SPFW #2: Em dia que Gisele monopoliza atenções, João Pimenta prova que homem pode ser macho usando moda de ponta!


O estilista de moda masculina arrasou, em dia que apresentou boa moda de Reinaldo Lourenço, Lolitta, Giuliana Romanno e Colcci

Pai e filho da moda, o furacão Gisele na Colcci, duas estilistas que mantém seu espírito criativo em alta e um designer masculino que arrebenta a boca do balão. Teve de tudo no segundo dia da 38ª edição da São Paulo Fashion Week, em terça-feira (4/11) que primou pela virada de tempo e chuvas intensas do lado de fora da tenda em que está armado o circo da moda. Na cola da tal mulher globalizada e sem se entregar a qualquer arremedo étnico, Pedro Lourenço começa a maratona cumprindo mais uma etapa em seu périplo para encontrar o graal que consolide seu trabalho. Para ele, a pedra filosofal continua sendo o espírito urbano atemporal e, como o cavaleiro Percival que levou a vida inteira em busca do tal cálice sagrado, ele permanece querendo provar que é mais do que um enfant terrible nascido e criado no meio. Okay, o moço tem talento de sobra, mas seria loucura hoje em dia acreditar que seu trabalho está completamente edificado no mercado internacional e que ele já é presença firme nas multimarcas mundo afora. Por isso mesmo, nesta estação ele dá continuidade a um trabalho de formiguinha, mais comercial (como na temporada passada), apresentando looks que ficam no meio termo entre o conceito e a capacidade de venda. Novamente surpreende, em apresentação externa, no White Clube, com coleção em que brinca com códigos que lhe são caros, como o preto & branco, a tecnologia, trenchs em material futurista, comprimentos cropped que surgem de maneira inusitada e animal prints nada óbvios. Bem bacana, e a gente torce para vender feito água.

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Reinaldo Lourenço investe em mais uma cidade como fonte inspiracional para uma coleção, Depois de Paris e Londes, agora é a vez de Florença, e óbvio que ele foi direto na fonte: visitou o Museu Ufizzi e imergiu nas profundezas do Renascimento com um afinco que deixaria sobressaltado Pico Della Mirandola (1463-1494), o pensador que se tornou o principal teórico desse período artistico, teórico que se tornou alma do movimento, influenciando toda uma geração de artistas-emblema dessa fase, como Leonardo da Vinci e Michelangelo. Silhuetas secas, franjas, shapes marcados na cintura e calças de cós alto sinalizam uma maneira ímpar do designer de ver o Cinquecento, fugindo completamente do óbvio, mas dentro do seu repertório estilístico em conjunto que, quando visto, faz todo sentido.

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Mais uma vez, a Lolitta mostrou um belo trabalho em tricô. Dessa vez, saem as mulheres latinas da edição passada e entra a limpeza de linhas do Egito Antigo como ponto de partida para uma coleção seca, com formas alongadas que evocam a silhueta desta civilização, faixas amarradas na cintura que dão a tônica da indumentária inspiracional, tudo repleto de ótimas estampas geométricas em colorido quente que lembra a ambiência do norte da África. Portanto, desfile amarradinho que é uma beleza. Para arrematar o conjunto, passamanarias artesanais e transparências. E mais: a inspiração na joalheria egípcia, com suas formas estilizadas, se desdobra em aplicações de bordados e argolas de metal aplicadas, sofisticando mais ainda o trabalho de Lolita Zurita Hannud. No frigir dos ovos, o que se tem é uma série de, em sua maioria, vestidos com shapes bem resolvidos, adornados por jacquards gráficos que, apesar do tema da coleção, esbarram nas padronagens usadas na moda e na decoração durante a virada dos 1970. Uma beleza, pena que a escolha dos sapatos na montagem dos looks prejudicou o andar de várias modelos.

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Assim como Lolitta, Giuliana Romanno é outra estreante no line up da edição passada que mantém a qualidade de seu desfile de estreia nesta nova empreitada. Com coleção bonita, que tem como base algumas chemises brancas e decotes cache-coeur, ela começa bem, com looks com preto, cereja e bordô e boas modelagens midi do jeito que o corolário da moda atual pede, incluindo umas boas peças vazadas. Os macacões, por exemplo, impressionaram.

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Depois, João Pimenta realizou o melhor desfile até agora, apresentando moda masculina irretocável. É curioso ver que o estilista é muito bom, mas quando acerta para valer, é de arrasar! Com uma alfaiataria criativa e bem talhada como sempre, e aprimorando arroubos criativos que vem mostrando coleção após coleção, o designer foca na moda que pode gerar receita, sem se desvencilhar da originalidade, conciliando as duas coisas que lhe são sempre cobradas pelos experts. Peças do vestuário formal masculino que se desdobram ou se transformam em utilitários ganham destaque, ou simplesmente sobressaem aqueles ítens que vem do vocabulário formal, mas que recebem detalhamento sportswear, como paletós e calças sociais que têm a bossa dos bolsos utilitários. Okay, alguém pode até dizer que já viu essa proposta antes, em algum lugar do passado. Pode ser, mas nunca dessa forma. O amadurecimento de João é visível, e dá vontade de levar tudinho para casa, a começar pelos blasers que viram jardineiras. No mais, entre jacquards de águias, aplicações em brilho, oncinhas e camisetas rocker no meio das produções, efeitos de positivo & negativo e mix de padrões masculinos impressionam, como risca de giz, xadrezes e pied-de-poule capazes de deixar a primeira fila menos blasê que de costume e de queixo caído. No mais: sãom tudo de bom os trekkers e coturnos de cano altíssimo da linha que a marca cria em parceria com a West Coast. Queeeeero!

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Fechando a noite, a Colcci fez o estardalhaço de sempre, com Gisele levando fãs histéricos à loucura na plateia, todos duelando pra ver quem dispara mais clicks dos celulares, prontos para fazer a fina com as amigas, mostrando que tiveram acesso à exclusividade do desfile mais esperado pelo grande público, mesmo que momentos antes tenham se descabelado lá fora para conseguir seu lugar ao sol.

Folclores fashionistas à parte, mais uma vez a marca mostrou boa moda, dessa vez um exercício assumido de street style, celebrando o cosmopolitismo das grandes cidades ao redor do globo. Claro que, nessa vibe, o jeans não pode ficar de fora jamais, dessa vez mais do que nunca, mas é visível a preocupação de Adriana Zucco, no feminino, e Jeziel Moraes, no masculino, em oferecer belíssimas peças em alfaiataria em materiais  diferenciados que valorizam o conjunto da obra e dão substância a uma cartela de cores bonita. Nesse rumo, prevalecem também as peças de verve militarista, em influência dos 1960 e 1990, algo que anda no ar na moda atual. Boa maneira de encerrar a noite.

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