No Fashion Cruise, empresário da Chilli Beans Caíto Maia brinca de Lego com óculos e relógios, provando que o Sr. Wonka existe!


No evento al mare que agitou a semana, espécie de seita fashion apimenta o transatlântico italiano MSC Favolosa, deixando claro que o mundo dos negócios é de quem se diverte trabalhando como numa Fábrica de Chocolate!

Imagina um transatlântico com decoração setentista, daqueles que tem muita textura nas paredes, pisos e colunatas, cheio de padronagens que lembram os cassinos retratados naqueles filmes ambientados em Las Vegas. Agora pense neste navio saindo do Porto de Santos rumo ao Rio, com passagens por Búzios e Parati. E, antes que alguém associe a cena com o icônico Poseidon, personagem principal filme-catástrofe de 1972, “O Destino do Poseidon” (The Poseidon Adventure, de Ronald Neame, Twentieth Century Fox), que fique bem claro que, no lugar de velhas estrelas de Hollywood escaladas a granel no Sindicato do Atores Aposentados – tipo Gene Hackman, Shelley Winters, Ernest Borgnine e Roddy McDowall –, a turma fashionista formada por uma rapaziada babadeira como Dudu Bertholini, Paola de Orléans e Bragança, Preta Gil, Luiza Possi, Sergio Mallandro, João Gordo, Max Fivelinha, Thaís Gusmão, Walério Araújo, Paola Robba (da Poko Pano) e o tatuador norte-americano superstar Ami James (do programa de TV “Miami Ink”), além de um punhado de drag queens e até um boneco vivo da Hello Kitty, compõe boa parte dos passageiros em um cruzeiro composto majoritariamente por tripulação filipina. É o MSC Costa Favolosa, escolhido para sediar o Fashion Cruise, espécie de cruzeiro das loucas (no bom sentido), sede de desfiles de moda, seminários de assuntos correlatos como merchandising visual e dicas de beleza, além de festas de música eletrônica consagradas como a D-Edge e pool parties. Precisa dizer mais?

Ami James: direto de Miami para o Costa Favolosa, o mestre dos rabiscos é flagrado em ação e tatua um sorteado pela Chilli Beans no Fashion Cruise (Foto: Divulgação)

Ami James: direto de Miami para o Costa Favolosa, o mestre dos rabiscos é flagrado em ação e tatua um sorteado pela Chilli Beans no Fashion Cruise (Foto: Divulgação)

E, mais: no lugar da onda gigantesca que vira o Poseidon de ponta a cabeça, o verdadeiro tsunami chame-se Caíto Maia – o nome à frente da Chilli Beans, 620 lojas no Brasil e em oito países, como Estados Unidos, Portugal, Israel, Dubai, Kwait, Peru, Colômbia e México –, um tipo de showman nato, daquele que domina o palco como um astro internacional. É que, além de tudo, o Fashion Cruise ganhou como patrocinador este ano a adesão da inovadora marca de óculos e relógios, que aproveitou para realizar ali mesmo sua convenção anual (chamada de Mutante Super Dose), sempre um acontecimento à parte e cada ano mais espetacular que o anterior.

Caíto Maia: como um superstar, o chairman da Chilli Beans conduz a convenção al mare da empresa com verve messiãnica e levada de celebrity (Foto: Ale Frata / Divulgação)

Caíto Maia: como um superstar, o chairman da Chilli Beans conduz a convenção al mare da empresa com verve messiãnica e levada de celebrity (Foto: Ale Frata / Divulgação)

Quem supõe que a tal convenção, que acontece no Teatro Hortênsia (onde são apresentados espetáculos musicais do navio, com cortina drapeada de lamê prata) é massante, pode tirar o cavalinho da chuva e ter a certeza de que os funcionários recrutados por cada filial (como uma espécie de premiação), mais os gerentes e franqueados, formam uma espécie de confraria Chilli Beans.

Caíto chega a contratar artistas do porte de Preta Gil, Luiza Possi e Sergio Mallandro para apimentar o evento e fazer shows que misturam euforia com aquele clima de ação motivacional típico das convenções de corporação. Mas, entre todas as surpresas que oferece ao seu séquito, quem brilha  mesmo é ele, uma espécie de pastor messiânico de um culto onde o amor aos óculos e acessórios é levado a níveis litúrgicos.

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Carismático ao extremo, Caíto sabe como cativar seu povo, tal qual um reizinho digno de figurar nos anais de monarquias tão absolutistas quanto liberais, se é que isso é possível. Como numa premiação de música pop, ele confere láureas àqueles que melhor se destacaram no último ano da empresa, que sobem ao palco se sentindo como Katy Perry, Sam Smith, Bruno Mars ou Madonna, prontos para receber o reconhecimento.

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“Pessoal, uma surpresa! Mexemos o mix das lojas e aumentamos o número de relógios dourados”, conta ele, ovacionado por aqueles que pretendem faturar uma grana a mais em comissões só com a venda daquilo que está na ordem do dia. “E os relógios com pulseiras de couro: estamos dando destaque maior a eles agora porque sabemos que eles são o que há atualmente”, completa, sendo praticamente interrompido com a quantidade de “u-hus” que tomam o ambiente em incontáveis decibeis.

E tudo mais uma vez se confirma quando ele chama ao palco de surpresa um coral que canta hits do The Beatles, contagiando todos com standards como “Help” e “Lucy in the sky with diamonds”, para anunciar a nova coleção inspirada no lendário grupo, que traz sunglasses e relógios com design baseado em “Yellow Submarine”. É Caíto, o rei da catarse, vestido com farda na vibe “Magical Mystery Tour”, quem anuncia: “Temos a licença para fabricar esses produtos no mundo inteiro e essa é a melhor coleção da nossa história. Vamos arrebentar nas vendas de Natal. E ainda: o lançamento será no The Voice Brasil, moçada!”, ele conta, apresentando em seguida o vídeo exclusivo que simula, entre tantos produtos da linha ainda em desenvolvimento, vislumbres de óculos redondinhos de intelectual mod style (como os de John Lennon) e relógios nos quais a silhueta do quarteto atravessando Abbey Road sublinha os ponteiros no mostrador dos relógios. Fantasia pura.

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Toda a grandiosidade dessa operação é confirmada por Mauricio de Souza, diretor de produto da grife, arrematado por Caíto depois de passagens por grandes redes de fast fashion como Renner, C&A e Riachuelo: “São 10 óculos lançados por semana e 1,5 milhão de peças por ano. Todo esse crescimento implica num violento sistema de logística, já que fabricamos muita coisa na China ou produzimos peças por lá e montamos na Zona Franca de Manaus. Não é brincadeira, ainda mais com o dólar em alta”, revela, acentuando que o fato de não venderem simplesmente produto, mas contarem histórias através das linhas lançadas, gera uma estrutura criativa que busca liberdade de brainstorm dos designers e uma sintonia fina entre eles e o pessoal de compras: “Estimulamos a criatividade e damos as ferramentas técnicas e de business para que nosso time de criação possa se desenvolver”.

É preciso mesmo muito amor a esse negócio e, por isso, o séquito de amantes por Chilli Beans mostra literalmente na pele a chancela, sem nenhum medo de ser feliz. Além dos cabelos arrrepiadinhos, madeixas coloridas com pegada cosplay, regatas estilo rocker, skinnys e bermudas transadas que fazem parte do seu arsenal, o clã pontifica um sem-número de riscos, piercings e tatuagens, muitas delas no formato dos óculos da marca ou da pimentinha que forma a sua identidade visual. Daí a presença no navio de Ami James, o tattoo bad boy, que vai abrir estúdio dentro da nova loja da Chilli Beans a ser inaugurada brevemente em Miami. Tudo isso só confirma o fato de que a turma de Caíto têm menos medo de carimbar a grife na pele do que o nome do namorado(a), o que leva um estupefato João Gordo a celebrar no palco: “Nossa, meu! Eles comemoram as vendas como se o time favorito tivesse feito um gol”.

João Gordo: para o músico e apresentador, a turma da Chilli Beans "equivale a uma torcida organizada de fanáticos, tipo Flamengo ou Gaviões da Fiel" (Foto: Ale Frata / Divulgação)

João Gordo: para o músico e apresentador, a turma da Chilli Beans “equivale a uma torcida organizada de fanáticos, tipo Flamengo ou Gaviões da Fiel” (Foto: Ale Frata / Divulgação)

“A gente saiu de um ano (passado) que começou esquisito completamente vitoriosos”, conta o spectacles tycoon, revelando que é possível remar na contramão da maré e não afundar num tsunami muito pior do que aquele emborcou o Poseidon, o da economia atual.

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No jantar exclusivo e em papo com HT, o empresário com cara de enfant terrible, daqueles que ainda devem guardar a coleção de Playmobil da infância no armário, dá a deixa do porquê de ele ser uma espécie de Sr. Wonka (de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”), mantendo aquele brilho de garoto no olhar: “Proíbo há anos minhas equipes de estilo de pesquisarem produto nas feiras de Paris e Milão. Vai viajar pra fora, para o Nepal, para a Ásia, sei lá, vai descobrir o mundo que é isso que importa. E não pego profissional formado, vou nas escolas de moda e contrato a garotada nova, com gás, mas sem vícios de mercado. É isso que me interessa: gente com vertente lúdica, que possa ser trabalhada como massinha de modelar”. Sim, Caíto é mesmo uma versão real do Sr. Wonka e sua trupe tão engajada quanto os intrépidos Oompa Loompa. Só saem de cena os chocolates e entram os acessórios divertidos.

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Sr. Wonka: personagem interpretado por Johnny Depp no longa-metragem de Tim Burton parece incorporar na persona do empresário Caíto Maia, que demonstra ter pleno conhecimento das palacvras “fantástico” e “espetáculo” (Foto: Reprodução)