SPFW Inverno 16 #Day 2: da profusão só love de Ronaldo Fraga ao mergulho da Animale na arquitetura de Tadao Ando


O segundo dia foi animado no Pavilhão da Bienal. Por lá, HT se deparou com as modelos da Uma, de Raquel Davidowicz, cruzando a passarela com looks em tons de nude e metalizados, enquanto o misticismo e o luxo moderno nortearam a proposta Lilly Sarti

Esqueça toda a horizontalidade do Parque Villa-Lobos. No ano em que comemora 20 anos de história, a São Paulo Fashion Week regressou às rampas, curvas e colunas idealizadas por Oscar Niemeyer, do Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera. O local, onde a maior semana de moda da América Latina viveu seus tempos áureos, é uma nostalgia só para os fashionistas de plantão que lá chegaram por volta das 17h para acompanhar o segundo dia da maratona de desfiles com coleções para o Inverno 2016. Enquanto a Animale mergulhou nos traços do arquiteto japonês Tadao Ando e sugeriu pernas de fora para a estação mais fria do ano, Lilly Sarti usou e abusou do misticismo, Ronaldo Fraga lançou flechas da paixão em toda a sala de desfile, e a Uma|Raquel Davidowicz, com sua ventania fashion, balançou a tudo e tudos. Vem!

Animale

O som de pássaros e o enorme espelho no terceiro andar da Bienal, todo ocupado por bancos que seguiam as curvas sinuosas da arquitetura já transportavam os convidados ao universo híbrido do desfile da Animale. O estilista Vitorino Campos apresentou uma coleção inspirada na natureza, arte, arquitetura, e usou referências de elementos naturais como forma de expressão, que, misturados à inspiração dos traços do arquiteto japonês Tadao Ando e do artista modernista Robert Morris, resultou em peças com silhuetas que fazem uma sibiose entre os traços elaborados à mão e a leveza da flora e fauna. Como exemplos, os vestidinhos delicados combinados com peças de formas máxi, ombros largos e casacos de lã.

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Estampas pontuais sobre fundo branco, bordados de formas assimétricas e geométricas e materiais como seda, lã, couro, pele, tricô, veludo molhado e renda francesa fizeram um mix ousado e interessante, que continuou nos acessórios. As bolsas e sapatos também misturaram texturas e materiais. As botas e scarpins, aliás, tinham saltos de acrílico que lembravam os anos 90. Na paleta de cores, branco, preto e off-white contrastavam com tons de verde, rosa claro, cinza, amarelo e caramelo. A direção criativa foi assinada por Beth Nabuco e a direção do desfile ficou por conta de Zee Nunes.

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Beleza

Com direção de moda de Yasmine Sterea, o desfile contou com styling de Michael Vendola, make Fabiana Gomes, da MAC. Já os cabelos, assinados por Robert Estevão, levaram texturizador de fios. Tudo com leveza e naturalidade. A intenção da grife era apresentar uma beleza natural, onde todas as intervenções de maquiagem fossem sutis. Resultado? Teve de um um pouco: pó, base, corretivo, blush, boca, sobra, máscara, sobrancelha. Tudo com um detalhe: nada podia ser notado. As sombras, definidas com duas cores de lápis (uma mais clara e outra mais escura), dividiram a atenção com blush aplicado com pincel 184 e sobras que, antes de aplicadas no olho, passavam pelo pulso da expert Fabiana Gomes, e, só depois, eram aplicadas com pincéis bem macios. A grande sacada da make da Animale estava no efeito “saudinho” do rosto, para conferir um tom de naturalidade ao conjunto.

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Assista ao desfile na íntegra:

Uma|Raquel Davidowicz

Corroborando com a temática que já vem imprimindo em seus trabalhos, Raquel Davidowicz apresentou um desfile no qual a mobilidade urbana foi seu fio condutor. Batizada “Realidade Eclética”, a coleção provou por A + B que o comportamento das ruas reflete na gama cultural da sociedade. Looks versáteis em tons de nude e metálico brincavam com proporções, volumes e sobreposições. Raquel focou o olhar no universo urbano, refletiu a liberdade e a diversidade na passarela através da mescla de tecidos, como crepe de seda, moletons de textura emborrachada e malha suede. Os blusões descontruídos e assimétricos e bermudas e calças amplas davam o tom sportwear que, usados com casacos de lã e jaquetas matelassadas, tornaram-se looks streetwear. Entre os tons e tecidos neutros, a novidade fica por conta da estreia da loja em Nova York.

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Beleza

Como a ideia de Raquel Davidowicz era falar de mobilidade, a beleza aproveitou o blush como norte da maquiagem, já que as meninas da Uma estão sempre em movimento, com o cabelo volumoso, coradas, e com um leve batom como se a cor já tivesse saído da boca. Nas sobrancelhas, muito penteado acompanhando o movimento do cabelo, enquanto os cílios ficaram curvados e o iluminador deu o arremate final. Seguindo a mesma linha das roupas, o esmalte nude brilhoso nas mãos das modelos também chamou atenção.

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Assista ao desfile na íntegra

Ronaldo Fraga

Com uma coleção que teve como tema o amor, Ronaldo Fraga fez, como sempre, um desfile primoroso. Levou camas de casal para o centro da passarela e distribuiu maçãs do amor aos convidados. Na catwalk, um casal se despiu em uma performance lúdica da representação da paixão. As palavras de Ronaldo são contundentes. “Em tempos de guerra, falar de amor é um ato de subversão e resistência. Esta coleção desenha algumas das diferentes formas dessa escrita: busca em cor e formas as variadas faces desse assombro desestabilizador que tem nos seus efeitos a mágica de provocar incêndios em geleiras, de perder-se no encontro, de morrer de sede em alto-mar e o mais importante: de imprimir leveza a uma pluma no peso da existência. O amor dá pano pra mangas, pra vestido, pra ternos e para um guarda-roupa inteiro. Aqui, o mesmo amor que faz chorar ao som da música de novela, se embola ao amor arrebatador de uma sinfonia de Tchaikovsky. Deitado na cama com Terezinha do Chico Buarque e tendo como cartilha os poemas eróticos de Hilda Hilst. Nesse embolar de linhas o amor tece rendados enigmáticos, tramas em labirinto, bordados avassaladores. Doce ilusão acreditar que esse vai e vem de agulhas possa ser aprendido nos velhos manuais de pontos e bordados. Portanto, transformemos a razão em cifras musicais e resistamos a tempos áridos com os nossos corações de banana, de gelatina, de flores, de cactus….”.

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As peças em materiais como tule, seda – produzidas no Vale da Seda do Brasil, no Paraná -, jacquard e couro recortado a laser vieram estampadas com corações misturados com estampas florais. Além disso, as plantas foram um ponto alto no show e apareceram, também, em arranjos na cabeça dos modelos. Tramas, tiras, transparências para mulheres e homens, bordados, paetês e botas  marcaram o desfile. Tudo com muitos tons de vermelho, como não poderia deixar de ser. Afinal, estamos falando de amor.

Beleza

Inspirado em uma pensamento do artista cearense Leonilson, em que ele disse que “o amor nos faz enlouquecer”, Marcos Proença produziu a mulher de Ronaldo Fraga com muito amor, literalmente. O cabelo era podre e desfiado, já que, embarcando na viagem de Ronaldo, as mulheres da coleção amam e beijam muito. Alguns modelos usaram folhas secas na cabeça, como forma de arremate na parte traseira do cabelo, de forma a traduzir a história do amor eterno. Na pele, a base “efeito tensor” da linha UNA, da Natura, foi usada de forma natural, corrigida, enquanto um iluminador marmorizado deu as caras nas maçãs do rosto, e o batom vermelho 51 finalizou para dar um plus.

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Lilly Sarti

A estilista resolveu explorar o misticismo em peças estampadas com elementos como olho de Hórus e Cruz de Ansata. Os tecidos, bem mais leves do que o couro e a camurça habituais da marca, eram uma mistura de crepe, tule, chamois e jeans. A coleção, no geral, mesclou tons de vinho, azul, preto e cinza na cartela de cores. “A maioria das peças tem tecidos artesanais. Eu crio as tramas. Até juntá-las demorou pouco mais de um mês. Isso sem contar com a coloração feita posteriormente”, nos explicou Lilly, no backstage. Os recortes estratégicos e a alfaiataria deram o tom sofisticado sexy, enquanto os comprimentos no joelho, tricôs e saias longas garantiram o conforto.

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Na passarela, casting de tops como Aline Weber, Carol Ribeiro, Daiane Conterato, Isis Bataglia e a nova queridinha do mercado fashion Ari Westphal. E as estrelas não ficaram só no desfile. Na fila A, famosos como Tania Khalil, Manu Gavassi, Carol Celico, Yan Acioly e outros assistiram animados o lançamento da coleção.

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Beleza

Se a make natural já está com tudo, a beleza de Lilly Sarti assinada por Daniel Hernández comprova ainda mais o fato. Na busca pela cara lavada e sem a necessidade de esconder imperfeições, o maquiador usou um pincel molhado com sombra marrom para desenhar sardas fakes no rosto das modelos. A pedido da estilista, as modelos surgiram com ar fresh, leve e descontraído. O destaque ficou por conta da pele corada e, nos olhos, apenas umbrilho discreto de sombra cremosa. Para finalizar, lip balm nos lábios.


Assista ao desfile na íntegra