seda e algodão e uma cartela com muito preto, off-white, creme, vermelho, amarelo, rosa, azul e prata resultaram em uma moda sofisticada que promete agradar todo tipo de mulher.

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Modem:
A marca de três anos estreou na passarela inspirada pelo Memphis Group e pelo artista austríaco Ettore Sottsass. De fato, a coleção de verão da grife – conhecida por sua conexão com design e arquitetura – teve um forte flerte com a arte através de uma alfaiataria limpa e estética “Organic Clean”. A desconstrução do Memphis Group ficou clara através de uma cartela de cores primárias e secundárias, com nuances de laranja, verde e rosa. Shapes fluidos, técnicas manuais, recortes inusitados, assimetrias e transparências deram o tom a uma coleção com influências do 3D e tecidos tecnológicos. Coletes alongados, saias, calças e bermudas foram enfeitadas com franjas e aplicações de botões metalizados. A linha de acessórios, ponto forte da Modem, trouxe a nova bolsa MODEM M2, pensada para o dia-a-dia da mulher, e a Camera Bag, com ilhoses que fazem alusão à lentes de câmeras, que veio python e diversas opções de cores e alças.

Os diretores criativos da marca, André Boffano e Samuel Santos, eram pura empolgação com a estreia. “Estamos bem animados, fizemos uma coleção bem redonda. Quisemos fazer uma coleção muito forte para essa estreia e é uma das mais coloridas da Modem”, disse André, endossado por Samuel: “Transitamos entre tricô, alfaiataria forte e um pouco do manual, que acreditamos muito. Hoje em dia, as clientes procuram coisas especiais, não industrializadas. É a primeira vez que trabalhamos bordados com resina, acetatos. Já o metal vem transitando em todas as coleções. Foi divertido usar matérias-primas novas”, afirmou. “Criamos um vocabulário único que foi o que nos fez estar aqui hoje. É uma recompensa e felicidade enormes representar nossa marca no SPFW e torcemos pra que seja cada vez melhor”.

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Fernanda Yamamoto:
Foi em uma comunidade chamada Yuba, a quase 600km de São Paulo, que Fernanda Yamamoto foi buscar a inspiração de seu verão 2019. O local, onde vivem descendentes de japoneses, é totalmente autossustentável. Por lá, a circulação de dinheiro sequer existe, tudo o que se consome é plantado ali e os moradores vivem em casas construídas por eles mesmos. “Essa comunidade é agrícola e vive da agricultura e das artes. Esse arco-íris de cores com tingimento natural é incrível. Na comunidade eles fazem de tudo”. De fato: em Yuba, a arte e o trabalho possuem o mesmo valor. A coleção de Fernanda, não poderia ser diferente, tem todos os tecidos tingidos por meio de um processo natural, em que ingredientes como cúrcuma, urucum, cascas de cebola, sementes de avocado, arroz negro, feijão, repolho roxo, spirulina e outros viraram pigmentos que deram o tom às peças.

A cartela de cores teve amarelo, laranja, terracota, rosé, lilás, verde petróleo, oliva, azul, salmão e outros. Para o casting, a estilista convidou moradores de Yuba, artistas, bailarinos, músicos e outros que se identificam com a filosofia yube e tem a arte presente em seu dia a dia. “Partimos de três formas geométricas, o retângulo, triângulo e círculo, para criar toda a coleção. Trouxemos muitos plissados e tricô manual”, disse a estilista.

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Top 5:
O projeto, que reuniu as grifes iniciantes Borana, do Espírito Santo, Kalline, de Santa Catarina, Karine Fouvry, do Rio de Janeiro, Led, de Minas Gerais, e Vankoke, do Rio Grande do Norte, vai além das passarelas. Esses pequenos negócios da indústria da moda brasileira foram selecionados para participar de uma iniciativa do Instituto Nacional de Moda e Design (IN-MOD) em parceria com o Sebrae Nacional, por meio do convênio “Contextualizar na Moda III”, voltado para construção e fortalecimento. A ideia é acompanhar, orientar e dar visibilidade aos iniciantes durante um ano. “Nosso principal objetivo é transformar essas empresas em cases de inspiração regionais e nacionais e motivar outros empreendedores a fazerem o mesmo dentro da indústria da moda”, disse Heloisa Menezes, diretora técnica do SEBRAE Nacional.

Cada empresa selecionada se sobressaiu por algum elemento. A Borana tem um forte apelo brasileiro, é leve e descontraída e tem a jovialidade como marca, enquanto a Kalline é uma empresa consolidada que se preocupa com a qualidade de seus produtos. A Led, por outro lado, mostra vocação para o design. Karine Foury também foca nas peças de design, mas se preocupa com o potencial de crescimento do setor de resort. Por último, a Vankoke, que tem estrutura e agilidade, tem como objetivo explorar caminhos mais autorais.

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Fabiana Milazzo:
Foi de uma viagem ao Peru que Fabiana tirou a inspiração para sua coleção . Mais especificamente nas comunidades locais das ilhas de Uros, do lago Titicaca, na cidade de Puno. Por lá, os trajes típicos coloridos e o artesanato local chamaram tanto a atenção da estilista que ela chegou a replicar, em algumas peças, a tapeçaria, mas ao avesso. “Toda a ideia da coleção veio dessa viagem e de tudo que observei por lá. Os trajes eram muito coloridos, vibrantes. A região do lago tem pessoas com hábitos muito tradicionais de cultura marcante, que valorizam trabalhos artesanais”, contou. Com essas referências, Fabiana Milazzo uniu seu know-how em handmade à novas propostas inspirada pelo que viu. Tecidos exclusivos, peças em fibras naturais como seda – feitas a partir da tecelagem sustentável “O Casulo Feliz”, sedas metalizadas, viscose, algodão e linho apareceram ao lado de tules, rendas, paetês e um tecido exclusivo com aspecto líquido.

Roupas fluidas e amplas contrastaram com estruturados, criando volumes diferentes. Decores de ombro só, ombro a ombro, V profundo e frente única, saias mini, midis, longos e godês, além de pantalonas largas, apareceram ao lado de blusas fluidas inspiradas em ponchos, shorts, macaquinhos, blazers, bodies e corselets. Peças bufantes, balonês e ombreiras complementaram a coleção, que também contou com muita assimetria.

Fabiana também trabalhou um ‘tricê’ oroginado de uma técnica própria que se assemelha à texturas e superfícies encontradas nas ilhas do Titicaca, quando a palha da taboa é trançada. Rosa, amarelo, lilás, verde, metalizados, off-white, bege e preto compuseram a cartela de cores da coleção. Fabiana focou também na sustentabilidade, através do projeto “Renovarte”, em que a estilista transformou pedaços de tecido que seriam descartados em peças artísticas que compuseram uma coleção-cápsula de 20 peças. “Consegui desenvolver uma técnica em que eu guardo retalhos e transformo em algo original. Quero fazer, cada vez mais, um trabalho de responsabilidade social e ambiental”, afirmou.

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Memo:
A marca de Patrícia Birman propôs um desfile completamente inusitado na São Paulo Fashion Week. A Memo apresentou uma disputa de dança performática inédita para mostrar sua coleção-cápsula em parceria com a Isolda, de Juju Ferreira e Maya Pope, que resultou em estampas inspiradas na flora brasileira, criadas a partir de folhas de bananeira. Sempre endossado pela marca, o movimento ultrapassou o conceito e, agora, permeia diversas frentes da marca, relacionando atitude e singularidade e trazendo formas e cores para a mulher moderna. Com direção criativa de ninguém menos que Paulo Borges, o desfile contou com o ritmo Vogue e teve curadoria e música assinadas por Félix Pimenta.

O ritmo, que surgiu nos anos 70, faz parte da comunidade Ballroom, majoritariamente negra e latina em Nova York, e a performance do show se apropriou de elementos que levantaram temas atuais como gênero e sexualidade. A sensualidade e referências afrodisíacas também apareceram na passarela da marca.

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Amir Slama:
A realeza foi à praia. É que o estilista Amir Slama se inspirou no Palácio Imperial de Petrópolis para desenvolver sseu beachwear que, sem sombra de dúvidas, pode ir para a rua e festas de luxo por todo o país. “Essa coleção tem como início o palácio de Petrópolis, principalmente as cores da arquitetura. Tenho formação em história então gosto muito de olhar o passado para pensar no desejo futuro. Pensei no Brasil daquela época, mais selvagem, então tem estampas assim, e vamos tropicalizando”, disse Amir.

Antes do desfile, sete jovens entraram na passarela para apresentar looks da parceria com a New Era, de bonés, e, em seguida, as modelos entraram na passarela para apresentar a coleção em si. Maiôs com babados e saias longas mostram que roupa de praia não é só para ser usada na areia. Em 52 looks – femininos e masculinos – Amir mostrou a sofisticação e a sensualidade brasileiras. “Vivemos verão o ano inteiro aqui no Brasil, né?”, disse o estilista.

Cores em tons naturais, preto, branco, rosa-velho e tons de verde – usado em estampas de folhagens tropicais, marcaram os looks. Biquínis de renda e bodies brancos transparentes contrastaram com os conjuntos pretos com detalhes de bichos como cobras e dragões. Tiras frontrais e pedraria garantiram sensualidade.

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