Família Dó-Ré-Mi: na presença da mãe coruja Baby do Brasil, Pedro Baby recebe o pai Pepeu Gomes no palco do “Sonoridades”


“Meu filhão e meu pai-pai!” Com curadoria de Nelson Motta, quarta edição do festival, no Oi Futuro Ipanema, dá prosseguimento à apresentação da novíssima nata de novos talentos, com o veterano artista declarando em alto e bom som: “O Pedro tem o melhor de mim!”

* Por Bruno Muratori

No momento que em certa falta de consistência predomina na MPB, pancadões de gosto duvidoso dominam as rádios e composições esdrúxulas se tornam inegáveis sucessos capazes de fazer a rapaziada sacolejar até o chão, é festejo certo quando surge uma boa nova de verdade, daquelas que dão orgulho a quem ainda considera o país celeiro da qualidade musical. Com curadoria de Nelson Motta, o Festival Sonoridades chega à sua quarta edição, no Rio de Janeiro, fiel aos conceitos de alta performance musical, diversidade de estilos e ineditismo que o acompanham desde sua primeira fornada, em fevereiro de 2011, com a histórica apresentação de Seu Jorge e Almaz. De lá pra cá, foram mais de 50 artistas em 26 apresentações que reforçam o posicionamento do Oi Futuro em Ipanema como um espaço singular na história da nova música brasileira. Para este ano, o evento, que vai até o final de novembro, oferece mais uma vez programação de primeira e trouxe, nesta sexta-feira (14/11) e sábado (15/11), a emocionante a apresentação de Pedro Baby, filho de Baby do Brasil e Pepeu Gomes, que reeditou o power trio original dos Novos Baianos.

Fica feio na fotos quem pensa que o moço é daqueles que entra de gaiato no navio e paga mico, insistindo na ribalta só porque é filho de gente de talento. O artista, independente do DNA, é músico de mão cheia e tem carisma de sobra, além de ser um dos mais talentosos guitarristas de sua geração, com suas contribuições valiosas em discos e shows de Gal Costa, Marisa Monte, Bebel Gilberto e Ivete Sangalo, entre outros. Também se revelou grande produtor e diretor musical ao trazer recentemente sua mãe de volta à berlinda e aos palcos. Sucesso espetacular e muito mais que milagre, fruto da sua capacidade. Agora, no Sonoridades, ele apresentou algumas canções de seu primeiro trabalho solo e ainda recebeu seu pai, o guitar-hero Pepeu Gomes, o baixista Dadi e o baterista (e tio) Jorginho nesta histórica reunião dos Novos Baianos, em versão novo milênio, revivendo clássicos da banda e do próprio pai.

O show já começa com “Eu sou o caso deles” e logo Pedro mostra a sua bela voz. Agrada em cheio, deixando cair por terra qualquer dúvida sobre a possibilidade de o rapaz se aventurar somente pela guitarra. Mas isso é só o começo. Bem refinado, com uma simpatia tímida e humildade latente, ele conversa com a plateia em papo tranquilo, tipo entre amigos, num intervalo entre canções de própria autoria. Destaque para participação de Pedro Bibieli no bandolim e violino, cool! O show prossegue com ótimo repertório que gradativamente revela o crescimento de carreira de Pedro Baby. Sim, o baby hoje em dia está só no nome. O tom e ritmo do espetáculo seguem esse fluxo: “Cosmos e Damião”, “Borá lá”, “Tinindo e Trincando” e “Beija”, parceria com Arnaldo Antunes e o primo Betão. Impressiona o que o cara faz com a guitarra e, dali em diante, já fica a dica do que está por vir.

Na canção “Ouro do Sol”, um Pedro Baby emocionado não deixa de citar Moraes Moreira e da inspiração de ter enveredado pelo violão, no inicio da carreira, ao vê-lo tocar. A gratidão, aliás, é uma forma singular de reconhecimento, e o reconhecimento é uma forma sincera de gratidão, ele deixa claro. Boa, menino!

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Fotos: Daniela Dacorso (Divulgação)

Em seguida, ele manda na lata um samba-canção que deixa a plateia ainda mais impressionada: com melodia e tom acertados, gostosinho de ouvir. Aí vem “Pra Matar Meu Coração”, no ponto certo, tanto que se fica com aquela deliciosa dor de cotovelo propícia ao gênero. Se não for assim, não tem graça né?! Falando em emoção, é nessa hora a adrenalina sobe ao patamar da catarse do mais alto nível, quando Pepeu Gomes sobe ao palco. É quando Pedro solta, brincando, que na saída há uma urna para todos contribuírem com o plano de saúde do pai, tamanha emoção. Em “Os Pingos da Chuva”, parceria de Pepeu com Moraes Moreira, os dois se divertem ao tocar com generosidade e sinergia que transcendem a mera formalidade de pai e filho no palco. Batem um bolão juntos, como num duelo de titãs, e fazem solos de quase dois minutos e levando todos ao delírio absoluto. Tanto que Baby do Brasil, na plateia, não se contém e manda um “Glória a Deus!” – É para glorificar mesmo, Baby.

Aí, naquele momento “Novos Baianos”, todo teatro em uníssono canta: “Eu só quero você e mais nada…” Devoção total. “Mil e uma noite de amor” equivale àquela parte do roteiro em que a participação de todo o público se recorda de importante passagem da nossa história musical. Já em “Mistério do Planeta”, Pedro, consternado, ganha um mimo do pai: “Estou muito feliz e emocionado de estar aqui com o meu filho, um músico talentoso que chega para ficar. Vocês não fazem ideia de como está o meu coração agora. Pedro tem o melhor de mim, na sua genialidade, refinamento, honestidade, e que ele não precise passar por muito do que eu passei para levar essa guitarra por aí. Por isso agradeço a Deus o caminho que ele tem pela frente”.

Nesse fluxo de sentimentos, Pedro e Pepeu levam todo mundo a tirar o pé do chão com o sempre espetacular “Eu também quero beijar”, perfeita dica para o fim de semana que se prolonga noite adentro. O número deixa todos cheios de amor para dar e a noite promete, mesmo após o término do show. No fim, ainda dá para HT trocar uma palavrinha com Baby do Brasil, pura felicidade: “Coisa linda ver o Pedro e Pepeu no palco juntos, nesse encontro que todos nós queríamos ver e guardar para o resto de nossas vidas. Acho que é uma marco na carreira do Pedro e para todos que o acompanharam, do tempo dos Novos Baianos, de sua gestação, da época em  que nasceu, depois do nosso grupo, e de quando começamos a fazer a carreira solo. Esses nossos filhos se criaram no meio da música, então, depois dessa trajetória de vida, ver o Pedro se solidificar como compositor e como músico, começando agora como cantor e chamando o pai ao palco, é de chorar”, ela comenta, inebriada. E continua: “E esses solos maravilhosos, que coisa! São realmente algo único, e esse nível musical é algo raro que só acontece de 100 e 100 anos!”

Aproveitando, HT pergunta com está a parceria entre ela e o próprio filho. A cantora enfatiza aquilo que todo mundo já sabe, mas está curioso: “Em 2015 vai sair finalmente o DVD de ‘Baby e Sucessos’, que ele dirige. Esse trabalho é muito esperado, começou com um evento, gerou uma turnê, e dessa turnê saiu o DVD que todo mundo quer conferir desde 2013. Por conta das agendas e da Copa, só vai ser lançado mesmo agora, mas vai! E vou logo avisando: nem tudo será barra pesada no ano que vem, vamos ter esse registro”, ela brinca.

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Fotos: Daniela Dacorso (Divulgação)

Nesse meio tempo, gentilmente Pedro Baby deixa os amigos e larga a tietagem para vir falar com o HT, que pergunta: “Além de um grande guitarrista, você também inspira todos como dublê de cantor e músico em cena, tanto que é responsável pela volta da sua mãe ao cenário musical novamente. Mas, como é esse Pedro na linha de frente, se autodirigindo em um espetáculo próprio?” Ele vai direto ao ponto: “A exigência é natural porque em casa tem um padrão, tanto por conta da inspiração familiar quanto da postura artística. Esse cuidado todo com a música eu aprendi lá atrás, vem dos primórdios. A coisa mais importante com tudo isso é fazer meu coração se entregar, e isso eu tenho na cabeça, junto com a disciplina de querer fazer tudo certinho. Mas, no caso desta noite, o enfoque foi mais dar um conforto ao meu pai e vê-lo se divertir. Mas tudo vai além”.

E continua: “Comecei um processo natural com o violão, depois guitarra, e a voz estava lá. Aí eu quis esperar o tempo passar e amadurecer para começar a me lançar também nesse âmbito, tudo com os pés no chão. Ainda tem muita água pela frente, e eu quero melhorar mais, sou exigente comigo mesmo. As músicas ficaram prontas e agora é a hora de tocar em frente”

* Carioca da gema e produtor de eventos, Bruno Muratori é uma espécie de fênix pronta a se reinventar dia após dia. No meio da década passada, cansou da vida de ator e migrou para a Europa, onde foi estudar jornalismo. Tendo a França como ponto de partida, acabou parando na terra do fado, onde se deslumbrou com a incrível luz de Lisboa e com o paladar dos famosos toucinhos do céu, um vício. Agora, de volta ao Rio, faz a exata ponte entre o pastel de Belém e a manjubinha