Conexão Inspiramais adianta as inspirações para o Verão 2018 no contexto do Brasil moderno: “Ninguém precisa comprar muito mais para sobreviver”, analisou o consultor Marnei Carminatti


Até a apresentação final em São Paulo nos dias 16 e 17 de janeiro, o projeto, que é comandado por Walter Rodrigues, percorrerá diversas cidades brasileiras apresentando o que apontam as pesquisas para o Verão 2018

 

O Verão 2017 está chegando, mas há quem já esteja um ano à frente. E quem tem a missão de pesquisar e adiantar as tendências para as estações futuras é a Conexão Inspiramais, que tem o comando e o direcionamento do experiente e reconhecido estilista Walter Rodrigues. Na 19ª edição do Minas Trend, Marnei Carminatti, que é designer, consultor em design de produtos e integrante do Núcleo de Design da Assintecal (Associação Brasileira de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos), pilotado por Walter Rodrigues, ressaltou a importância deste trabalho. “O projeto tem essa missão de ser antecipador nas referências para que as pessoas possam ter tempo para correr com suas coleções, cores e artefatos”, explicou o pesquisador que compõe um time de 20 designers neste processo de busca do cenário da moda. “A gente trabalha olhando diversas formas de comportamento, referências de produtos e de grandes centros de moda. Mas a pesquisa acaba se editando com um tempo de desconstrução. Ou seja, o que abordamos no inverno não é esquecido com o passar da estação. Nós vamos absorvendo esse conteúdo no verão até para mostrar que isso vai sendo reconstruído e adaptado na vida das pessoas com um pouco mais de tempo. Então, hoje a gente olha para todos os lugares, mas também para questões locais da realidade das pessoas do nosso país. Não tem mais como e nem faz sentido pegar uma referência europeia e, simplesmente, jogar na nossa cultura. Essa é uma lógica burra”, argumentou.

E para quem ficou interessado e fascinado por esse trabalho de pesquisas e previsões das tendências que prometem movimentar o mercado fashion daqui a mais de um ano, a notícia do HT é muito boa. Ontem, dia 18, os cariocas puderam acompanhar a palestra que expôs o resultado das buscas do time do Fórum de Inspirações no Rio de Janeiro. Proferida por Tatiana Souza, que é designer e consultora do Núcleo de Design da Assintecal, a Conexão Inspiramais esteve na Cidade Maravilhosa para pôr os estudantes e integrantes desse universo por dentro de tudo.

Tatiana Souza é designer e consultora do Núcleo de Design da Assintecal (Foto: Divulgação)

Tatiana Souza é designer e consultora do Núcleo de Design da Assintecal (Foto: Divulgação)

Porém, como sempre, o HT adianta o que podemos esperar para o Verão 2018. Segundo Marnei Carminatti, dois conceitos prometem nortear os estilistas para a temporada. “Nesse verão, as questões mais importantes são adaptação e subversão, que são dois temas da atualidade que têm muita força”, citou o consultor que logo emendou em outro termo do cenário contemporâneo da moda. “O nosso contexto global fala do conceito do “see now buy now” e a gente está tentando ver como isso vai se adaptar no universo brasileiro. Porém, eu ainda não consegui entender como vamos conseguir reproduzir esse conceito de maneira tão rápida. Mas o mais bacana de toda essa história, é o movimento que as pessoas fazem e acabam transformando a lógica das marcas”, avaliou.

Palestra de Marnei Carminatti no Minas Trend (Foto: Belo Horizonte - Henrique Fonseca)

Palestra de Marnei Carminatti no Minas Trend (Foto: Belo Horizonte – Henrique Fonseca)

Para explicar e direcionar as criações das coleções Verão 2018, a Conexão Inspiramais separa as vertentes criativas em uma pirâmide. Dividida em três níveis, essa estrutura é uma forma de setorizar e estudar separadamente esses grupos criativos que serão os responsáveis pela tradução desses conceitos e referências pesquisadas. “O topo da pirâmide é a busca pelo novo. Esses 10% da cadeia criativa são compostos por quem aposta e acredita no trabalho autoral. Os 30%, que fazem parte do meio dessa estrutura, é formado por uma combinação de apostas e processos. Por último, os 60% correspondem à massificação”, resumiu. Sendo assim, a base da pirâmide é formada pela moda “tem que ter”, que é mais vista, aceita e reproduzida no mercado, Já o meio, mistura as criações autorais, que muitas vezes também carregam adjetivos de ousadas e inovadoras, com um processo de adaptação. Ou seja, são autorais, mas traduzidas para mais pessoas usarem. E, no topo, estão aqueles que apostam fielmente em suas criações, por mais diferentes que possam ser.

Pirâmide de desenvolvimento de produto do Conexão Inspiramais (Foto: Divulgação)

Pirâmide de desenvolvimento de produto do Conexão Inspiramais (Foto: Divulgação)

“Eu sempre vejo que nós entendemos demais dessa base da pirâmide e a enxergo como um primeiro passo para ver como podemos criar o novo pensando o oposto desses produtos. E essa criação autoral tem um tempo de decupagem no mercado. Pode ser que ela não dê certo. Mas pode ser também que dê certo muito rápido e ultrapasse esse estágio”, completou. Porém, esse tempo de aposta no mercado da moda não pode ser muito longo. Marnei Carminatti acredita que, apesar das variações, dois anos representem o limite para muitos estilistas e indústrias de componentes. “Cada mercado tem um tempo diferente para entender a maturação”, destacou.

Conexão Inspiramais no Minas Trend (Foto: Belo Horizonte - Henrique Fonseca)

Conexão Inspiramais no Minas Trend (Foto: Belo Horizonte – Henrique Fonseca)

Com a missão de pesquisar e relatar essas tendências, a Conexão Inspiramais, que apresenta os resultados finais deste processo no Inspiramais, nos dias 16 e 17 de janeiro, em São Paulo, parte do princípio que hoje o consumismo é um caminho sem volta. Como destacou o consultor Marnei, o fato de as pessoas já terem de tudo nos armários é uma importante questão a ser considerada nesse tipo de estudo e de pesquisa. “Ninguém precisa comprar muito mais para sobreviver. O ponto mais interessante de uma criação é fazer com que as pessoas se emocionem e se surpreendam para justificar aquela compra. E, para isso, os estilistas e designers precisam causar uma reação distinta e balançar com uma estrutura que foi criada e estava mantida até então. Ou seja, nós temos muitas referências que desconstroem modelagens e que subvertem a ideia de acabamento, por exemplo. Sempre apontando a arte, moda, arquitetura e comportamento como pilares que acabam fechando esse ciclo”, explicou.

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Outro fator importante nesse universo de inspirações é a individualidade de cada um. Embora Marnei Carminatti tenha apontado que os florais, as estampas e a estética retrô, por exemplo, sejam tendências para o Verão 2018, isso não significa que será usado e adotado por todos. “O que me chama mais atenção é um olhar editado para cada indivíduo. Então, as coleções possuem muitas pessoas recortadas. Hoje, não é mais possível ter um padrão estético em uma mesma criação. A diversidade é algo natural e presente”, avaliou o consultor que emendou na questão de a moda estar cada vez mais democrática. “Hoje, não é porque uma tendência desfilou na passarela que a gente precise copiar fielmente. Eu acho que, atualmente, a gente tem que editar o que é bacana e ideal do conceito dos desfiles. Eu penso nessa condição. Fora que aquela história de alguém andar muito na moda chega até a ser meio preguiçoso, porque hoje todo mundo tem a chance e a possibilidade de ser autoral na construção do próprio visual. Cada um tem o seu estilo”, declarou.

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Explicações e ambientações feitas, é hora de ver o que os estudos do grupo de design da Assintecal apontam para a moda no Verão de 2018. Como Marnei Carminatti afirmou, a palavra chave dessas criações deverá ser “apropriação”. Em relação aos 10% da pirâmide criativa, o consultor acredita que esta tradução será feita a partir da combinação dos termos “adaptação e subversão”. “Ou seja, é uma reflexão de como olhar para as referências e subverter a forma com que são apresentadas. Mas também, de alguma forma, adaptar elementos dentro de uma coleção. Então, como as modelagens podem se transformar a partir disso e as referências de estamparia, forma e cor vão se construir nessa história”, sintetizou.

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As apostas de Marnei também indicam um exagero fashionista no campo dos calçados e acessórios. Para o designer, as produções para o Verão 2018 deverão se destacar pelos detalhes nada básicos. “Eu acho que os produtos de moda hoje, quando se tratam de calçados e acessórios, são os grandes protagonistas do look. Então, eles são quase exageradamente repletos de informação, que podem ser de cor, enfeite ou forma. Eu acho que assim, a produção fica mais livre e divertida para um toque de exagero, que é muito importante. A meu ver, se tratando de calçados e acessórios, quanto mais exagerados, melhor fica o resultado. Isso acaba construindo uma informação nova no mercado”, opinou Marnei, que prevê sandálias muito ricas e enfeitadas para o Verão 2018.

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Porém, não é porque as referências globais apontam para um tipo de tendência que ela será seguida à risca. Como já havia destacado Marnei Carminatti, hoje, esse empoderamento de forma direta do que é visto lá fora nem sempre é a melhor alternativa para a criação da moda brasileira. Afinal, como reafirmou o consultor da Assintecal, moramos em um país muito grande geograficamente e culturalmente. “Acima de qualquer pesquisa, temos que pensar em qual região do país você atua e para qual público você vende. Ou seja, cada história é distinta no país, mas todas possuem um conceito como unanimidade: o conforto. E essa proposta sugere que a gente tenha sapatos mais flats. Porém, ao mesmo tempo, outras inspirações propõem plataformas muito altas e poderosas. Eu, particularmente, acredito muito nesta ideia de altura bastante imponente. Mas, ao mesmo tempo, em uma coleção que consiga dividir o espaço com calçados mais confortáveis e flats”, adiantou.

Além da pluralidade do Brasil, outra questão que explica essa adaptação dos conceitos internacionais é o jeito do brasileiro lidar com a moda. Embora agora a questão seja o exagero nos calçados e acessórios, o oposto a isso também merece destaque. No entanto, o básico nem sempre é aceito por aqui como é incorporado na moda internacional. “Grandes centros de pesquisas apontam o minimalismo como tendência, que vem desde a temporada passada. Mas eu acho que isso não combina com o Brasil. Pode ser que algumas pessoas e algumas marcas até se identifiquem com esse conceito. Mas, em geral, os brasileiros não vêem muito sentido em tirar elementos. O nosso minimalismo não é tão mínimo assim e isso é importante perceber”, ressaltou.

Temática do minimalismo (Foto: Belo Horizonte - Henrique Fonseca)

Temática minimalista (Foto: Belo Horizonte – Henrique Fonseca)

Entre apostas temáticas que variam de máscaras, neon, camuflagem, grafite, retrô e diversas outras que serão defendidas nos encontros como o desta terça-feira no Rio, que ocorrem até a Conexão Inspiramais em janeiro, em São Paulo, existe um ponto que não pode ser esquecido. De acordo com Marnei Carminatti, apesar de a sustentabilidade aparecer sempre em cada temporada, esta questão não é uma temática no cenário da moda. “Falar que sustentabilidade é uma inspiração é quase que cair de maduro. É mais que isso, é uma necessidade. O mundo já vem propondo uma série de materiais inusitados, desde tecidos biodegradáveis que podem virar compostagem até a redução de todos os processos. E isso não é muito novo. É muito importante entender que a sustentabilidade não é uma temática e, sim, uma necessidade. Esse é o futuro da humanidade”, concluiu o consultor da Assintecal, Marnei Carminatti.