Exclusivo! HT bate papo com Sheyla Costa, curadora da Unesco e de “O Boticário na Dança”, que acontece em maio


Entre as atrações, os internacionais Akran Khan, Israel Galván, Cullberg Ballet e Michael Clark Company, além de uma homenagem à Roseli Rodrigues e a visceralidade de Antonio Nóbrega e o Balé da Cidade de São Paulo, by Alexander Ekman

Sheyla Costa: dos palcos internacionais para a curadoria de O Boticário na Dança, com passagem pelo Carlton Dance (Foto: Reprodução)

Sheyla Costa no Salão Assyrio, no Theatro Municipal RJ: dos palcos internacionais para a curadoria de O Boticário na Dança, com passagem pelo Carlton Dance (Foto: Reprodução)

Com sua terceira edição programada para 6 a 10 de maio, no Rio e São Paulo, o Festival O Boticário na Dança, realizado pela Dueto Produções, se consolida como um dos principais eventos do segmento na país, com atrações nacionais e internacionais ocupando o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e o Auditório Ibirapuera. HT bateu um papo exclusivo no Rio nesta tarde de segunda-feira (30/3) com Sheyla Costa, ex-bailarina internacional e curadora do projeto, ao lado de Dieter Jaenicke. Ela, que começou no meio clássico e depois migrou para o contemporâneo, atuando anos como profissional sob a chancela de Antonio Gades (com quem fez inclusive dois filme de Carlos Saura, inclusive “Amor Bruxo”) e Maurice Béjart (1927-2007), foi curadora do antigo Carlton Dance, faz parte do grupo que faz curadoria de dança para a Unesco e seus olhos brilham quando fala das atrações que serão trazidas pelo festival promovido pela empresa cosmética este ano: “A diversidade de trabalhos é impressionante e procuramos montar uma panorama farto de linguagens corporais que vai agradar em cheio o público. Estamos formando plateia no Brasil e isso é gratificante em uma país no qual as verbas governamentais de arte e educação têm ficado para escanteio”.

Este ano, o evento apresenta “Torobaka“, um espetáculo criado por dois conceituados bailarinos, cada um em sua área: Israel Galván, da Espanha, especializado em dança flamenca, e Akram Khan, de Bangladesh e radicado no Reino Unido, cuja companhia já havia sido vista na edição do ano passado. Dessa vez, ele mesmo vem ao lado do espanhol, “em uma obra em que o nomadismo é levado ao extremo, balé contemporâneo que é uma das coisas mais especiais que vi nos últimos anos”, conta Sheyla.

Trecho de “Torobaka” (Reprodução)

A edição deste ano também oferece um farto cardápio ao público que pode ser sintetizado na presença fulgurante da companhia sueca Cullberg Ballet, que traz “11th Floor”, espetáculo que tem um certo quê de anos 1950, com uma luz fantástica e coreografia de Edouard Lock, e as montagens “Cantata” e “Cacti”, do Balé da Cidade de São Paulo. “Enquanto a primeira é muito emocional e tem um aspecto meio italiano, a segunda presenteia o público com a visceralidade de Alexander Ekman e do Netherlands Dans Theater, de Haia, para quem o espetáculo foi concebido e que havíamos pensado em trazer para esta 3ª edição. Mas aí vimos que companhia paulista já havia montado a obra e eles não se apresentavam no Rio há muito tempo. Achamos que tudo caía como uma luva”, ressalta a curadora.

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Trailer de “11th Floor”, obra de Edouard Lock para o Cullberg Ballet (Reprodução)

Para ela, essa diversidade cai como uma luva na variedade de referências formada pelas plateias carioca e paulista, em “um Brasil onde a dança é viva e sobrevive, por exemplo, em quase 200 festivais realizados em solo nacional”. Não é à toa que “Huinzinga”, peça de Antonio Nóbrega, faz parte do repertório deste ano no festival.

Antonio Nóbrega em "Brincante": para Sheyla Costa, o artista sintetiza "a dança ocidental misturada ao gingado brasileiro, sem ser estereotipado" (Foto: Reprodução)

Antonio Nóbrega em “Brincante”: para Sheyla Costa, o artista sintetiza “a dança ocidental misturada ao gingado brasileiro, sem ser estereotipado” (Foto: Reprodução)

“Fomentamos 40 projetos em 16 estados brasileiros e nosso objetivo é democratizar a dança no Brasil, oferecendo o acesso com ingressos entre R$20 a R$60”, completa Estela Midori Matsumoto, gestora de relações com a imprensa de O Boticário. “Nossa iniciativa não tem fins lucrativos, nem está associada a qualquer produto do portfolio da empresa, e patrocinamos desde espetáculos a workshops na área, assim como publicações do segmento”. Sheyla ressalta: “A ideia é promover grandes encontros entre o público e grandes criadores de movimento”.

Daí o convite para a Raça Cia de Dança apresentar nesta temporada “Tango sob dois olhares”, “o derradeiro e mais importante legado de Roseli Rodrigues (1955-2010), fundadora da companhia, que segue seu rumo mesmo após sua morte”, exalta Sheyla: “Mesmo quem já viu, não deixa de se emocionar assistindo novamente e quisemos fazer uma homenagem a essa criadora genial. Esse é a grande obra dela!”, rasga seda a curadora, que ainda fala com os olhos cheios de brilho de atrações como a Michael Clark Company, em sua primeira incursão fora da Europa com “animal/vegetable/mineral”.

Trecho de “Tango sob dois olhares”, “obra master de Roseli Rodrigues”, na opinião da curadora Sheyla Costa (Reprodução)

“O trabalho de Clark é muito especial e merece ser visto no Brasil, não só pela sua força cênica, mas por conta de misturar essa coisa rock’n’roll com uma base sólida de clássico e contemporâneo. Ele começou a carreira Royal Ballet, e isso é fascinante”, comenta Sheyla Costa, acentuando que essa mistura de precisão clássica com a força do pop vem de encontro a “esse momento singular que os brasileiros estão vivendo atualmente. Existe uma relação subliminar, sem dúvida, com todo mundo precisando escoar energias por tudo o que o país vem passando. E a dança é ótimo veículo. “Esse espetáculo estreou ano passado, tem música dos Sex Pistols. Clark fornece ousadia com conteúdo”.

Saiba  mais em http://www.oboticarionadanca.com.br/conheca-o-festival