Festival do Rio #13: após a premiação, um balanço sobre cinema e política nacional


Walkíria Barbosa e Ilda Santiago, diretoras do evento, ressaltam o caráter transformador da sétima arte

“Um festival político em vários níveis diferentes”. Esta declaração, proferida durante a festa de encerramento por Ilda Santiago, diretora de programação do Festival do Rio, resume bem como foi esta 13ª edição do evento. De fato, houve política dentro e fora da programação. Houve política tanto no filme de abertura, Amazônia – a ecológica produção franco-brasileira que revela a exuberante floresta tropical em recursos digitais inéditos –, quanto na produção que encerrou a mostra, Serra Pelada – a aventura de Heitor Dhalia que pretende desvendar, através da ficção, um momento recente da história brasileira. Em ambos os casos, a excelência técnica norteou o trabalho das equipes, provando que é preciso, mais do que nunca, refinar o processo de produção para que o cinema brasileiro enquanto produto possa ser competitivo no mercado exibidor.

Houve política nas discussões sobre cinema autoral e comercial, uma vez que algumas produções que priorizam a bilheteria ganharam destaque. Afinal, o Festival exibiu tanto a última empreitada do cineasta Paul Schraeder, The Canyons, rodada com dinheiro do próprio bolso e visando a liberdade de expressão, como produções brasileiras despretensiosas como Mato Sem Cachorro, uma visível tentativa do cinema nacional de amealhar uns (bons) trocados fazendo uso das fórmulas de sucesso em Hollywood.

E houve política por ocasião da exibição de The Battle of AnfAR, o documentário que revela a faceta ativista da estrela Liz Taylor, uma feroz defensora da pesquisa para a cura da AIDS. O desdobramento do filme, com coquetel repleto de famosos e baile de gala para arrecadar fundos, prova o quanto politizado está o nosso ambiente cinematográfico, com direito a pencas de celebridades posando para os paparazzi com o objetivo de ganhar a ribalta em prol de uma boa (ótima!) causa.

E, do lado de fora do red carpet, a política também rolou solta, com manifestantes que pleiteiam melhores condições de trabalho e transparência na cena política pretendendo ganhar visibilidade internacional através do Festival. Naturalmente, suas reivindicações são válidas, mas, obviamente, encontram-se fora de lugar. Não é agredindo atores à entrada das premières ou invadindo cinemas minutos antes da exibição de filmes que se ganha o respeito – e a adesão! – do povo. A frase “Eles erraram de vilão”, dita por um assessor do primeiro-ministro britânico Tony Blair em A Rainha (2007), a ficção de Stephen Frears que procura esclarecer o silêncio da soberana da Inglaterra por ocasião da morte da princesa Diana, é perfeitamente cabível para exemplificar o quanto esses ativistas cariocas perderam o rumo, canalizando seu descontentamento para alvos fáceis fora de sentido. Aliás, por falar nas mazelas da aristocracia inglesa, essa edição do Festival do Rio ainda exibiu o longa Diana, a produção de Oliver Hirschbiegel sobre os últimos anos de uma Lady Di interpretada por Naomi Watts. De fato, a opinião de Ilda Santiago faz todo sentido.

Na cerimônia de premiação, comandada por Marcos Veras e Julia Rabello, Walkíria Barbosa que, junto com Ilda, é diretora executiva do Festival do Rio, frisou a importância do cinema como ferramenta da transformação social. Segundo ela, “a direção sempre procura abrir e fechar o evento com produções que remetem ao Brasil e, esse ano, essa coesão ficou muito bem costurada”. Ela ainda completou que o cinema é capaz e transformar o pensamento e que “a arte é a única forma real de alcançar aquela emoção verdadeira, do tipo que pode criar um fato político novo”.

Atores como Juliano Cazarré, Leandra Leal e Lázaro Ramos, presentes ao encerramento no Armazém da Utopia, no cais do porto, concordaram com Walkíria. “O Panorama do Festival é de muita positividade”, afirmou Leandra, agraciada como melhor atriz por O Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra, que dividiu o prêmio de melhor longa-metragem de ficção com De Menor, de Caru Alves de Souza. Histórias de Arcanjo – um documentário sobre Tim Lopes, de Guilherme Azevedo, ganhou o prêmio de melhor documentário longa-metragem, e Tatuagem, de Hilton Lacerda, recebeu cinco troféus Redentor, inclusive o de melhor ator para Jesuíta Barbosa.

Entre os presentes, atores como Betty Faria, Leandra Leal, Antonio Pitanga, Lázaro Ramos, Maria Ceiça, entre outros.

Fotos Vinicius Pereira

* Por Alexandre Schnabl