*Por Helen Pomposelli
Foto de Miguel Moraes
Moda e consumo foram duplas durante muitos anos, mas elas estão meio se dividindo entre sustentabilidade e conscientização. Prova disso é o “Saia da Caixa” de hoje com o designer Lucas Arcoverde, 28 anos, sócio-criador da marca Mescla de roupas masculinas. Lucas começou a faculdade com desejo de trabalhar com estamparia, mas no decorrer do tempo , descobriu um novo segmento, o branding, que fez com que abrisse a oportunidade de começar a pensar no design como forma diferente e posicionar um novo serviço no mercado. “Meu primeiro estágio foi numa empresa de eventos esportivos e cultural. Eu desenvolvia uniformes. Entre outras empresas, eu trabalhei no escritório Packing Brands e lá, eu desenvolvia embalagens para várias marcas como Mercado Zona Sul, Prezunic. Foi a minha maior escola, porém tem que gostar muito desse tipo de trabalho porque é de pirar. Um ritmo de rotina bastante agitado. Eu não sabia se ia sair 6h da tarde ou 1 h da manhã, estender ou não final de semana”, conta o nosso “ Saia da caixa “ de hoje.
Enquanto na infância, Lucas era expulso de sala porque ficava ilustrando todas as mesas de fórmica do colégio, sempre foi apoiado pela família que também trabalhava com criação e moda. “Minha tia faz vestido de noiva, meu avô que costurava bermudas furadas para eu jogar bola, até pouco tempo atrás fazia bolsas. Eu sempre tive uma proximidade dessas pequenas coisas… lembro de quando meu avô costurou a bandeira do Flamengo para mim e eu pintei à mão um urubu na flâmula. Também lembro de meu pai, que é engenheiro, trazendo coisas do trabalho e eu sempre ficava construindo formas e objetos com materiais reciclados. Adoro transformar restos em outras coisas…”, conta Lucas, que mesmo com uma tia artista plástica, a fotógrafa Monica Mansur, sempre gostou de criar porém nunca consegui se ver vivendo como artista conceitual e abstrato ao extremo. “Eu tenho um lado meio exato e careta que me freia nisso”, diz.
Foto de Miguel Moraes
Durante a sua trajetória, Lucas estagiou na marca Totem durante um ano e meio. Segundo ele, uma marca muito rica na criação de estampas e conceito. “Às vezes rolava freelas de estampas de camisetas e eu pesquisava muitas empresas dentro do mercado da moda, que criavam um conceito muito bacana no início e ele ia se perdendo no meio do caminho. Na hora do consumo, o produto era bom, mas pobre em propósito. Propósito é construir uma coisa que acrescente de fato para o mundo que não seja somente consumo pelo consumo e sobrevivência no financeiro, mas, sim, que acrescente algo para a sociedade, que valorize quem está por trás desses produtos”, explica.
Foto de Miguel Moraes
Cansado de ver marcas masculinas que falavam de skate, surf e posto 9, Lucas criou a marca Mescla que surgiu com a idéia de desenvolver um produto com ideais. “Estávamos tendo revitalização na zona portuária, ou seja, nas áreas do Rio que tinham a cultura urbana. Aproveitei esse enredo para lançar a minha primeira coleção que surgiu para ser de uma marca bem urbana e não praiana. Cada estampa tem uma história e valor cultural para contar”, diz. Para Lucas a maior descoberta foi no decorrer do desenvolvimento, em suas pesquisas e diferentes formas de produção, quando entendeu e conheceu a quantidade de pessoas envolvidas atrás de uma marca. “A cadeia de produção de moda e a importância da matéria prima são aspectos importantes para mim. De onde vem? Quem faz? Quem são os beneficiados? Conhecemos o algodão orgânico e o reciclado que tem uma cadeia mais ética socialmente e ambientalmente. Hoje trabalho com a matéria prima 100% orgânica”, explica.
Foto de Miguel Moraes
“A Mescla surgiu em 2012 e hoje em dia todo mundo fala de moda consciente. Acredito ter sido um dos primeiros no Rio a pensar assim. Na época era impossível conseguir fornecedores de algodão reciclável orgânico. Hoje trabalhamos com coleções cápsulas, bem mais enxutas em termos de mix de produtos e não seguimos o tradicional calendário da moda. Cada cápsula tem uma história por trás. A última desenvolvida foi sobre a história do design gráfico brasileiro, desde 1808 até a era digital”, diz. Mas não é só de moda consciente que Lucas acredita, como a sua ideologia de vida. Lucas faz tudo de bicicleta chegando a competir no ciclismo, esporte que tem essa transição entre o urbano e a natureza. E como começar a pensar fora da caixa? “Eu hoje mudei a minha cultura de consumo, toda vez eu fico analisando de onde vem, por que é caro? Por que é barato? Quando você pergunta qual o impacto, quem vai estar envolvido, o seu projeto nasce mais amarrado”. Bacana, né?
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