Françoise Forton solta o verbo sobre os 50 anos de carreira, o Carnaval, as eleições de 2018 e feminismo


No ar em Tempo de Amar, Françoise Forton conta que seguirá em cartaz com o espetáculo Estúpido Cupido, sucesso de bilheteria há dois anos. A peça é uma comemoração à metade de um século de sua carreira. Para completar, ela ainda se mostrou uma profissional cheia de opinião ao falar sobre temas polêmicos

O feriado de Carnaval para uns significou uma maratona de festa e, para outros, um descanso merecido depois de muito trabalho. Françoise Forton se encaixa no segundo grupo. A atriz aproveitou os dias livres da novela Tempo de Amar, para ficar em casa com a família, mas ao mesmo tempo não deixou a folia de fora. Na verdade, a televisão ficou sintonizada na Globo, a emissora que transmitiu os desfiles das escolas de samba. “Sempre gostei muito de carnaval, já desfilei várias vezes. Acho importante torcer pelas escolas, porque o trabalho que elas fazem é um espetáculo teatral, com história, humor e alegria. É uma festa popular muito bem feita, o que explica a paixão dos brasileiros por este período”, explicou a mangueirense que cultiva um carinho pela Grande Rio. De volta à rotina, ela planeja terminar em grande estilo a novela e já está arregaçando a manga para os seus próximos projetos.

Françoise Forton em ensaio de Carnaval (Foto: Janderson Pires)

Assim que Tempo de Amar tiver o seu fim, a atriz irá voltar com a peça Estúpido Cupido. O espetáculo foi aplaudido de pé cerca de dois anos atrás, quando entrou em cartaz pela primeira vez. O texto foi escrito pelo dramaturgo Flávio Marinho na busca de homenagear os recém completados cinquenta anos de carreira de Françoise. A ideia é que a artista comemorasse a data com o que mais gosta de fazer: atuando. “Comecei muito menina e nunca me importei com datas, até que o meu marido me falou que eu iria fazer meio século de carreira. Chegamos a este número olhando recortes de jornais. Adorei poder celebrar com uma peça, mas a verdade é que sempre comemorei todas as vezes em que entrei em cena. E ainda quero mais projetos! Pretendo seguir nesta celebração pelo resto da vida”, informou.

A atriz fala sobre a necessidade de ter uma memória política (Foto: Janderson Pires)

O texto foi escrito especialmente para Françoise e o título resume bem esta característica, pois faz um paralelo com o nome da primeira novela que protagonizou, Estúpido Cupido, de 1976. “Tenho um carinho muito grande por esta minha personagem, a Tetê. Até hoje as pessoas falam dela quando encontram comigo na rua. Quando toca a música Estúpido Cupido em alguma festa é impossível não lembrar. Tenho um carinho enorme por esta obra e ganhei grandes amigos por causa dela”, lembrou. Isto, inclusive, pode trazer algumas confusões, já que alguns fãs da trama podem pensar que é uma adaptação da trama para os teatros. “Outra familiaridade, fora o nome, é que o enredo possui uma festa dos anos 60, com músicas típicas da época. Isto foi muito legal, porque fez o público dançar, cantar e pedir mais”, contou a atriz. Apesar da novela ter sido feito nos anos 70, ela se passa na década anterior, por isso a semelhança entre os roteiros. Mesmo tendo passado quase dois anos desde a estreia, a artista garantiu que não houve mudanças no espetáculo, até porque afirmou que possui um carinho muito grande por todos os envolvidos.

Françoise vai voltar aos palcos com a peça em homenagem aos seus 50 anos de carreira (Foto: Janderson Pires)

A carreira de Françoise também poderá ser revisitada através do Canal Viva. Na programação está sendo exibida novamente os sucessos Explode Coração e Bebê a Bordo, ambos com a participação da atriz. “Quando tenho oportunidade, eu tento assistir, porque é gostoso pensar no que vivi. Estava conversando com o Tony Ramos sobre Bebê a Bordo, relembrando a novela”, contou.

Em cinquenta anos, muita coisa mudou. Um exemplo nítido disto é poder acompanhar a trajetória de novos talentos que estão chegando agora às telinhas. No entanto, a atriz acredita que a geração atual é tende a ser mais iludida pela quantidade de seguidores e fãs que os rodeiam o que pode influenciar na qualidade do trabalho que entregam. “Estamos em um tempo diferente. Como qualquer carreira, a nossa precisa de muita batalha, convicção e estudo. Temos que trabalhar a todo o momento com pés no chão. Conheço muitos jovens que estão preocupados em fazer isso, mas normalmente as pessoas ficam muito inebriadas com o título de celebridade, no entanto isto não se sustenta se o profissional não tiver uma base sólida. O ator tem que minimamente se formar e se informar”, explicou. Os desafios do artista no século XXI não param por ai. O mercado está passando por diversas mudanças que podem afetar o futuro da forma como se produz a cultura no Brasil. “Estamos passando por uma crise, evidentemente, mas o teatro não morre. Temos o Fernando Bicudo como uma grande personalidade liderando o Theatro Municipal, por exemplo, então acredito que há esperança”, garantiu.

A atriz acredita no futuro da cultura (Foto: Janderson Pires)

Grande parte destas mudanças que ocorrem no Brasil existe em função dos problemas e escândalos políticos. Em 2018, a atriz declarou que prestar atenção no andamento destes casos é importante. “Estamos vivendo um momento curioso. As informações estão mais disponíveis através da internet e acredito que isto seja uma ferramenta importante, atualmente, porque o povo não pode perder a sua memória. Temos que lembrar dos governantes que já escolhemos e que não deram sorte. Está em nossas mãos, principalmente em ano de eleições, fazer um Brasil melhor”, informou. Segundo ela, uma forma de acabar com estes problemas é cada um se policiar para não praticar as pequenas corrupções do dia a dia, porque podem ser apenas o início de um grande escândalo no futuro. “Temos que melhorar a educação do país e valorizar a arte e a cultura. Sem isso não vamos conseguir um país melhor”, declarou.

A atriz fala sobre a luta das mulheres na sociedade atual (Foto: Janderson Pires)

Melhorar nestes pequenos aspectos também influencia na forma como a mulher é vista na sociedade atual. Françoise já vê uma grande melhor na maneira como o seu gênero é visto na sociedade, ela mesma acredita que foi parte do grupo que ajudou nestas melhorias. No entanto, ainda pretende ver mais mudanças. “O número de papéis para mulheres maduras é muito menor, o que é controverso porque conforme crescemos vamos nos tornando mais experientes e com mais cultura. Por outro lado, atualmente temos a vantagem de poder falar, com a arma da internet. De qualquer forma, é uma luta que continua, ainda temos muito o que ganhar. Acredito que os jovens serão muito promissores nesta batalha de abaixo as diferenças. As mulheres devem ser respeitadas pelas suas escolhas e talentos. Ainda temos um grande caminho pela frente”, garantiu.