Cores vivas, Madonna, “Boogie Oogie”, Marc Jacobs e até a amante-lolita de Marina Ruy Barbosa em “Império”: tudo sobre lingerie!


Da Fevest às novelas da Globo, já não basta mais emular o fetiche: na moda do novo underwear, grifes seduzem consumidoras pelo revival dos anos 1990!

“Não existe pecado do lado de baixo do Equador. Vamos fazer um pecado, rasgado suado, a todo vapor…” Não, o repórter não se refere à emblemática canção de um Ney Matogrosso vestido com figurino pervie em música intimamente associada ao caráter erótico da roupa de baixo, mas à alegria quase pueril e à leitura de moda que agora parecem ter dominado as coleções de lingerie, expurgando os delitos da libido justo naquela linha fina que divide o visível daquilo que se esconde (ou nem tanto) sob blusas, camisetas, saias e calças jeans. Basta considerar as novidades apresentadas ao público nestas últimas semanas. Peças de inspiração na grande moda e gamas fortes, como  laranja, abricó, coral, azul klein, turquesa, amarelo, pink, verde alface, uva e roxo, fortes tomaram de assalto as vitrines, a começar pela 24ª edição da FEVESTFeira Brasileira de Moda Íntima, Praia, Fitness e Matéria-Prima – principal plataforma de lançamentos do setor, que aconteceu no início do mês em Nova Friburgo, RJ, com com 90 marcas participantes, cerca de 10, 5 mil visitantes e o patamar de R$48 milhões negociados.

Não que as cores que fazem parte do vocabulário sexy do segmento, não tenham comparecido nas coleções. Pelo contrário. Modelos em preto (perversão proibida), branco (pureza e virgindade), vermelho (paixão & volúpia) e nude (o conforto da pele macia) continuam vendendo sim (e muito!), ainda tendo seu lugar cativo nas cartelas, chova ou faça sol, a temperatura esquente ou esfrie. Mas, agora, elas parecem dividir o pedaço com outras nuances, provando que, de algum tempo para cá, o joie de vivre está competindo lado a lado com o fetiche. Sim, o mulherio aloprou, e as cores vivas – para calcinhas, sutiãs e afins – estão na ordem do dia entre as preferências.

Para a consultora de vendas Gabriela Portugal, do departamento comercial da De Chelles, um dos maiores expositores da FEVEST, o segmento redescobriu o lúdico através das cores: “Estava muito chato o underwear batendo sempre na mesma tecla, com pouquíssimas variações. Como é preciso dar vazão ao conforto, não dá para pirar em materiais e as novidades que surgiram nos últimos anos em termos de matérias-primas já estão aí há algum tempo, o caminho foi partir para uma amplitude maior na cartela de cores e estampas. O mulherio tem adorado”, afirma, ressaltando que a renovação começou antes pela ênfase no animal print, que continua fortíssimo, mas que agora não é o único ponto de escapismo para uma lingerie mais antenada com a moda. “Além disso, nossos corselets, assinatura da marca dentro do espírito da sedução, continuam presentes, mas demos destaque maior nessa temporada aos bodies”, completa. Glaucia Marques, responsável pelas vendas da Leluc no evento, concorda: “Body é o que mais sai”.

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Fotos: Divulgação

De fato, nos últimos tempos, cadeias de lojas de underwear feminino como a Loungerie se espalharam pelo país, pondo o setor em evidência. A pesquisadora de moda Mey Leng acredita que a ligação entre moda e mercado íntimo vai se intensificar: “Existe, claro, o legado da lingerie fashion, de marcas internacionais fortes como a Victoria’s Secret, que fazem estardalhaço na mídia com suas novidades e investem em moda para vender conforto e praticidade. Mas acho bem significativa a presença da roupa íntima em um dos últimos desfile de Marc Jacobs à frente da Louis Vuitton, aquele do outono-inverno 13/14 em que as mulheres saíam de portas. Ali é o ponto de partida para esse boom, inclusive do body e do vestido de alcinha, que andam fazendo o maior sucesso”. Para a profissional da área, o primeiro eco dessa aceitação foi “o top cropped com alcinha e pegada de underwear que compareceu direto em muitas coleções, com Alexandre Herchcovitch aqui no Brasil fazendo uma linha inteira em parceria com a Loungerie”.


Desfile Louis Vuitton fall winter 2013/2014 (Divulgação)  

Faz sentido, e não é à toa que as lojas de departamentos ampliaram as seções desse tipo de produto. Até a Marisa passou a ter filiais específicas só para o segmento nos últimos dois anos. Soma-se a isso, aqui no Brasil, os kits de final de ano com calcinhas em cores que evocam aquilo que se pretende obter com o ano vindouro, lançados até pro grifes de moda teen, a supremacia da família de cores do rosa Barbie dando as cartas entre o mulherio de várias faixas etárias e, recentemente, a Copa. “Não faltou quem apostasse em itens nas cores da bandeira do Brasil, como a Del Rey e Hope”, afirma Mey, ressaltando que, na moda, as engrenagens caminham em sintonia: “Estamos em um momento em que se revisita o início dos  anos 1990, então aquela levada da lingerie outerwear, cujo símbolos máximos são Neneh Cherry e a Madonna de “Blondie Ambition”, by Jean-Paul Gaultier. Época em que também se fazia releitura das pin ups cinquentistas. Isso sem falar agora na novela “Império”, com a amante do Comendador, interpretada por Marina Ruy Barbosa, prato cheio para a indústria do setor faturar”.

Nessa associação com a moda da televisão, Patricia Navega, sócia-proprietária e estilista da Patner, acentua a observação de Mey: “A moda que está na televisão é forte e influencia. Não dá pra não considerar. Além das minhas peças com certo tempero sadô e do colorido forte, inclusive do animal print em cores vivas, criei essa linha com brilho e prata que vai na esteira de ‘Boogie Oogie’ e da reapresentação de ‘Dancing Days’. Tá arrebentando”.

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Na FEVEST, os desfiles apresentaram o corolário dos anos 1950/1990 sob a forma de hot pants, brassieres, bodies com costas cavadíssimas, tops cropped corsetados e a presença maciça de bojo armados imprimindo o “Madonna style”, amplificado por laços e laçarotes que acentuam a levada boudoir que tanto inspira lançamentos de perfumes e a imagem de ícones do universo pop. Marilene Bayer, da Mary’s Lene Lingerie, outro expositor que investe pesado na moda para lançar seu underwear, é categórica: “Não dá mais para fazer o feijão com arroz. A clientela quer bossa, e não uma moda íntima qualquer”. Ela destaca, junto com as peças lisas em cores adocicadas, a importância de modelos com prints de póas, “um must que não sai mais de moda”. Chega a ser curiosa a insistência das dots nesse segmento, quando em feiras de acessórios, como a Francal, as bolinhas se mostraram um fracasso. Evidência de que a sensualidade de ícones de inspiração cinquentista, tipo Bettie Page, se relaciona com as últimas tendências. Gustavo Tienne, proprietário da Astienne Confecções, faz coro com Marilene: “Só estou vendendo coisa nova, diferente. As cores cítricas são o que há, com essa cara de utilitários em plástico dos anos 1950”. Pelo andar da carruagem e com a crise na moda em geral, é possível esperar então a mulherada fazendo mais sucesso entre quatro paredes do que nos badalos sociais.

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Confira as fotos dos desfiles na FEVEST (Divulgação)

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