Alessandro Martins: cirurgião plástico fala das consequências do explante, retirada das próteses de silicone das mamas


“Explante não é voltar a ter a mama que se tinha antigamente. É tirar a prótese de silicone numa mama totalmente alterada pelas mudanças do tempo, do peso, da compressão do silicone contra a glândula. Trata-se de uma mama atrofiada, flácida, cujo impacto estético e visual pode causar alterações comportamentais na paciente”, alerta o cirurgião plástico

Alessandro Martins: cirurgião plástico fala das consequências dos explantes, retirada das próteses de silicone das mamas

*Por Alessandro Martins

Vamos abordar hoje o explante e suas indicações. O silicone é uma forma de aumento das mamas que há muito tempo vem sendo utilizado para procedimentos estéticos e reparadores, como no caso das reconstruções de mama pós-câncer, pós-mastectomia. Existem muitos conceitos a respeito de volume, formato, indicações ou não de se colocar uma prótese de silicone.

Na verdade, tirando as recomendações de cirurgias reconstrutoras por câncer de mama, a indicação de utilização da prótese de silicone também é importante quando falamos de assimetrias. Existem assimetrias mamárias, algumas inclusive congênitas, como a Síndrome de Poland, em que uma mama se desenvolve e a outra não. Esta seria uma indicação não somente estética.

Para a grande maioria das pacientes, porém, a indicação é estética. Elas têm vontade de aumentar os volumes das mamas ou aumentar sua projeção, tornando-as mais marcadas. E por vezes a inclusão de uma prótese de silicone pode ser somente a colocação de uma prótese ou quando a gente tem excesso de pele da mama, esse excesso associado a uma retirada de pele levando a formação de cicatrizes que podem ser pré-aureolares em T ou em L, que são as mastopexias.

Entretanto, em alguns anos, próteses de silicone muito volumosas, podem trazer consequências. O principal efeito é o peso, fazendo com que a mama produza pele. Ela funciona como se fosse um expansor de pele. Então, ao longo dos anos, começa a cair. A ideia de que a prótese de silicone não faz a mama cair é errada. Quanto maior a prótese, maior a distensão e o peso, fazendo com que caia ao longo dos anos, pois vai produzir pele. Com a gravidade, a mama se torna ptosada (caída).

Pacientes que utilizaram próteses volumosas terão indicação de retirar pele, fazer uma mastopexia. Se resolverem diminuir a prótese, vai sobrar mais pele e é aí mesmo que terão que colocar cicatrizes em suas mamas na tentativa de se remover o excedente. Sempre avisamos para tomarem cuidado com a escolha de suas próteses de silicone, porque as muito volumosas vão levar, a longo prazo, à queda. E a próxima cirurgia provavelmente causará uma cicatriz.

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Dr. Alessandro Martins (Foto: Vinicius Mochizuki)

Recentemente vem sendo pesquisada a Síndrome ASIA, autoimune ou inflamatória desencadeada por um adjuvante. O que seria isso? Seria qualquer corpo estranho que possa funcionar de gatilho. Ele desencadeia um processo de resposta inflamatória e imunológica, ativando anticorpos, sistemas de complemento e várias outras defesas do nosso organismo que, uma vez produzidas contra esse corpo estranho, ou reacionalmente a ele, podem causar lesões ou alterações em outras partes do corpo.

Como em toda doença autoimune ou inflamatória, o anticorpo acaba atuando contra alguma parte do nosso corpo. As pacientes com a Síndrome ASIA ou com a doença do silicone se queixam de dores articulares e dores que não melhoram com analgésicos normais. No entanto, essa doença não tem marcador inflamatório específico e a maioria das que se queixam desse tipo de dor tem outras doenças autoimunes associadas, entre elas a fibromialgia.

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Algumas pacientes, mesmo após a retirada da prótese de silicone, continuam apresentando dor, ou seja, não existe uma relação específica causal entre o corpo estranho, que seria a prótese, e as dores articulares ou musculares que sentem. Pela falta de um marcador autoimune específico, não conseguimos obter uma relação causal tão direta. Algumas pacientes têm melhora, enquanto outras continuam com os sintomas após a retirada, mesmo porque essa dor pode ser relacionada à fibromialgia e apenas agravada pela presença do corpo estranho que funcionou como um gatilho.

A visão do explante é muito confusa para a paciente compreender. Quando se coloca uma prótese de silicone, a paciente tem uma ideia de sua mama antes da prótese. No entanto, seu uso vai exercer peso e vai criar pele, funcionando como se fosse um expansor tecidual. E parte da glândula que a paciente tinha atrofia com a pressão e com a presença da prótese.

A mama que a paciente observa após a retirada do silicone não tem nada a ver com a original. É muito mais flácida, muito mais vazia, pois sofreu um processo de distensão de pele e de perda glandular. A ideia de que a paciente vai tirar a prótese e voltar a ter a mama de antes não é real, não acontece, não existe.

A paciente se depara agora com outro problema: uma mama flácida, ptosada, sem volume, sem projeção e sem a prótese. Algumas entram em depressão, porque não reconhecem mais aquele tórax como delas, pois imaginam que a mama ficaria exatamente igual a como era antes da colocação da prótese. Isso não acontece.

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A situação é muito mais agravada se a paciente teve alteração de peso, se passou por uma gestação, se amamentou. Todos esses processos alteram o formato da mama. É muito importante que, para realizar um explante, haja acompanhamento psicológico, uma orientação não só do cirurgião plástico como também de um profissional como um psicólogo para que a mulher compreenda as mudanças que vão acontecer.

Em relação à reatividade, o silicone é um dos materiais mais inertes que podem estar em contato com o corpo. Ele é considerado tão ou mais inerte que o titânio, usado em várias próteses ortopédicas em placas para fixação de fraturas de face. Ele tem uma reatividade tão pequena que é importante que se entenda a correlação entre uma doença inflamatória autoimune e a presença do corpo estranho como gatilho como o silicone.

Entretanto, se a questão é visual de peso, de volume das mamas, de procedimentos consecutivos de trocas de implantes, é muito importante que a paciente compreenda que está fazendo uma troca. Ela vai fazer a troca da prótese de silicone, do volume daquela mama por uma mama sem projeção, sem volume com parênquima glandular substituído. Isso é muito importante e tem que ser explicado.

Alguns procedimentos como lipoenxertia da mama, que são enxertos de gordura após a retirada da prótese de silicone, são muito associados aos explantes. Porém isso não é capaz de produzir uma projeção mamária suficiente, visto que a gordura não tem estrutura e firmeza como o tecido glandular. A gordura é muito mais mole do que a glândula, ela não consegue causar projeção. E nem todas as pacientes têm gordura suficiente para enxertar numa mama.

Além disso, grande parte da gordura enxertada sofre processo de lipoabsorção, ou seja, é absorvida e não é integrada à mama. Parte do que a paciente imagina ter de resultado vai ser absorvido ao longo das semanas e dos meses e a mama continuará flácida e sem projeção.

IMPORTANTE

. Entenda por que você está colocando uma prótese de silicone, se é uma questão estética que realmente vale a pena.

. Opte por tamanhos médios, não muito volumosos, que causam maior peso na mama, maior produção e distensão de pele.

. Atualmente as prótese não têm mais data de troca, não tem de trocar a cada 10 anos. Não é mais necessário trocar uma prótese de silicone se ela estiver íntegra e se a mama estiver saudável. Isso não é mais uma preocupação. É importante que essa lenda seja desfeita.

. Uma possível troca de prótese de silicone normalmente terá de ser associada a retirada de pele se a ideia for diminuir o volume. Pense se a mastopexia, se uma cicatriz em T ou em L na sua mama é algo que vai lhe trazer satisfação ou vai lhe trazer desconforto.

. Explante não é voltar a ter a mama que se tinha anteriormente. É tirar a prótese de silicone numa mama totalmente alterada pelas mudanças do tempo, do peso, da compressão do silicone contra a glândula. Trata-se de uma mama atrofiada, flácida, cujo impacto estético e visual pode causar alterações comportamentais na paciente.

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