Com a saída do pirado Marco Zanini na ressuscitada Maison Schiaparelli, está aberta a temporada de caça à originalidade!


Depois do vendaval, promessa de novo sopro na casa da mais artista de todos os fashion designers. Missão quase impossível: encontrar o herdeiro criativo daquela que foi unha e carne com gente tipo Salvador Dalí, do tipo que não transforme o surrealismo em pastiche!

* Por Marcello De Santis

Novos ventos, novos rumos e um desafio para a maison Schiaparelli: encontrar um substituto para o cargo de diretor criativo da mítica grife italiana à altura de sua história. Foi anunciada nesta ultima sexta-feira (7/11) a saída do designer italiano Marco Zanini, que tentou reinterpretar, sem sucesso, o estilo de Elsa Schiaparelli (1890-1973), célebre rival de Coco Chanel. As divergências, segundo a casa de moda, são relativas ao estilo determinado por Zanini, bem distantes dos códigos estabelecidos pela estilista. Nomeado diretor em 30 de setembro de 2013, Marco Zanini esquentou por pouco tempo a cadeira, tendo passado anteriormente pelas marcas Dolce & Gabbana, Versace, Halston e, em 2009, substituído o belga Olivier Theyskens na Rochas. Pelo visto, o bom curriculo de Zanini não garantiu sua continuidade na Schiaparelli. O motivo? Segundo a empresa, por não respeitar os critérios estilísticos e a trajetória de sua fundadora. A missão principal do próximo diretor criativo, portanto, será comunicar ao público atual o espírito contemporâneo e audacioso da grife, devidamente repaginado para os novos tempos.

Marco Zanini: após o fiasco do último desfile,  bye bye! (Foto: Reprodução)

Marco Zanini: após o fiasco do último desfile, bye bye! (Foto: Reprodução)

Elsa Schiaparelli nasceu em Roma em 1890, no Palazzo Corsini, e cresceu em meio a uma familia de aristocratas e intelectuais. Quando jovem, fez uma viagem a Nova York e estabeleceu laços de amizade com Gabrielle Picabia, mulher do famoso pintor dadaísta. Este encontro foi um momento-chave para sua vida e carreira, já que, a partir dali, ela frequentaria os salões da inteligentsia de vanguarda dos loucos anos 1920: Man Ray, Marcel Duchamp e Edward  Steichen, entre outros.

Elsa Schiaparelli: bem-nascida de carteirinha, a fashion designer era o poder! (Foto: Reprodução)

Elsa Schiaparelli: bem-nascida de carteirinha, a fashion designer era o poder! (Foto: Reprodução)

A notoriedade que Elsa atinge nos anos 1930 é tão grande que acaba lhe conferindo a capa da revista Time em 1934. É a primeira vez que uma criadora de moda aparece na front page da revista. Tambem nesta década, a designer cria coleções emblemáticas com colaboração de artistas do porte de Jean Cocteau e Salvador Dali. Em 1937, ela lança o perfume Shocking e cria um dos mais fortes codigos de sua maison de alta-costura e da moda: o rosa “schocking”. Já o perfume ROY foi um sucesso de vendas, com sua forma inspirada nas curvas da atriz Mae West, simbolo absoluto do glamour hollywoodiano e sensualidade da época.

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A partir dos anos 1940, com a segunda guerra mundial, a maison de Elsa perde força no mercado. A grife Schiaparelli acaba saindo definitivamente do cenário fashion em 1973, logo após sua morte, e foi comprada em 2007 pelo empresário Diego Della Valle, proprietário do Tod’s Group. Em colaboração com Christian Lacroix, 13 looks são criados em homenagem à criadora italiana para anunciar a volta da maison ao cenário da  alta-costura, mas, supresa! Quem assume a direção criativa na primavera-verão 2014 nao é francês, que havia acabado de fechar as portas de sua própria casa de haute couture, mas Marco Zanini, recém-saído da Rochas e que, no final das contas, permaneceu na função por apenas duas coleções.

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HT revela algumas imagens icônicas do percurso da maison Schiaparelli, confrontando com as próprias criações apresentadas por Marco Zanini na Semana de Alta Costura de Paris. O objetivo é simples: que o leitor tire suas próprias conclusões. No mais, vale lembrar a lista (grande) de designers que foram influenciados pelo estilo de Schiaparelli: nomes como Yves Saint Laurent, Martin Margiela, Moschino, Valentino, Jean Paul Gaultier e Miuccia Prada. Esta última, aliás, teve exposição conjunta com sua conterrânea italiana no MOMA em 2013. Elsa Schiaparelli e seu humor trouxeram frescor à moda e tudo o que se deseja, óbvio, é o mesmo permaneça nesta nova fase.

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* Apaixonado de carteirinha pela natureza e por cultura, Marcello De Santis é carioca, mas curte grandes mudanças. Após desfilar sua própria marca no Fashion Rio, trabalhar em grifes como Maria Bonita e Santa Ephigenia e fazer figurino na TV Globo, se mudou para Florença aos 25 anos para investigar a própria origem, tipo jornada interior. Na Itália descobre o budismo, mas é em Paris onde acaba fincando raiz, logo em sua primeira visita à Cidade-Luz. Coisa de novela. Especializado em design de estamparia pelo Senai-Cetiqt e com mestrado do Istituto Marangoni, toca interessante projeto educacional  – Fashion Culture Tour -, através  pretende passar seus conhecimentos profundos para a indústria têxtil brazuca