Prestes a estrear o programa “Rebobina”, no Canal Viva, conversamos com DJ Zé Pedro sobre música e cultura


Amante confesso da MPB, ele também fala com exclusividade sobre o selo Joia Moderna, o atual estado da indústria fonográfica e nostalgia televisiva

*Por Júnior de Paula

O DJ Zé Pedro é um daqueles personagens que todo mundo ama amar (com toda redundância mesmo!). Divertido, talentoso, profundo conhecedor de música e apaixonado declarado por MPB, ele, agora, se prepara para voltar às telas da TV, só que desta vez com um programa todinho seu. Trata-se do “Rebobina”, no Canal Viva, que estreia no próximo dia 14. Em cada edição, o apresentador recebe convidados para debater temas relativos a períodos específicos da televisão e da música. Exemplos? O programa dedicado ao “Mulher 80”, por exemplo, vai destacar como a TV e a música retrataram a emancipação feminina naquele período através dos meios televisivos, cinematográficos e em outros canais de comunicação. E dá-lhe, “TV Mulher”, com Marília Gabriela e com o polêmico Clodovil; “Malu Mulher”, protagonizada por Regina Duarte; e o próprio especial “Mulher 80”, que misturou novas cantoras com veteranas da MPB.

Outros episódios abordam temas como: “Freedom 90”, que leva este nome por conta do hit de George Michael, a era das supermodels, a minissérie “Top Model” e o domínio de Mariah Carey nas paradas de sucesso; “Geração Dourada”, por sua vez, fala sobre a estética da praia, ilustrada com o programa Armação Ilimitada” e o filme Menino do Rio”; “Não se Reprima”, abordando o fenômeno das boybands; e “O Sertão Vira Mar”, que trata da ascensão do sertanejo. Claro que isso tudo é só um ponto de partida para diversas imagens de arquivo, histórias de bastidores e muita diversão e convidados que vão de Ana Carolina a Ângela Rô Rô, passando por Letícia Spiller e Fafá de Belém.

Ah, e se já não bastasse, Zé Pedro ainda é dono da gravadora Joia Moderna, responsável por grandes lançamentos, como o fenômeno Alice Caymmi, além de dar expediente como DJ nas principais festas do Brasil e do mundo. No meio desse furacão todo, ele conversou com o site HT. Leia abaixo!

 

Zé Pedro, Nelson Freitas, Silvia Machete e Letícia Spiller nos bastidores do episódio "Geração Dourada", de "Rebobina" (Foto: Samuel Strappa)

Zé Pedro, Nelson Freitas, Silvia Machete e Letícia Spiller nos bastidores do episódio “Geração Dourada”, de “Rebobina” (Foto: Samuel Strappa | Divulgação)

HT: Qual a primeira música que você lembra ter ouvido na vida? Recorda os detalhes do cenário, da situação?

ZP: “Teletema” com Regininha, que foi tema da novela “Véu de Noiva”.

HT: Como foi que você começou a viver de música? O que fazia antes e como foi essa virada?

ZP: Era bancário em Copacabana e cursava faculdade de Direito, em Niterói. Adorava sair para dançar e, um dia, recebi um convite de um amigo DJ para tocar em uma noite e a coisa toda virou vício.

HT: Você tem uma gravadora hoje, responsável por alguns dos melhores e mais originais álbuns lançados recentemente. Como vê a indústria da música no mundo contemporâneo? É possível viabilizar economicamente uma gravadora ainda hoje?

ZP: Eu vivia frustrado nesse país de cantoras onde, ironicamente, poucas têm espaço para gravar um disco. Resolvi então fazer justiça com as próprias mãos: abri o selo Joia Moderna, onde trago de volta cantoras que estavam fora do mercado ao mesmo tempo em que lanço novidades como o álbum “Rainha dos Raios” de Alice Caymmi, que foi o disco mais comentado do ano passado. O lucro é zero, o prazer é imenso.

HT: Que artista você gostaria de ser se pudesse escolher? E por que?

ZP: Já quis ser Maria Bethânia. Hoje, quero ser Alice Caymmi (risos). A coragem dessas mulheres me dá inveja!

 

Remix do DJ Zé Pedro para “A Beleza”, de Maria Bethânia

 

HT: Qual o seu sonho de produção na Joia Moderna? Que artista você gostaria que gravasse lá e o que teria nesse álbum?

ZP: Não costumo sonhar na vida. Fico atento aos sinais e tomo atitudes a partir disso. Em menos de três anos, a Joia lançou 29 discos, todos com sua primeira tiragem esgotada. Agora, nesse primeiro semestre de 2015, serão feitos mais quatro álbuns de grandes artistas, na minha opinião. Fico feliz de ser mais um a fazer girar a roda da música brasileira.

HT: Como foi o processo para chegar até os cinco temas das cinco edições do “Rebobina”? Ficou muita coisa de fora?

ZP: O roteirista Ricardo Bairos me conhece há muitos anos e entende o meu humor. Deixei ele criar livremente e vieram temas e quadros que são a minha cara. Claro que assunto é o que não falta, por isso torcemos por novas temporadas.

HT: Esta é sua primeira experiência como apresentador de fato, né, apesar de não ser sua primeira vez na TV. Como foi o processo? Como se preparou? Pediu dicas a alguém?

ZP: Foi tudo uma surpresa e quis manter a mesma energia de improviso que eu tenho na vida. Gravamos em dois dias os cinco programas, como se eu estivesse em casa e conversando com amigos e lembrando historias hilárias de várias décadas.

HT: Quais as três músicas de trilhas sonoras favoritas da sua vida?

“Linha do Horizonte”Azymuth

“Retirantes”Dorival Caymmi

“Maria Fumaça”Banda Black Rio
HT: Se a gente pudesse rebobinar a vida, para que momento do mundo você gostaria de ser levado? E o que faria por lá?

ZP: Com certeza o dia 17 de Dezembro de 1975, para poder ver a estreia do show “Falso Brilhante”, de Elis Regina.

DJ Zé Pedro durante o programa "Rebobina" (Foto: Samuel Strappa)

DJ Zé Pedro durante o programa “Rebobina” (Foto: Samuel Strappa | Divulgação)

HT: O Marcelo Sommer é o responsável pelo seu figurino no programa. Conte um pouco do que vocês pensaram juntos e qual a importância da roupa e dos acessórios na sua carreira profissional.

ZP: Sou apaixonado pelo trabalho do Sommer desde sempre. Nessa minha volta à televisão, quis manter meu visual histriônico, mas sob o olhar de um grande estilista. Convidei o Marcelo, que teve como inspiração os bonecos de Playmobil.

HT:  Quais os outros projetos para 2015?

ZP: Não trabalhamos com projetos (risos). Deixo a vida me levar!

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura