Ruy Guerra lança “Quase memória”, inspirado pelo romance de Carlos Heitor Cony, no Festival do Rio


Ao lado do elenco de peso com nomes como Tony Ramos, Mariana Ximenes, João Miguel e outros, o cineasta falou sobre o tempo afastado, a adaptação do roteiro e mais: “Os anos foram passando e o meu olhar sobre a história mudou”

O jejum de Ruy Guerra acabou. Afastado do cinema desde 2005, quando lançou “O veneno da madrugada”, o diretor voltou aos sets embasado pelo romance “Quase memória”, de Carlos Heitor Cony, no qual o autor narra momentos com pai, o sonhador jornalista Ernesto Cony Filho. O longa homônimo traz Tony Ramos, Mariana Ximenes, João Miguel e outros para contar a história sobre o homem que recebe um pacote do pai que morreu há dez anos e, com medo de abrir, repassa a vida desde a infância até aquele momento, em que é um jornalista e escritor em conflito com sua memória. “Ele se lembra o que pode ter dentro, começa a repassar a vida e vê a si mesmo quando jovem, aí entra a criação do grande diretor, que propõe o diálogo com ele jovem. Nessas ‘quase memórias’ surgem cores diferentes e quando ele volta ao presente vem os tons pastel e a solidão. É lindo e poético. É bom, na minha idade, discutir a memória de cada um de nós. Aproveitei para me exercitar, como serei eu lá na frente?”, questionou Tony.

Hugo Carvana, Ruy Guerra e Tony Ramos

Antonio Pedro, Ruy Guerra e Tony Ramos (Foto: AgNews)

O ator, que não tinha papel no longa, foi convidado por Ruy Guerra e tornou-se o responsável pela mudança total do roteiro. “Eu nem pensava no Tony, porque ele está sempre programado para muitos trabalhos. O personagem nem existia, mas eu mudei a história para adaptá-lo, foi criado no finalzinho. Não era programado”, disse o cineasta. Tony Ramos declarou que o convite foi uma espécie de homenagem. “Trabalhar no cinema do Ruy é incrível. É curioso após 51 anos e meio fazendo isso receber o convite de um ícone, que tem uma trajetória tão corajosa. Nós começamos a perceber seu cuidado, a preocupação intelectual com a obra, o mergulho nas leituras”, contou Tony, que optou por só assistir ao longa no dia da estreia. “Sempre faço isso. Estou ansioso como no primeiro dia que fui filmar. Para mim vai ser, como para o espectador, a primeira vez”, disse.

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Mariana Ximenes interpreta a mãe de Cony nas telas e falou sobre a experiência, a paixão por cinema e pelo Festival do Rio (Foto: AgNews)

Mariana Ximenes, que interpreta a mãe de Cony na memória do personagem mais velho, acredita que a adaptação literária para o cinema enriqueceu com as metáforas do diretor. “Eu amei o livro, li há alguns anos e reli antes do filme. É linda a relação dele consigo mesmo, a viagem, reflexões com a família. Os momentos que ele faz do personagem jovem, depois dele velho, com o plano da memória… As aventuras são absolutamente fora da realidade e tão lúdicas, sabe? Quero assistir para ver como o Ruy construiu todas essas metáforas de um roteiro com tanta subjetividade”, disse, para, assim como Tony, emendar elogios ao diretor: “Trabalhar com o Ruy Guerra me motivou muito. Eu já era fã e sou mais ainda agora, porque tive aulas de cinema com ele a cada set. Ele tem uma estrada longa e linda e estar ao lado dele e ouvir seus comentários já é incrível”

Quem também compartilha da mesma opinião é Pedro Nicoll, que chegou junto da namorada Agatha Moreira para assistir ao longa em que foi assistente de direção. “Esse filme foi talvez o meu momento profissional mais forte. Tive aulas de história de cinema com a generosidade e a sabedoria de Ruy Guerra. Sou um felizardo, uma pessoa única por ter vivido isso, é fantástico. Eu me formei em cinema, fiz pós-graduação fora, mas essa parceria foi talvez a maior aula que pude ter”, definiu ele. A atriz, orgulhosa, estava com a expectativa a mil. “Espero muito desse filme, estou ansiosa pra ver o trabalho do Pedro. Assisti um pouco das gravações, uma cena do Tony maravilhosa, uma aula genial. Deu pra aprender muito em cinco minutos”, disse Agatha, que ainda colhe muitos elogios por sua atuação em “Verdades secretas”.

O projeto antigo de Ruy Guerra fala sobre o tempo e o diretor também teve uma relação especial com a espera. “Esse processo foi longo. Era para ter sido feito imediatamente e não foi. Os anos foram passando e o meu olhar sobre a história também. No começo também era um determinado nível de produção que mudou, então a maneira de contar seguiu isso”, contou. Tony Ramos acredita que todos os fatores contribuíram. “O projeto está na mão do Ruy há oito anos e agora houve uma comunhão do elenco e da equipe. Fomos para o interior do Rio gravar, eu terminei em dezembro de 2014, já sabendo da novela. Sou esse ator, motivado por projetos e ideias”, garantiu. Mas tem que ser bons. “Ninguém pode deixar passar um convite de Ruy Guerra”, declarou.

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Animados de estrear no Festival do Rio, o elenco esteve em peso no Cinépolis Lagoon. “Adoro o evento, é uma semana dedicada ao cinema. Eu vou, anoto as sessões que quero. Amo cinema e a programação do festival. Sou daquelas que mesmo quando não estou em filmes, gosto de assistir, sejam brasileiros ou estrangeiros. Aqui é ótimo porque encontramos amigos e cinéfilos e eu aprecio muito a diversidade das escolhas e dos gêneros. É um prazer lançar esse filme aqui e assistir com a emoção do público”, disse Mariana. Tony Ramos endossou: “O que eu guardo do festival é isso, a festa, ver projetos nascendo, surgindo. Já ouvi conversas por aí de pessoas planejando outros passos. Ver na tela é a emoção maior”, afirmou. A gente concorda.