Lúcio Mauro Filho conta de sua paixão como DJ e fala do preconceito de quem não sabe de sua história musical: “Acham que eu estou só aproveitando da minha fama e me arriscando em um outro palco”


O ator e humorista ainda desabafou sobre o momento social em que tudo é questionado e criticado. “Tem gente que não entende nada e fala mal pelo simples prazer de ofender. Parece que todos fizeram a faculdade do Google e se acham intelectuais o bastante para analisar. Essas pessoas precisam ler mais antes de falar, só isso”

Quem vê Lúcio Mauro Filho nos teatros muitas vezes não imagina que ele também brilhe em outros palcos. Além de ator, humorista e escritor, o super artista também acumula a função de DJ. E não pense que é só uma brincadeirinha ingênua de fim de semana. Foi isso o que vimos na primeira edição da festa Bailinho na Arena Banco Original. Ao lado de Rodrigo Penna, idealizador do evento que completa dez anos em 2017, Lúcio Mauro comandou as carrapetas e agitou a pista do Armazém 3 com seu repertório variado. Em entrevista ao HT, o ator, que começou a tocar com 14 anos, contou que a relação com a mesa de som, a festa Bailinho e o produtor cultural Rodrigo Penna não é novidade. “Eu conheci o Rodrigo na época do Tablado (escola de teatro no Rio de Janeiro) em que nós dois fazíamos curso. Desde essa época, nós brincávamos de tocar em festas de amigos. Um dia, decidimos criar o evento Projeto Ambiente que misturava música e poesia e reunia amigos nossos como Mariana Ximenes e Natália Lage”, lembrou sobre a festa que foi o ponto de partida para a criação do Bailinho.

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“Nessa época, o Rodrigo já estava testando a pista e vendo como funcionava essa ideia de DJ. Só que no Projeto Ambiente, ele tocava músicas mais alternativas. Na verdade, eram uns sons meio malucos. Com o tempo, ele foi sentindo a necessidade de fazer um repertório mais pop, mas do jeito dele. E foi assim que surgiu o Bailinho. Com o crescimento da festa, eu participava sempre que podia. Não precisava marcar ou ter uma data certa. Quando eu estava em casa, era certo que eu ia assumir a mesa de som e tocar”, explicou Lúcio Mauro Filho que já viajou pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador como DJ residente da festa Bailinho.

Rodrigo Penna e Lúcio Mauro Filho na festa Bailinho na Arena Banco Original (Foto: Felipe Panfili)

Se quando o comando musical do Bailinho está nas mãos de Rodrigo Penna o repertório é hiper variado, com Lúcio Mauro Filho não é diferente. Assim como o amigo e responsável pelo evento, o ator também não prepara setlist e nem se priva a um tipo único de música. “Desde sempre, eu nunca goistei de fazer uma lista com as músicas que vão tocar. Eu acho que quem manda nessas escolhas é a própria pista, que vai te dando informações do que o público gosta com o passar da noite. Até porque, nem mesmo o mais infalível dos setlists é garantia de sucesso em uma festa. E o Bailinho é perfeito para esses testes e experiências novas. Lá, naturalmente, as pessoas já vão com os ouvidos mais abertos a todos os tipos de música”, disse Lúcio Mauro que, apesar do caráter plural, prefere black music. “Como as minhas primeiras lembranças musicais são da época da discoteca, nos anos 1970, quando eu era criança e comecei a ouvir rádio, eu acabei sendo influenciado pelo gênero. Então, nomes como Stevie Wonder e Donna Summer são grandes ídolos”, contou o ator que também se declarou fã do funk carioca. “Sempre tive orgulho de defender a música das comunidades”, completou.

Para sua atuação como DJ nas festas de Rodrigo Penna, Lúcio Mauro Filho revelou que precisa levar uma mala a mais só para conseguir carregar os CDs. Segundo o ator, que está se tornando digital aos poucos e com o tempo, ele já levou mais de 400 CDs em uma viagem para garantir a trilha sonora da festa. Sobre a inserção das novas tecnologias neste segmento cultural, Lúcio Mauro lembrou que não será a primeira transformação na maneira de tocar música. “Quando surgiu o CD eu lembro que havia muito preconceito, inclusive meu. Mas a indústria começou a se transformar e produzir novas aparelhagens e, depois de um tempo, a novidade se tornou mídia universal de toda uma geração. Com o advento do gravador de CD, ocorreu uma revolução para todos os DJs. A gente conseguia juntar várias faixas de álbuns próprios ou de amigos e um único CD”, relembrou.

O ator e humorista contou que começou a tocar como DJ aos 14 anos (Foto: Felipe Panfili)

Com a facilidade do gravador de CD e a maioridade completada por Lúcio Mauro Filho, o ator passou a trabalhar como DJ de forma mais profissional no final dos anos 1990. “Eu comecei a frequentar as boates e tocava como se fosse um jabá. Ao invés de eu receber só para fazer presença em eventos, eu passei a comandar a trilha sonora. Assim, as pessoas me viam trabalhando e, consequentemente, me respeitavam mais”, contou Lúcio Mauro que acredita que o preconceito seja um sentimento comum a todas as profissões e gerações. “Em relação ao ator, eu sinto muito um dualismo entre amor e ódio. E essa situação piorou ainda mais depois que confundiram o significado de ator e celebridade e misturaram tudo em um rótulo só. O que eu vejo hoje em dia é que o ator entrou em uma categoria junto com outras milhares de ocupações que não podem nem ser chamadas de profissão. Quem não conhece a minha trajetória como DJ e me vê em cima do palco tocando, acha que eu estou só aproveitando da minha fama no teatro e na televisão e me arriscando em um outro palco. Mas eu respondo a esse tipo de preconceito tocando e mostrando o que eu sei”, argumentou Lúcio Mauro que garantiu não se abalar com quaisquer comentários maldosos.

Por falar na patrulha contemporânea, Lúcio Mauro Filho ressaltou o uso da internet como ferramenta para disseminar ideias contrárias. Segundo o ator, hoje em dia, com o advento das redes sociais e a possibilidade dos perfis falsos, as pessoas passaram a sentir prazer em falar mal dos outros. No entanto, engana-se quem pensa que isso é um fator complicador no trabalho de Lúcio Mauro, ainda mais quando o assunto é comédia. “Eu trabalho desde os meus 16 anos, já estou acostumado. Então, eu não me abalo com nada. Eu escuto as críticas, e não me incomodo em recebê-las, mas o que não for proveitoso eu ignoro. Eu já tenho o meu público que segue o meu trabalho e gosta da minha maneira de fazer humor. É só para eles que eu tenho que dar alguma explicação. Até porque, hoje em dia, se a gente fica se preocupando com todos os comentários que ouvimos diariamente, acabamos paralisados. Tem gente que não entende nada e fala mal pelo simples prazer de ofender. Parece que todos fizeram a faculdade do Google e se acham intelectuais o bastante para analisar. Essas pessoas precisam ler mais antes de falar merda, só isso”, desabafou o humorista que acrescentou sobre a questão da discussão de ideologia na atual maneira de fazer piada. “Depois do politicamente correto, agora estamos vivendo um momento em que as pessoas estão exarcebando as opiniões e confundido os conceitos de ideologia. Nós estamos sempre em uma montanha russa: ora mais liberais, ora mais tensos. E, neste momento, estamos na fase do retrocesso”, completou.

“Tem gente que não entende nada e fala mal pelo simples prazer de ofender” (Foto: Felipe Panfili)

O fato é que, apesar dos comentários, preconceitos e dificuldades para se fazer arte em tempos de cólera, Lúcio Mauro Filho segue com sua carreira a todo vapor. No teatro, o ator integra o elenco do espetáculo “5X Comédia”. Depois do sucesso de estreia em solo carioca, o elenco, que ainda tem Bruno Mazzeo, Fabiula Nascimento, Debora Lamm e Thalita Carauta, segue em viagem pelo Brasil. No cinema, o ator estreia em julho o filme “Chocante”, de Bruno Mazzeo, que conta sobre uma boy band dos anos 1980. Para as telonas, Lúcio Mauro Filho contou que também está escrevendo um roteiro. Por fim, o ator também marca presença em um projeto para televisão. Misterioso, Lúcio Mauro Filho contou que dentro de alguns dias descobriremos a novidade. O que será que vem por aí?

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