No Rio por conta da turnê, Thiago Pethit declara: “Esse governador daqui é décadence sans élégance!”


Como parte do projeto A.Nota, o artista traz “Estrela Decadente” para o Oi Futuro e dá uma entrevista exclusiva para HT. E ainda fala sobre Alice Braga, “Moon” e conta o que é decadente no país!

*Por João Ker

“Essa próxima música é um convite”, anuncia Thiago Pethit envolto em um aura de fumaça e luz vermelha durante a segunda apresentação da turnê Estrela Decadente” no Oi Futuro Ipanema. “Depois do show a gente conversa melhor sobre ele”, completou rindo e flertando com o público, antes de cantar “Dandy Darling” (“Amigo, escute o que eu digo/Só venha comigo se quer se perder por aí”). A presença de palco que o cantor exala é impressionante. Em uma mistura de Mick Jagger e Ney Matogrosso (“Eu tô apaixonada por ele! É como Iggy Pop encontra Lou Reed e alguma outra coisa muito boa”, declara uma gringa na plateia), Thiago conquista o público com sua simpatia, emoção na performance e bom humor debochado (“Descobri que sempre tenho insônia antes de fazer show no Rio. Imagina se vem uma celebridade, um ex-BBB ou algo assim?!”).

As duas apresentações desse fim-de-semana são parte do projeto A.Nota, que através de preços populares traz artistas de pequeno porte, mas grande sucesso online, para um contato mais próximo com o público. Thiago, por sinal, é um dos muitos cantores brasileiros que vem descobrindo um jeito de divulgar sua músicas sem precisar recorrer ao mainstream. “Eu não tenho nenhuma música em novela e nenhum interesse em ter. É algo que eu nunca me empenhei em conseguir”, começa o cantor. “Sou um ser naturalmente da internet. Fico horas no computador e é porque eu gosto, eu preciso, eu cresci assim. Sei que alguns artistas encaram rede social como uma tarefa a ser cumprida, mas eu me delicio fazendo isso. Sou eu mesmo que mexo no meu Twitter, na minha página do Facebook, Instagram etc…”.

Thiago soltando uma das várias notas guturais durante o show (Foto: Ricardo Ferreira)

Thiago soltando uma das várias notas guturais durante o show (Foto: Ricardo Ferreira)

Até hoje, o maior sucesso de Thiago na internet é o vídeo para Nightwalker”, single retirado do primeiro álbum Berlim, Texas” (2010). Nele, Alice Braga aparece em um plano-sequência enquanto dança sozinha com a maquiagem borrada pelas ruas da capital paulista. “O vídeo aconteceu por causa dela”, conta o cantor. “Nós somos amigos há bastante tempo e ficamos uns anos sem se ver. Então, quando a gente se encontrou por acaso, ela falou meio que brincando ‘ah, vamos fazer um videoclipe juntos’. Eu não sabia se ela estava falando sério, mas fui atrás e e ela topou. Daí nós pensamos ‘Em que papel a gente gostaria de ver a Alice?’ e montamos um vídeo para ela.”

Videoclipe de “Nightwalker”, com Alice Braga (Divulgação)

Os vídeos, por sinal, são uma parte elementar da obra de Thiago Pethit. “Minha performance não é muito planejada. No palco, eu deixo a emoção tomar conta e as coisas acontecem. Meu processo criativo é muito mais imagético. Enquanto eu vou compondo e gravando a música, eu já penso no figurino, no videoclipe e em como eu posso estender aquele som visualmente”. Por sinal, seu último single, “Moon”, retirado do álbum “Estrela Decadente”, teve uma projeção visual que causou um certo burburinho nas redes sociais. No vídeo, repleto de cenas de sexo e nudez, Thiago é integrante de um grupo de garotos de programa onde todos têm um “coração que muda com a lua”. Com seu envolvimento tão latente nos próprios projetos, Thiago explica o conceito do curta-metragem e o quão pessoal ele é: “Claro, eu sou garoto de programa!”, declara o cantor. Depois de uma breve pausa, ele começa a rir da própria piada e explica: “Eu disse isso na tevê uma vez, mas não expliquei que era uma piada. Eles vieram me perguntando se tinha alguma inspiração pessoal no clipe e eu disse ‘sim, eu fui garoto de programa e, por sinal, é assim que paguei meu primeiro disco’. (risos) Agora falando sério, a música é super pessoal, mas ela não trata sobre prostituição. O vídeo também não é sobre sexo, ou sobre ser garoto de programa. É sobre um lado selvagem que existe em mim e nas pessoas, de uma maneira geral. Porque eu fico pensando: Se você trabalha 10 horas por dia dentro de uma corporação, ganhando dinheiro para um chefão, qual a diferença disso para um garoto de programa? Você doa o seu corpo e a sua vida para outra pessoa do mesmo jeito”.

Videoclipe de “Moon” (Divulgação)

Quando se é músico, doar a vida ao trabalho é algo que normalmente pode vir atrelado com um pouco de solidão. Vida de hotel e de estrada é algo que pode causar reações diversas para cada um. Durante a entrevista, Thiago admite que acha esse processo todo muito difícil: “Eu sou uma pessoa muito fechada, vivo dentro do meu casulo e normalmente não gosto de pessoas. Não sou daquele tipo que chega e tem vontade de interagir com todo mundo. É algo mais forte que timidez. Normalmente eu fico em casa, no meu apartamento. E tem essa coisa de eu odiar quarto de hotel: acho que são muito impessoais e sem vida. Eu passei um mês e pouco fazendo turnê pela Europa, com uma banda que não era a minha e confesso que bateu uma deprê”.

Autodeclarado como um ser totalmente paulistano, Thiago comenta que gosta do Rio e dos cariocas, mas não consegue se sentir à vontade com o clima da cidade: “Eu não consigo ter essa coisa dos cariocas, não está em mim. Quando eu venho, eu me recuso a colocar chinelo na mala, não importa a temperatura que esteja fazendo. Eu já não posso tomar sol por causa de recomendações médicas, então prefiro ir à praia de noite e de sapato, mesmo que eu tenha que calçá-lo com o pé sujo de areia depois. Na verdade, eu sou uma criatura da noite, um vampirinho”. O clima do show, por sinal, foi adaptado para uma vibe mais tropical graças à cidade: “Eu estava vindo para cá e fiquei meio que obcecado com essa ideia de o Rio ser uma espécia de novo Havaí, com toda essa coisa da Copa e das Olimpíadas. A banda, por exemplo, usa esses colares de flores meio Elvis Presley. Tem também toda uma influência dos anos 1940 e 1960, aquela coisa noir dos cabarés”.

Thiago e sua banda em clima hula-hula (Foto: Ricardo Ferreira)

Pegada Honolulu: Thiago e sua banda em clima hula-hula (Foto: Ricardo Ferreira)

Está quase na hora do show e a entrevista chega ao final. Para a última pergunta, Thiago explica o que acha decadente hoje em dia no Brasil: “A decadência do luxo ou do lixo?”, ele começa. “Eu acho tudo decadente por aqui! Um país que não consegue investir em educação e ainda quer sediar uma Copa do Mundo é algo decadente. Esse governador do Rio de Janeiro, por exemplo, é algo beeeeeem decadente”, comenta. Mas, ao longo do show, que teve até um medley de “Blue Jeans” da Lana Del Rey com “Haunted Love”, Thiago volta atrás e comenta com a plateia que não acha a Cidade-Maravilha nem o público decadentes, enquanto agradece o carinho e a empolgação (todos os jovens se levantam da cadeira na parte final e se rendem à dança mística que o cantor orquestra do palco). Se tudo, Thiago deveria chamar sua turnê de “Estrela Emergente”, porque fica claro durante a sua apresentação que ele ainda conquistará públicos muito maiores e tem potencial para expandir seu trabalho por muitos meios.