Ícone de estilo e vanguarda, Franca Sozzani, editora-chefe da “Vogue” italiana, morre aos 66 anos decorrente de um tipo raro de câncer


Figura influente no seleto universo fashion, ela estava à frente da revista desde 1988, quando deu início a uma nova era de inovação, criatividade e modernidade que mudaram os rumos da publicação

O badalado mundo da moda parou para se despedir de um ícone, nesta quinta-feira. Isso porque, a editora da “Vogue” italiana, Franca Sozzani, morreu aos 66 anos, em Milão, decorrente de complicações de uma doença que não foi revelada pela família, contra a qual lutava há cerca de um ano. De acordo com Suzy Menkes, que fez uma série de postagens no Instagram, Franca sofria de um tipo raro de câncer na pleura, membrana que reveste os pulmões. Figura influente, ela estava à frente da revista desde 1988, quando deu início a uma nova era de inovação, criatividade e modernidade que mudou os rumos da publicação. Formada em literatura e filosofia, Sozzani começou a dar seus primeiros passos na “Vogue Bambini” (edição dedicada às crianças), no entanto, foi efetivamente na “Vogue”, que se destacou pela irreverência e colaborações ousadas com figuras emblemáticas como Mario Testino, Paolo Roversi, Herb Ritts, Peter Lindbergh, Bruce Weber e Steven Meisel, colaboradores surpreendente e até chocantes para o mercado.

Franca Sozzani morre aos 66 anos (Foto: Divulgação)

Franca Sozzani morre aos 66 anos (Foto: Divulgação)

Em comunicado, a revista prestou suas últimas homenagens à talentosa mulher. “Franca foi uma das maiores editoras que uma revista poderia ter. Foi de longe a pessoa mais talentosa, influente e importante na organização Condé Nast Internacional. Ele fez Vogue Itália uma voz poderosa e influente no mundo moda e de publicação de fotografia, relatórios e imagens inovadoras. Fazer isso foi capaz de expandir a Vogue além do modelo tradicional de revista de moda e criou controvérsia com isso. Os maiores fotógrafos de moda olharam para Franca como um líder criativo que lhes deu a liberdade para produzir o seu melhor trabalho e assim o fez, mês a mês”, disse hoje em comunicado Jonathan Newhouse, presidente e CEO da editora.

Isso apenas reforça os motivos que levaram Franca Sozzani a receber o prêmio especial no último British Fashion Awards, em novembro, por sua colaboração para o mercado editorial. A coragem da jornalista em abordar questões sociais através da moda definiu sua trajetória e deu uma sacudida na revista que ela descrevia como um “catálogo de marcas” antes de sua chegada, há 28 anos. Com um olhar pioneiro no mundo fashion, foi a primeira a colocar Kim Kardashian nas páginas de uma “Vogue” e grande incentivadora na defesa das blogueiras, que anos mais tarde tomariam conta do terreno. Mesmo em tempos de crise para o jornalismo impresso, Sozzani conseguiu que a revista mantivesse suas vendas, enquanto acumulava, desde 1994, a direção da publicação com o cargo de diretora editorial da Condé Nast Itália.

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A tempo de conseguir homenagear a mãe ainda em vida, o filho da editora, o cineasta Francesco Carrozzini, concluiu um documentário sobre ela, intitulado “Franca: Chaos and Creation”, que foi apresentado no Festival de Veneza, em setembro. Na película, é possível conhecer um pouco sobre a vida e a trajetória profissional pelo olhar do diretor que viajou com a mãe por diversos lugares ao redor do mundo desde quando era pequeno. Na noite de exibição, o evento contou com a presença de designers, modelos, atores e muitas das pessoas que haviam trabalhado com Sozzani. Agora, além da sua contribuição para a moda, enquanto força criativa, Franca Sozzani também foi uma das embaixadoras das Nações Unidas e angariou fundos para as mais diversas causas de solidariedade ao longo dos últimos anos.

Anna Wintour, diretora da “Vogue” britânica, escreveu uma carta de despedida emocionante para a colega de trabalho, que também era considerada como amiga pessoal. “Franca era afetiva, inteligente, engraçada, e muito confiável. Ela também foi a pessoa mais trabalhadora. Fazia com que tudo parecesse fácil, independentemente de ser um evento de milhares de pessoas, uma viagem de à África para apoiar designers emergentes do continente, ou a criação de mais uma questão de interesse jornalístico, provocador e absolutamente fascinante”, escreveu.

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Em outro trecho, ela comentou sobre o estado de saúde de Franca. “Depois que ela ficou doente, comecei a visitá-la em sua casa em Milão. Sua mente e espírito se mantiveram altivos, enquanto discutimos todos os tópicos sob o sol, desde a queda de Matteo Renzi, seu incrível trabalho com mulheres em Gana e até o romance de nossos filhos. Voamos juntos para Londres, onde recebeu o Fashion Awards. Ela estava respirando com ajuda de oxigênio, mas decidiu estar lá pessoalmente, e ela quis se sentar no palco, dando o mais charmoso e humilde discurso de agradecimento”, recordou ela, completando com um desfecho emocionado.

“A última vez que a via, estava deitada em uma cama de hospital, frágil como uma pena, lembrando-se do grande caso de amor de seus pais, como seu pai voltava para almoçar todos os dias e como sua mãe ficaria acordada de madrugada para ler todos os jornais, e destacava quaisquer artigos de interesse particular, antes de organizá-los ordenadamente e coloca-los sobre a mesa do café da manhã. Eu estava usando um pequeno relógio que Franca tinha me dado em celebração de nossa amizade”, finalizou.