A editora de perfumes Leonora Rocha Lima fala sobre aromas personalizados: “Eu sempre pergunto se seu perfume fosse uma obra de arte seria Monet ou Picasso?”


A designer de joias percebeu potencial no mercado da perfumaria e já chegou ao nariz de Costanza Pascolato

Feche os olhos. Pense em uma cor. Agora, pense em um artista que você goste. Relembre a sua obra favorita desse artista. Tente imaginar um perfume onde todas essas informações estariam resumidas. Sim, perfume. Pode parecer impossível, mas é esse o método que Leonora Rocha Lima utiliza para criar o aroma perfeito e único para cada projeto. Calma, se você ainda não entendeu qual o trabalho de Leonora deixa que ela te explica com as próprias palavras.

“Eu acho que o nome que mais se encaixa para a minha profissão hoje é editora de perfumes. Eu faço uma curadoria de cheiros para projetos. Eu escolho cheiros para projetos. Seja para a minha marca ou para outras marcas. É uma profissão que não existe muito por ai, não é? É muito novo trabalhar com perfumaria no Brasil. Eu embarco em projetos desde uma fragrância exclusiva que o marido quer dar para a esposa de aniversário de casamento até o cheiro de um shopping ou uma clínica”, contou ela que já trabalhou desenvolvendo a identidade olfativa de diversas lojas, eventos e até mesmo casamentos.

Leonora contou um pouco sobre como é o processo e diz que nada é imposto por ela. “Eu sugiro. As fragrâncias são únicas e desenvolvidas por mim com um perfumista. Agora mesmo, acabei de entregar duas opções para um estúdio de pilates. Claro que antes disso eu envio um questionário olfativo e se for possível vou até o lugar para entender melhor qual o aroma combina com aquele espaço. Quando você conhece a pessoa, sabe o tom de voz e como ela se veste, tudo isso ajuda na hora de identificar. É um mundo delicioso de possibilidades”, enumerou.

O questionário olfativo foi uma forma lúdica que a consultora pensou para conseguir captar as ideias dos clientes: “Eu  sempre pergunto ‘Se seu perfume fosse uma cor, qual seria?’, se ele seria um Monet, um Picasso ou um Van Gogh. Posso perguntar se for um estilo de música se ele estaria mais para um jazz ou para um rock. Esse questionário é tão subjetivo, mas é um material que eu consigo escolher os caminhos mesmo sabendo que a pessoa não entende nada de notas olfativas e que tudo foi respondido na intuição.”

“Se a pessoa me diz que o perfume dela é uma música clássica, eu já sei que é delicado. Se ela diz que poderia ser da cor preta, eu sei que é um cheiro intenso e se falar vermelho, sei que pode ser um perfume com notas orientais e notas sensuais. Então, isso tudo me dá um caminho visualmente falando. Eu consigo enxergar tudo visualmente. Tem que confiar no meu nariz. É como se você contratasse um personal stylist, você tem que confiar no gosto da pessoa”, completou Leonora.

Antes de começar no mundo das perfumaria, ela já trabalhava como designer de joias – profissão que não abandonou. Sobre como começou a sua trajetória nesse mundo, Leonora relembra muito a sua família: “Minha mãe fazia o Eau de Leonora quando eu era pequena e era o cheiro da família. Todo mundo usava lá em casa. Eu resolvi fazer uma lavanda para a Dona Chic, uma marca que eu tive. Quando eu fechei a loja em 2009, as pessoas ficaram me pedindo a lavanda que eu vendia lá e em 2014 eu resolvi fazer o perfume de novo com o meu nome.”

Quando as pessoas perceberam que era possível ter um perfume personalizado, elas começaram a procurar Leonora e pedir esses cheiros para as suas marcas. “A primeira pessoa a me pedir foi a dona de uma loja que usava a cópia do cheiro da Daslu e ela queria um cheiro exclusivo. Depois dessa experiência, fui para São Paulo e estudei em uma escola de perfumaria. Foi quando eu entendi as mil possibilidades de perfume e sobre o perfume de nicho que é exclusivo e de nível que é o que eu gosto de fazer”, confessou.

Além do serviço personalizado, Leonora tem a sua própria linha que conta com três perfumes: o clássico Eau de Leonora, o Eau de Davi em homenagem ao seu filho e o Eau de Luiz inspirado em seu marido. Todos estão disponíveis para a venda no e-commerce e em pontos de venda espalhados pelo Brasil e em Lisboa. A próxima empreitada da designer é conseguir um ponto de vendas em Paris já que ela está indo para lá fazer um curso na área. “Eu vendo no Rio nas lojas Fragrance e na Dona Coisa. Em São Paulo, na Casa Tua e estamos estudando mais uma possibilidade. Vendo em Teresina, Piauí, em uma loja que só vende perfumes de nicho. Vendo em Brasília, em Belo Horizonte. Eu estou espalhando meus perfumes pelo Brasil.”

E o sucesso foi tão grande que a ex produtora de moda teve uma surpresa quando encontrou um dos nomes mais influentes do mundo fashion na última sexta-feira. “Eu estive com a Costanza Pascolato e ela me contou toda a história dela com perfumes. Ela usa o Eau du Soir, da Sisley, mas conhecia a minha marca. Me mostrou a foto do Eau de Leonora, Eau de Davi e Eau de Luiz no criado mudo ao lado da cama. Imagina isso! Eu quase chorei na hora”, emocionou-se.

O último lançamento foi um pouco polêmico, mas Leonora acredita que as pessoas só entenderam errado. “O Spicy Vagina da Intensify não tem nada de sex shop. Ele é uma homenagem às mulheres, à vagina, a esse símbolo e órgão tão potente e poderoso. Ele é um perfume sofisticado. Tem notas de figo, tem especiarias e foi trabalhado várias vezes. Ele virou uma mistura de dois perfumes. A dona da marca estava insegura, misturei com um outro e ela amou e aprovou. Costumo não dizer nada para não influenciar a decisão dos clientes.”

Uma dica final da consultora é sempre borrifar o perfume na pele. Ela diz que ele se revela e fica mais fácil de perceber a verdadeira essência. Entre os mil aromas e possibilidades que Leonora Rocha Lima já sentiu, ela arriscou quais seriam as características do Eau de Heloisa Tolipan. “Seria poderoso, bem poderoso. Acho que seria um cheiro solar, para cima, mas potente. Eu usaria ingredientes cítricos como característica principal para deixar ele bem solar, mas jamais deixaria de botar notas amadeiradas para dar uma força para esse cheiro.”