Tuca Andrada fala sobre teatro, assédio, vaidade aos 50 anos e carreira: “O ator de verdade trabalha até a hora de morrer”


Em cartaz no Teatro Maison de France com a peça “O Olho Azul da Falecida”, Tuca ainda analisa a situação de “Babilônia”, na qual participou brevemente, e comenta sobre os profissionais que entram na indústria para se tornarem celebridades

Aos 50 anos, recém-completados em dezembro do ano passado, Tuca Andrada está em cartaz no Teatro Maison de France com a peça “O Olho Azul da Falecida”, uma comédia ácida e satírica – como todo bom texto britânico -, assinada por Joe Orton e com direção de Sidnei Cruz. Na montagem, o ator vive um detetive caricato, daqueles de boina e cachimbo, que acredita ser a grande mente do enredo.

Apesar de já ter atuado em novelas como “Da Cor Do Pecado”, “Mutantes” e, mais recentemente, “Babilônia”, é no teatro que Tuca se sente em casa. Foi nos palcos que ele começou a profissão de ator, aos 15 anos, quando ainda morava no Recife, sua cidade natal. Abaixo, você lê um bate-papo exclusivo com Tuca, que fala sobre a longevidade da carreira e como conseguir isso hoje em dia, vaidade aos 50, a relação com o teatro e o assédio das fãs (que às vezes passa do limite). Confira:

Tuca Andrada como o detetive Truscott, de "O Olho Azul da Falecida" (Foto: Divulgação)

Tuca Andrada como o detetive Truscott, de “O Olho Azul da Falecida” (Foto: Divulgação)

HT: Explique um pouco o que o atraiu nessa peça e de onde você pegou inspiração para o seu personagem.

TA: O que me atraiu é a contundência da montagem: uma comédia anarquista, que destrói qualquer instituição que você possa pensar. Família, política, policia… até a morte é ironizada. Meu personagem é um detetive meio atrapalhado, mas ele sempre acha que sabe e resolve tudo. É uma brincadeira com os detetives clássicos da literatura, como Hercule Poirot (Agatha Christie) e Sherlock Holmes (Sir Arthur Conan Doyle): homens que não usam a violência e resolvem os problemas através da razão. Mas, na verdade, meu personagem é um brutamontes, capaz de bater em alguém e até matar, se for preciso. Ele se acha inteligente, mas não é.

HT: Se você pudesse escolher um crime para resolver, qual seria?

TA: Esses casos que aparecem no jornal e, aparentemente, não têm solução, como o Crime da Rua Cuba*: tudo aponta que o culpado era o filho, mas até hoje não existe nada que comprove isso. O assassino não deixou nada!

*Jorge Toufic Bolchabck e sua esposa foram assassinados na noite do Natal de 1988. Apesar dos fortes indícios de que o filho era o culpado, as evidências nunca foram comprovadas.

HT: Você já fez vários vilões e também já trabalhou bastante com comédia, duas das vertentes que os atores costumam gostar mais. Qual você acha mais desafiadora?

TA: Acho que quando você tem um personagem bem estruturado, ele não é vilão nem mocinho, porque na realidade é assim que os seres humanos são. Lógico, soltar a vilania é interessante, porque você reprime isso na sociedade. Mas, acho que prefiro fazer comédia, é um grande exercício.

HT: Você também faz muito papel de galã. Se considera um cara vaidoso? Como isso mudou aos 50 anos?

TA: Sempre fui vaidoso. Não nego e não acho nada feio falar isso. Mas,com a idade, você amadurece e algumas questões não têm mais importância, não só na estética. Acho que dos 47 aos 52 anos, não muda nada. Claro, eu sinto que estou mais velho. Se saio à noite, preciso de mais tempo para me recuperar. Ao mesmo tempo, você fica mais tranquilo e menos ansioso. Você vê que já passou mais do que metade da vida e pensa ‘e agora? o que eu vou fazer?’. Acho que o segredo é levar uma vida saudável. O que não dá é para tentar aparentar algo que você não é. Lutar contra o tempo é impossível.

Sob a direção de Sidnei Cruz, "O Olho Azul da Falecida" traz Tuca Andrada (dir.) no papel de um detetive clássico, no estilo de Sherlock Holmes e Hercule Poirot (Foto: Divulgação)

Sob a direção de Sidnei Cruz, “O Olho Azul da Falecida” traz Tuca Andrada (dir.) no papel de um detetive clássico, no estilo de Sherlock Holmes e Hercule Poirot (Foto: Divulgação)

HT: E qual a sua opinião sobre cirurgias plásticas e botox?

TA: Eu não faria, porque sou ator e tenho medo de mexer no meu rosto, de alterar alguma coisa. Algumas pessoas ficam mesmo um desastre! Não tenho nada contra, mas acho que um ator precisa pensar muito nisso. Tipo um botox, que paralisa o rosto: como vou me expressar em milhões de gamas se não tenho um rosto que eu possa manobrar? Acho complicado. Ao mesmo tempo, conheço grandes atores que fizeram e não tiveram problema. Mas, eu acho um risco muito grande, sem falar que odeio operação e hospital. Prefiro me cuidar, malhar e prestar atenção na dieta.

HT: E como é o assédio das fãs hoje em dia? É algo que ainda o incomoda?

TA: Eu já estou acostumado com isso, mas confesso que algumas perdem o limite. Elas se acham donas de você e que podem falar qualquer coisa, mas não é assim. Não é por eu ser ator que elas podem falar o que quiserem, porque aí também vão ouvir o que não querem. Mas, eu não presto mais atenção. Lógico que eu gosto que o público venha falar comigo. Mas dizer ‘faz isso ou aquilo’, ‘você deveria ser assim ou assado’, não admito. Com o tempo e a maturidade você adquire sabedoria (risos).

HT: Você teve uma breve participação em “Babilônia” e, hoje, a novela passa por uma crise de audiência, sem falar na rejeição do público pelo casal gay da trama. Como você vê esse embate?

TA: Acho que estamos em um momento muito difícil no país. As pessoas, quando têm um choque
de realidade, repudiam. Eu adoro a novela, acho que ela tem uma qualidade excelente. Mas também vejo que o público brasileiro – diria até o mundial – encaretou. Está mais de direita, mais reacionário. Ao mesmo tempo que você vê gays tomando mais espaço na sociedade, há uma grande força contrária. Se você analisar outros folhetins do Gilberto Braga, como “Dancin’ Days” ou “Vale Tudo”, é a mesma coisa que “Babilônia”: as novelas foram sucesso com personagens sem caráter.

Adriana Esteves (Inês) e Tuca Andrada (Homero) contracenam no primeiro episódio de  "Bbailônia" (Foto: Reprodução)

Adriana Esteves (Inês) e Tuca Andrada (Homero) contracenam no primeiro episódio de “Bbailônia” (Foto: Reprodução)

HT: Você trabalha como ator desde os 15 anos. Qual é o segredo para ter uma carreira duradoura nessa indústria?

TA: Dedicação completa e saber o que você quer ser. Algumas pessoas acham que querem ser ator, mas não querem. O desejo delas é de aparecer em festa e rebaixam a carreira a isso. O ator de verdade é ator até a hora de morrer, ele nunca para de trabalhar. Tudo o que se passa ao seu redor é importante e você vai usar um dia, em cena. Existe uma certa confusão entre ser ator, galã e celebridade. Não tenho nada contra, mas você deve saber o que quer ser nesse meio. É uma carreira muito difícil e complicada: quando todas as portas baterem, você precisa bater de volta. A gente vence pelo esforço e pela persistência.

HT: Quais seus próximos projetos para depois de “O Olho Azul da Falecida”? Já tem data para voltar à TV?

TA: Vou dirigir uma peça no segundo semestre, se chama “Nordestinos”, sobre pessoas que vieram do Nordeste pra o Rio. Estreia no SESI, em outubro. São quatro atores, mas ainda não tenho ninguém confirmado. Estamos nos estágios iniciais, por enquanto.

 

SERVIÇO:

Temporada de 8 de maio até 21 de junho

Local: Teatro Maison de France – Avenida Presidente Antônio Carlos 58 – centro

Tel.: 2544 2533

Horário: quinta a sábado às 19,30/domingo às 18,30

Preço: quinta e sexta R$60,00/sábado e domingo R$70,00

Classificação etária: 10 anos

Lotação do teatro: 352 lugares

Duração do espetáculo: 1h40min

Comédia

Ensaios abertos dias 1, 2, 3 e 6 de maio – 19,30 – R$20,00