Festival do Rio 2015: é dada a largada para a maior festa do cinema nacional, que em sua abertura foi da ode a Chico Buarque à ferveção na The Week


Evento chega à sua 17ª edição e escolhe o documentário “Chico – Artista brasileiro” para começar a maratona cinéfila com exibição no Cine Odeon, que foi seguida por uma festa mais que estrelada no endereço renovado da Rua Sacadura Cabral

“Está aberta a temporada cinéfila carioca!”. Com essa frase, Milton Gonçalves, apresentador da cerimônia de abertura do Festival do Rio, deu início à exibição do documentário “Chico – Artista brasileiro” e, consequentemente, à 17ª edição do evento, que vai até o dia 14 e, neste ano, retornou ao seu lar, o Cine Odeon – Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, reunindo a nata do audiovisual brasileiro, que em seguida rumou para a The Week, onde foi realizada a festa de abertura. HT, claro, esteve em ambos os locais e conta abaixo como foi o início da celebração.

No tapete vermelho, armado em frente ao Odeon, a mistura de cineastas e do star system atraía pedestres que passavam por ali e não resistiam à oportunidade de bisbilhotar os artistas. E, um dos primeiros a chegar foi Miguel Faria Jr. “Para mim é uma honra poder abrir o evento pela terceira vez. Como cineasta carioca, fico muito feliz, ainda mais porque Chico é a cara do Rio”, comenta o diretor do documentário, que já exibiu em anos passados “O Xangô de Baker Street” (2001) e “Vinícius” (2005), e não deixa de citar a importância do compositor, cantor e escritor para a cultura brasileira. “Ele já se tornou fundamental tanto para o país quanto para o público. É um dos maiores artistas de todos os tempos, e sinto que o seu peso só poderá ser realmente avaliado depois que ele morrer”.

Miguel dá uma pausa, porque nessa hora passa Ilda Santiago, uma das diretoras executivas do Festival do Rio, que já chega avisando: “Hoje a noite é dele!”, antes de explicar a escolha do título para a abertura do evento. “É um filme que você sai do cinema de alma lavada, com orgulho de ser carioca e brasileiro. É um artista incrível”, conta. Para a 17ª edição do festival, mais de 250 filmes de 60 países serão exibidos por cerca de 20 pontos na cidade, que incluem praças públicas e premiações. Isso tudo em meio a uma urbe sempre mutável, que mais parece um corpo vivo em constante desenvolvimento e, claro, também gera seus desafios. “Fico feliz de poder constatar que conquistamos uma sintonia e uma lealdade tanto do Rio de Janeiro quanto do público e dos patrocinadores. Os cariocas são os grandes anfitriões dessa festa. O festival é um work in progress, assim como a cidade, e ambos vão mudando juntos”, avalia.

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Mas as constantes reformas e construções da capital fluminense estão longe de serem os únicos problemas enfrentados por um evento desse porte. Em meio a uma crise financeira que vem castigando há meses o país, como viabilizar um festival de cinema, sem perder o seu caráter de referência na indústria, e mantendo a qualidade pela qual é reconhecido há quase duas décadas? “Sinto que a cada ano, a nossa presença no Brasil e no exterior é mais forte, basta olhar para a quantidade de executivos que querem participar desse projeto e entendem o nosso objetivo. Se hoje vivemos uma crise, ela não afeta o cinema”, avalia Walkiria Barbosa, que também é diretora executiva do evento.

Apesar do otimismo e do alívio, Walkiria admite que, em 2015, os desafios se provaram maiores – assim como as colaborações. “Nós tivemos menos dinheiro para essa edição, mas as parcerias que fizemos foram extraordinárias. Por exemplo, o dólar está mais alto, então não tínhamos como pagar passagem de primeira classe para muitos dos nossos convidados internacionais. Mas muitos deles estavam tão dispostos a participar, que não se importaram em fazer o próprio upgrade“, comenta, ressaltando que, em tempos de crise, há uma tendência maior de o público consumir entretenimento e, assim, fugir da realidade. “E o cinema exerce muito bem essa função”, aponta.

Eis que os flashes começam a pipocar pelo tapete vermelho e, voilá, chega Caetano Veloso de supetão, que parou por alguns segundos para os fotógrafos e rumou direto para a sala de imprensa, acompanhado da namorada, Luana Moussalem. Bianca Bin também segue a deixa, enquanto Antonia Fontenelle se diverte com os fotógrafos. Logo em seguida, aparece o lusitano Paulo Rocha, que também levou a namorada, Juliana Pereira, mas não se importou em falar com a imprensa e comentar as particularidades do cinema brasileiro, quando comparado ao português. “Aqui há uma vantagem de mercado muito maior, um posicionamento mundial melhor com a própria produção, e sinto que o Brasil dá mais oportunidades ao audiovisual”, compara.

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Quem faz eco às afirmações de Paulo é seu conterrâneo, já quase carioca, Ricardo Pereira, fã e colega de futebol de Chico Buarque, de quem ficou mais próximo graças à amizade em comum com a cantora lusitana Carminho. “O Brasil produz atualmente uma série de filmes comerciais que eu não vejo sendo feitos em Portugal, o que alavanca muito mais a indústria. O nível e o profissionalismo são os mesmos, ambos são respeitados, mas à medida que os portugueses produzem 20 e poucos filmes por ano, os brasileiros lançam mais de 100”, avalia o ator, que estava acompanhado da mulher, a também portuguesa Francisca Pinto.

Mais close no tapete vermelho e eis que passa correndo Suzana Pires, comentando que pretende ver apenas os filmes dos amigos no festival e que está desenvolvendo um novo roteiro para o cinema. E, reforçando ainda mais o star system do evento, chega Thaila Ayala, que acabou de desembarcar de Los Angeles, onde está morando e trabalhando atualmente, e para onde irá voltar ainda no domingo. A atriz comenta com HT que, baseada em suas experiências tanto aqui quanto na terra do Tio Sam, o cinema brasileiro vai muito bem sim, obrigada. “Sinceramente, o Brasil não deixa muito a perder. Eu participei de dois filmes aqui e fui muito feliz, nunca tive problema de produção ou de falta de profissionalismo das minhas equipes”, comenta. E pelo que Thaila reparou, essa maturidade do setor também é notada lá na gringa. “Sinto que a porta para a nossa produção audiovisual está muito aberta lá fora, e os filmes têm chegado com muito mais força”, explica, citando “Que horas ela volta?”, de Anna Muylaert, como um dos longas que mais chamaram atenção dos norte-americanos.

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Prestes a começar o filme, artistas começam a chegar correndo para a sessão de abertura e um desses casos é Paolla Oliveira, que também passa batida pela imprensa, mas não antes de fazer uma pausa para elogiar o look de Bárbara Paz, que estava posando para os paparazzi naquele momento. “Gataaaaaa!”, brinca, antes de entrar para o Cine Odeon. Laila Garin, por sua vez, parte do elenco de “Chico”, não deixa de comentar sua felicidade ao participar do documentário. “Eu canto uma música no filme, que o Miguel (Faria Jr., diretor) deixou livre para que eu escolhesse. Fiquei entre ‘Bastidores’ e ‘Uma canção desnaturada’, ambas com uma grande carga emotiva e que mexem muito comigo, mas acabei optando pela última, por ter a chance de reimaginar algo do ‘Ópera do Malandro’“, explica.

Pronto, é dada a largada para a cerimônia de abertura que antecede a exibição do filme e, dessa vez, Milton Gonçalves assume o posto deixado por Cláudia Raia no ano passado, como apresentador da noite, citando os destaques da programação e reforçando o agradecimento aos patrocinadores da edição. Hora de passar o microfone para Walkiria Barbosa, que também frisa a gratidão aos colaboradores e ainda fala sobre a importância de Chico Buarque. “Ele me inspira a falar sobre um assunto do qual é símbolo, que é a luta contra a ditadura. Hoje, mesmo nos momentos mais difíceis, tenho certeza que é imprescindível continuar lutando”, disse, citando ainda sua emoção ao firmar a sede de produção do evento na Casa do Estudante, tantos anos após o local ter se tornado um ícone de resistência à ditadura militar.

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Já durante seu discurso, Ilda se entrega à nostalgia e comemora a volta do Festival do Rio ao Cine Odeon. “Aqui é a casa do festival, é onde vivemos tantos momentos bons e maravilhosos. O público carioca tem o prazer de voltar a ter esse cinema à sua disposição”, comentou, antes de fazer um tributo a Jytte Jensen, colaboradora de peso do evento, e Suzy Capó, criadora do Prêmio Félix. A cerimônia termina com Milton aos berros: “Esse país não é nada sem o Rio de Janeiro! É aqui onde começa tudo!”.

Mais de duas horas depois, o público saía um pouco abalado da sala de cinema, visivelmente emocionado com a trajetória de Chico Buarque contada por Miguel Faria Jr. “Amei, chorei, cantei, fiz tudo. Fui do amor à poesia”, comentou rapidamente Paolla Oliveira. Cris Vianna, acompanhado do namorado Luiz Roque, confessa: “Chico é uma paixão musical universal, né? E o filme é bem redondo, encantador e divertido”, ao que Bárbara Paz completa “Ele é nosso ícone nacional”.

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Enquanto isso os convidados seguiam para a festa na The Week se dividindo entre táxis e vans para os VIPs. Não era nem meia-noite quando a boate já estava abarrotada de pessoas. Por lá, o público se dividia entre os três andares da casa, lotando corredores e as pistas de dança, armadas no térreo – mesmo lugar da cabine de fotos e das mesas – e no último piso. De um lado, Zezé Polessa sentada em um banquinho enquanto saboreava seu prato de arroz à piamontese, enquanto do outro, Laila Garin também saboreava o buffet, em pé de frente ao bar, mantendo uma conversa animada com dois amigos. Bárbara Paz dançava feliz em volta das mesas, enquanto Ilda Santiago, no mesmo pique, recepcionava os convidados por ali.

O som comandado pelo DJ Sapucaia reverberava por todos os andares da The Week, enquanto nomes como Camila Morgado, acompanhada do diretor Aluizio Abranches, responsável por seu próximo filme, “Bem casado”, se acabava na pista de dança. Lorena Comparato, por sua vez, comemorava a ótima reestreia de “Pé na cova”, e confessa ao HT: “Eu estou bem nervosa, porque na próxima semana vai ao ar a minha primeira cena fazendo pole dance“, disse. A atriz mostrou no celular algumas fotos dos bastidores e, realmente, não há com o que se preocupar.

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Na área de fumantes, abarrotada de convidados que se surpreendiam com a qualidade da cerveja artesanal produzida pelo Canal Brasil (sim, empreendedorismo é a chave para superar a crise, aparentemente), Fabrício Boliveira comenta com HT sobre “Nise – O coração da loucura”, filme de Roberto Beliner ,do qual participa e está concorrendo à mostra competitiva da Première Brasil, no festival. “Nise da Silveira foi a primeira aluna de medicina no Brasil, e mudou o conceito do tratamento dentro de um hospital psiquiátrico, trabalhando técnicas de artes plásticas com seus pacientes, que ela chamava de clientes”, conta o ator. Mas, Fabrício, como você lida com a expectativa de estar concorrendo ao prêmio? “Ganhar é sempre bom, porque eu vejo como a recompensa pelo esforço de um trabalho coletivo bem feito”, diz, acrescentando que já viu o longa e o achou emocionante.

Fabrício, que há poucos dias participou do 19º Brazilian Film Festival of Miami, ainda conversa com HT sobre o atual momento do cinema brasileiro. “Estamos em uma boa fase, mesmo com a crise. Acho que mesmo lidando com esse aperto, nós conseguiremos nos sair bem e com bastante criatividade. Eu tenho visto muitos filmes brasileiros, e com roteiros cada vez mais ousados. Estamos começando a abrir o olho para a dramaturgia. A política está em tudo o que fazemos, e o termo ‘social’ às vezes vem muito carregado de um caráter assistencialista e panfletário. O cinema tem que ser livre!”, enfatizou.

Logo ali ao lado, Gabriel Leone passava em direção à pista de baixo com novo visual,  mostrando que o Gui de “Verdades Secretas” ficou no passado. “Já fiz a barba, mudei o visual e desapeguei total”, ri. Enquanto isso, as caixas de som estouravam com uma mistura de flashback, que ia de Prince e Elton John a OutKast e Michael Jackson, com artistas pop atuais, como Ed Sheeran, Bruno Mars e Pharrell Williams. Por volta das 2h30, o bar fechou as portas, o buffet foi retirado da mesa, mas o a música continuou, o que era motivo suficiente para os convidados permanecerem celebrando o audiovisual brasileiro e a noite carioca. Quase uma cena de filme, enquanto lá fora a cidade continuava naquele corre-corre e, no dia seguinte, a maratona cinéfila voltaria a todo vapor. É como disse Ilda Santiago durante a cerimônia de abertura: “O cinema é psicanalítico, é um reflexo da vida, e aponta para o futuro. Ele pode não ser sempre feliz, mas nos faz pensar”.