Rosilane Jardim e sua Karamello mostram que é tempo de conjugar economia participativa com sustentabilidade e fazer o diferencial!


A marca, com 13 lojas no Rio, nasceu em plena crise existencial da moda. Por isso, não se abala com a recessão da economia brasileira e mostra que “a proposta é oferecer algo especial”

* Com Junior de Paula

No dicionário, crise quer dizer uma “conjuntura perigosa, situação anormal e grave”, ocorrida em “momento decisivo” e quando na esfera política indica a situação de “um governo que se defronta com sérias dificuldades para se manter no poder”. As definições, nunca tão necessárias para se entender o momento em que se passa o Brasil – política e economicamente -, ajudam a compreender o momento delicado pelo qual o país está passando. Mas tem gente por aí que consegue enxergar novos caminhos e um novo momento na hora de tomar decisões e que continua fazendo a roda da economia girar a rápidas engrenagens usando criatividade e reinvenção. Um bom exemplo dessa postura na cena fashion é a Karamello, grife carioca sob a batuta de Rosilane Jardim, que já ouviu muito o termo “crise”, mas, ao contrário da maioria, não sente arrepio nenhum.

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Rosilane é a mente pensante por trás das 13 lojas da Karamello no Rio | Foto: Reprodução

E a explicação para esse, digamos, escudo, vêm desde o começo da grife, há cerca de 10 anos. A Karamello surgiu no que Rosilane, a coordenadora de estilo e dona da marca, gosta de chamar de crise existencial da moda. “Percebemos buracos deixados por marcas já existentes no mercado e nos apropriamos do nosso espaço”. Lugar esse em que encontrou um nicho até então órfão na moda da urbe-maravilha. “E, hoje, entendemos que o maior patrimônio é a nossa consumidora. Prestamos mais atenção aos desejos e anseios dessa mulher”, deixou claro.

Mas, e que mulher é essa? “A mulher Karamello não compra por impulso. Ela sabe o que precisa ou não ter. Nosso lifestyle é conectado com a natureza e sua valorização”. O que também, não podemos deixar de citar, não evita uma retração no consumo. Mas é aí que entra o diferencial de quem sobrevive a essa maré de ondas fortes. “O especial não vive crise. Nossa proposta é oferecer algo especial. Crises significam mudanças e nem sempre mudança é algo negativo. Muitas vezes esquecemos de olhar para dentro dos nossos negócios e enxergar nossas falhas e aonde devemos acertar”, ensinou.

E quando Rosilane Jardim falou na ideia de “oferecer algo especial” não estava frisando da boca para fora. Como a Karamello trabalha “o varejo da oportunidade”, se afastando do fast fashion, há espaço para conjugar economia participativa com sustentabilidade na entrega das peças. “Estamos caminhando para ações cada vez mais pautadas na sustentabilidade. Geramos emprego na cadeia têxtil que tem sua participação na poluição do mundo, mas, em contrapartida, abrimos lojas cada vez mais próximas das pessoas e diminuindo longos trajetos com transportes”, exemplificou, fazendo uma grata previsão de como será o futuro: “Aproximar as pessoas dos seus desejos”.

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A Karamello, sob os olhares de Rosilane, produz 50% internamente e controla mais de 220 funcionários | Foto: Reprodução

Aliás, falando em desejo, o lado social da marca tem um em especial: dar fim às carências que rondam a nossa sociedade e deixam muitos à margem do processo. “Às vezes, são carências afetivas ou algo material. Temos o dever de retribuir de alguma forma o que a vida nos deu”, aconselhou Rosilane, que, através da Karamello, mantém parcerias sociais, como a realizada com a Saúde Criança, ONG que busca reestruturar famílias de crianças em risco social. Reflexo do que a Karamello, em sua essência não só fashion, mas social, deseja para o mundo ideal. “O mundo precisa de amor. Se temos a capacidade de amar pessoas, animais, a natureza, podemos construir um lugar melhor para viver”, refletiu.

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A coordenadora de estilo durante viagem ao Nordeste, quando levou seu staff em busca de registrar in loco as características tão especiais do nosso país | Foto: Reprodução

Todo esse papo, que aponta para uma necessária ruptura social, acaba por respingar – felizmente! – na verve fashion da Karamello. Como Rosilane bem já nos confidenciou em conversa recente, a atual coleção – inspirada na beleza natural das mulheres e do Brasil – nasceu de um olhar diferente para os tempos de excessos em que vivemos. “Eu vejo beleza nas coisas simples, que sempre me atraem mais. Pessoas, lugares, objetos com linhas mais simples me despertam mais a atenção. E a beleza natural é isso. A leveza que podemos ter, a energia e a sinergia que trocamos com pessoas e com a natureza. Beleza não está na imagem que passamos, mas na essência que devemos ter”.

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Por isso ela desembarcou no sertão nordestino para apostar no handmade, no artesanal, nas misturas, no branco total e em produtos com a alfaiataria mais marcante. A Karamello, atualmente, é a perfeita simbiose entre o filosófico, o necessário, o criativo e o luxuoso – na medida certa. Reflexo da mudança do comportamento da consumidora brasileira desde a criação da marca, há quase uma década. “A brasileira quer viver todas as possibilidades e ela quer tudo isso com qualidade, seja na moda, na gastronomia ou em viagens. E não falo isso relacionando a classes sociais. Falo com relação a informação, que é veloz. A internet mudou o mundo”. E a Karamello está no mesmo caminho.