Oásis dos bem-nascidos na América do Sul, Punta del Este e seu icônico Conrad se preparam para receber turistas o ano inteiro


Com as estações climáticas menos definidas e medidas voltadas para promover o turismo fora do verão, o balneário sai na frente e amplia seu poder de fogo, atraindo mais brasileiros em busca do dolce far niente

A cerca de três hora de São Paulo, Punta del Este é excelente opção de viagem não apenas durante a alta temporada, mas o ano inteiro. E, vedete-mór do balneário uruguaio, o Conrad Resort y Casino oferece entretenimento de primeira qualidade, surpreendendo quem visita os 4000 m²  do complexo pela sofisticação dos seus serviços. Passando por uma remodelação profunda em seus quartos – 241 habitações e 41 suites, entre essas, a sofisticada Suite Conrad, que pode ser reservada ao valor de sete mil dólares a diária e é destinada ao público super vip que se encanta com a cidade, incluindo celebridades do calibre de Roberto Carlos e Shakira – o hotel é uma estrutura viva, em constante adaptação para atender à nata de turistas que escolhe este lugar da América do Sul como destino. E esse processo parece ter se intensificado após o grupo empresarial uruguaio Enjoy ter assumido recentemente a operação, se juntando à tradicional rede americana Caesar’s Palace, a mesma dos cassinos em Las Vegas.

Atenuar a sazonalidade do Conrad foi premissa quando o Enjoy entrou no jogo, há um ano. E, em princípio, as mudanças climáticas que ocorrem em nível global parecem ter colaborado com Punta. As baixas temperaturas de inverno não andam mais tão intensas assim, e a suavidade do inverno parece prosseguir perfeitamente com a delicada primavera e, depois, com o frenético verão, quando a população fixa de cerca de 12 mil pessoas na cidade aumenta para o número de até 600 mil visitantes. E o cassino, um dos diferenciais principais para quem se hospeda no resort, passa a receber um público de cerca de 11 mil frequentadores diários, entre hóspedes e aqueles outros que chegam a Punta, dobrando assim o número animados jogadores. Também reestruturadas há poucos meses, suas instalações andam tinindo de novas, inclusive aquelas áreas privês voltadas para o suprassumo dos bem-nascidos que não abrem mão de apostar todas as fichas (literalmente) em uma fezinha. Naturalmente, todos estes atrativos têm propiciado o aumento dos brasileiros, que não se cansam de partir rumo às suas praias.

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Fotos: Tabatha Antonaglia e Camila Moreira / Divulgação

Mas vai se assombrar quem está acostumado a tomar contato com o Conrad através de programas noturnos da televisão brasileira. Muito mais do que um cassino, o hotel é um polo de entretenimento de primeira grandeza, com restaurantes gourmet, piscinas externa e aquecida, além de spa onde as terapias holísticas e massagens podem levar hóspedes ao nirvana num piscar de olhos.

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Fotos: Tabatha Antonaglia e Camila Moreira / Divulgação

Bem verdade que a cidade prima por opções de lazer para agradar a todos os estilos, com consumo de alto nível, a começar pela emblemática Calle 20, endereço de grifes chiques como Ermenegildo Zegna, Calvin Klein, Louis Vuitton, La Martina e até duas lojas Valentino, uma com as coleções normais e outra que é o paraíso dos shoppers, uma ponta de estoque com preços convidativos.

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Impossível também não aproveitar a ida ao porto da cidade para dar aquele rolé bacana pelo passeio marítimo e parar no píer, alimentando os leões marinhos que esticam seus pescoços, bem preguiçosos, sabendo que vão ganhar alimento farto. Basta posar de bonito e assumir sua fotogenia, que uma legião de turistas começa a fazer “ownnn” e já os mais atirados já vão logo comprando peixe nas bancas locais para mimar os mamíferos. Sim, os danadinhos sabem das coisas.

Quem tem boca vai à Punta: os leões marinhos de boca aberta, prontos para ganhar um mimo dos turistas (Foto: Arquivo pessoal)

Quem tem boca vai à Punta: os leões marinhos de boca aberta, prontos para ganhar um mimo dos turistas (Foto: Arquivo pessoal)

E, se a época não for de praia, nem temporada de agitos noturnos e boates, valem aqueles programinhas calmos, tipo tomar um sorvete na filial do Freddo ou desfrutar da orla para tomar um banho de sol, desde as praias mais afastadas àquelas próximas, tipo a Playa dos Ingleses ou a Playa Brava, onde se encontra La Mano, a escultura criada pelo chileno Mario Irrazábal para o Primeiro Encontro Internacional de Escultura Moderna ao Ar Livre, realizado pela Intendência de Maldonado em 1982. A obra, que reproduz dedos gigantes como se fosse uma enorme mão saindo da areia, fez tanto sucesso que está lá até hoje e virou point na cidade. Ir  Punta e não tirar uma foto por lá é a mesma coisa que ir a Paris e não passar na Torre Eiffel para dar aquela espiadinha.

La Mano: marco artístico do balneário, a escultura se tornou ponto turístico na Playa Brava (Foto: Camila Moreira)

La Mano: marco artístico do balneário, a escultura se tornou ponto turístico na Playa Brava (Foto: Camila Moreira)

E uma boa pedida para os casais românticos, famílias com filhos ou amantes da boa fotografia: descer até a ponta da península para ver o solitário farol, o casario antiguinho (mas chiquérrimo) nas redondezas, inclusive dos famosos que têm casas de veraneio no local, mas que não pretendem ser descobertos – tipo Brad Pitt – e ainda conferir a belezura da igrejinha toda azul e branco de Nuestra Señora de la Candelaria, singela pérola incrustada no meio da sofisticação das mansões. Essa área, inclusive, tem histórias para contar, como a do xeque árabe que tinha casa no local e levava suas mulheres e numerosos filhos pra tomar banho de mar. Sim, nem só de modernidade vive Punta del Este.

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Fotos: Arquivo pessoal e divulgação / Tabatha Antonaglia e Camila Moreira

Mas não é só no centro de Punta que a coisa esquenta. A Intendência de Maldonado – algo equivalente ao que seria um município brasileiro – também procura promover outros lugarejos igualmente charmosos, mas com vibe diferente. É o caso de José Ignacio, praia mais distante e mais rústica, com aquele chão coberto de conchinhas, meio com cara de Patagônia nesse aspecto. O balneário pode até ter casas mais rústicas que Punta, mas esse aspecto agreste maquia o valor das propriedades, muito mais caras até, procuradas pelos muito famosos e muito mais ricos ainda que preferem o lugar por estar fora da rota dos turistas curiosos. Sim, a privacidade tem seu preço, mas José Ignacio é uma graça mesmo, ainda que mais despojada da pompa de seu vizinho mais próximo. E mais: também conta com um farol fofo, que rende ótimas fotos e vale o passeio. No mais, se der sorte, o visitante ainda pode dar de cara com uma baleia, já que os cetáceos são comuns por ali.

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E, se a levada é aproveitar a boa gastronomia da região, outra paragem próxima que merece uma visita é a fábrica-boutique da Colinas de Garzón, o saborosíssimo azeite uruguaio que faz história no mercado. De propriedade de um bilionário argentino do ramo pretolífero, a fazenda a cerca de uma hora de Punta é tratada como um bibelô dentre os negócios do grupo e nas terras bem cuidadíssimas podem ser avistados exemplares da fauna sulamericana como emas, capivaras, raposas e gaviões. Bem verdade que a grife não fabrica somente azeites, mas vinhos, azeitonas e amêndoas, estas salgadas com pimenta negra, uma delícia! E as instalações podem ser ponto turístico daqueles amantes da boa mesa, que podem marcar um appointment pelo local e até degustações, onde os produtos podem ser saboreados com pães produzidos no local.

E mais: uma guia especializada comanda o passeio, com o público estupefato circulando entre os silos de armazenamento de última geração e conferindo todo o processo de coleta (nos vinhedos e oliveiras), extração do óleo e preparação dos azeites em salões com recursos audiovisuais e paredes que se movem automaticamente, revelando vitrines. Coisa de filme de James Bond.

A linha de azeites de oliva extra-virgem da marca é premiada internacionalmente, e o destaque vai para o monovarietal (feito com a azeitona coratina, em cor dourado profundo e ideal para carnes de caça, peixes vermelhos e como complemento de queijos fortes), o bivarietal (produzido com dois tipos de azeitonas – arbequina e coratina –, de cor amarelo puro e sabor frutado, com sensação picante na garganta e perfeito para massas, arroz, peixes brancos e saladas de folhas amargas) e até o trivarietal, que leva três tipos: coratina, barnea e picual, bom para carnes e mariscos de sabores fortes, peixes vermelhos e saladas étnicas). E, para fechar, vale mencionar o azeite de corte italiano, fabricado com as azeitonas do tipo frantoio e leccino, bem polivalente: é adequado para todos os tipos de carne, sopas, molhos e para cozidos na grelha.

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Fotos: Tabatha Antonaglia e Camila Moreira / Divulgação

Mas, óbvio, o próprio Conrad é um oásis de boa gastronomia, perfeito para quem não pretende ir tão longe, preferindo desfrutar ali mesmo das benesses do dolce far niente al mare. Prova disso é a qualidade dos seus pães e da pâtisserie, muitas de vezes de visual bonitinho, mas relegados a segundo plano em hoteis dessa categoria. Não é o caso aqui. A padaria da casa é responsável por uma variedade de itens levíssimos, todos com crostas crocantes. E os doces são delicados e bem feitos, desde tarteletes saborosos a crèmes brûlées do mais alto gabarito. Naturalmente, os hóspedes fazem a festa com as sobremesas que tem como base o famoso dulce de leche da região, em especial a musse. Dos deuses. E outras maravilhas locais também fazem parte do menu, como Ramón Novarro, Rogel, alfajores, churros, Martin Fierro e Pasta Frola, espécie de torta de massa bem fina e amanteigada, recheada de goiaba. Obviamente, nem passando uma hora por dia no Fitness Center do hotel é suficiente para evitar que se volte à rotina com a silhueta mais arredondada, mas isso é caso pra se pensar depois.

Dentre seus restaurantes, o Las Brisas é o pau para toda obra, desde aquele onde é servido o café da manhã até o local onde alguns festivais acontecem. Em agosto, por exemplo, é vez da temporada do Puchero Criollo, um prato típico da bacia rioplatense que é servido no inverno, equivalente ao bollito misto do Piemonte e ao cassoulet francês. Receitinha clássica nas culinárias argentina e uruguaias, ele comparece nas mesas da casa com ares mais refinados, alegrando tanto que está hospedado no resort quanto quem vem de fora só para degustá-lo.

Agora, um bufê de iguarias típicas do Oriente Médio transforma a casa em uma espécie de palácio das Arábias, com entradinhas típicas como o hummus (grão de bico triturado, limão, tahine), tabule (salada de trigo burghul, salsa, cebolinha, hortelã e tomate), baba ganoush (salada de berinjela com tomate e cebola) e salada de pepino (pepino, iogurte, hortelã seca). Entre os pratos quentes, estão o quibe ao forno com pinhões e nozes, cordeiro com arroz sírio e kafta. Para a sobremesa, baklava, (pastel elaborado com pasta de nozes trituradas em massa filo, manteiga e mel), frutas tropicais com água de flor de laranja e hortelã fresca, dedos de noiva (massa filo com canela e amêndoas) e torta de sêmola são de lamber os beiços.

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Fotos: Divulgação

Mas, se o Las Brisas, mais informal, representa a porção bufê da casa (embora também possua menu a la carte, combinando os dois procedimentos), O St. Tropez é o restaurante chique do complexo em sua essência, com mesas ocupadas por reserva, música ao vivo com pianista e cantora que vai da Bossa Nova à chanson française e serviço com jeito de maison. Mas nem sempre o cardápio apresenta iguarias da corte de Maria Antonieta. A chef Magali O’Neill gosta de inventar novidades e de sua cabeça privilegiada já saíram festivais como o Pasta y Basta, festival em que prepara as massas italianas no salão, na frente de todos, e de cuja mesa vão saindo acepipes que só são suspensos quando o comensal pede arrego.          

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Fotos: Tabatha Antonaglia e Camila Moreira / Divulgação

Além do Las Brisas e do St. Tropez, o Conrad ainda conta com Gauchos, uma casa típicas de parrilladas que, por ser ao ar livre, funciona somente no verão, além do Los Vellenos, um misto de casa de chá com bingo, com seu sports bar repleto de tapas, mais intimista. E ainda com o caçula do resort, o OVO, um oriental embalado em decoração moderníssima, que fica ao lado da pista se dança. Novidade na cidade, recebe o público de fora em peso durante os finais de semana, mas nem tudo são flores. A direção da casa sabe que, pelo fato de a gastronomia oriental não ser exatamente uma tradição na região, ainda é preciso depurar os paladares, apesar de toda a roupagem premium. Coisa de tempo.  Por fim, o Blend Bar, um espaço com música ao vivo, drinks elaborados e menu de tapas, completa o leque de opções do Conrad.

OVO: japonês moderninho no caminho de ser tornar estrela absoluta no resort e na cidade (Foto: Arquivo pessoal)

OVO: japonês moderninho no caminho de ser tornar estrela absoluta no resort e na cidade (Foto: Arquivo pessoal)

Mas nenhuma viagem à Punta seria completa sem uma visita ao Casapueblo, o hotel concebido pelo pintor e escultor Carlos Paéz Vilaró, cuja construção segue o mesmo espírito intuitivo de outro peculiar artista, Gaudí. Amigo de Pablo Picasso, Vilaró fez história e sua trajetória pode ser conferida na parte da casa dedicada ao centro cultural que preserva sua memória, uma parte da construção situada em Punta Ballenas. Além de o visitante poder conferir o seu curioso trabalho, gastar um pouco de tempo no café situado no local e assistir ao por do sol na varanda é experiência inesquecível, que resume bem aquilo que se sente quando se sai de Punta Del Este, na volta da viagem, no pequeno aeroporto. Para se guardar no coração.

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Fotos: Tabatha Antonaglia e Camila Moreira / Divulgação