Baile do Copa: Marina Ruy Barbosa avança como um veloz automóvel, Zéka Marquez critica o Brasil e Andrea Natal faz a flapper!


No badalo que recriou os loucos anos 1920 e trouxe espírito Gatsby ao carnaval carioca, a estrela global elevada à rainha da festa se revela como uma possante baratinha da Era Ford e afirma: “Ainda estou me acostumando com isso tudo!”

O carnaval carioca se vestiu de grand monde, daquele tipo imortalizado nos romances de F. Scott Fitzgerald (1896-1940) no icônico Baile do Copacabana Palace, no Rio, cujo tema esse ano foi “Melindrosas Magic Ball”. Com decoração toda em preto & branco, evocando o colorido (ou a ausência dele) art déco, os salões do Belmond Copacabana Palace recriaram o luxo dos loucos anos 1920, com ambiente mais uma vez concebido pelo genial Zéka Marquez, que caprichou nos listrados, nas maxi esculturas de galgos, de panteras Cartier e nas gaiolas bafônicas com jeito de inferninho de luxo daquela época. Ele é a alma pela frente e por trás da icônica festa e, dessa vez, com seus visual de mestre de cerimônias de crazy party retrô – com direito a cartola branca e bengala com brilho –, mais parecia um Maurice Chevalier ou o tresloucado (mas chiquérirmo!) Florenz Ziegfeld, o homem por trás das Ziegfeld Follies, os espetáculos com um pé na sofisticação, mas de repertório burlèsque, que imperaram nos anos vinte até que o cinema falado decretasse o seu fim.

Maxi galgos e muito preto & branco: a decoração de Zéka esse ano veio mais minimalista, mas nunca soft (Foto: Divulgação)

Maxi galgos e muito preto & branco: a decoração de Zéka esse ano veio mais minimalista, mas nunca soft (Foto: Vera Donato / Divulgação)

Naturalmente, o baile deste sábado (14/2) – que tradicionalmente abre o carnaval carioca – foi uma espécie de brisa de refinamento num Rio tão castigado pela situação político-econômico dos últimos tempos e uma só frase parecia ecoar pelos salões, como um leve sussurro: “Joie de vivre!” O próprio Zéka bateu um papo rápido com HT enquanto preparava a entrada triunfal de seus bailarinos, atores e acrobatas, vestidos com se estivessem num rega-bofe do qual faria parte aquela turma inteligente e espirituosa, comandada por gente fina, elegante e sincera – mas nunca discreta! –  como os escritores Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald, este com sua mulher Zelda, Cole Porter e Linda Lee Thomas, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Sergei Diaghlev, Vaslav Nijinsky, Erté, Josephine Baker, um bom punhado de nobres russos exilados e tantas outras figuras icônicas desse tempo, que se encarregaram de contextualizar a máxima de que Paris é uma festa!

Afinal, nada escapa ao olhar clínico de Zéka, um flaneur cheio de verve crítica e rara sensatez quando se trata de um artista que se deixa levar pelos devaneios do mundo. Ele se confessa assustado com os rumos do Brasil atual: “È muita roubalheira. E um sem-número de gente sem noção, sem sentido cívico, sem brasilidade, sem respeito ao próximo, todos vivendo o oba-oba do ‘salve-se quem puder’ no comando desse país. Se, ano passado, quando o tema do baile era dadaísmo, eu já comentava sobre esse Brasil surreal, agora nem sei o que dizer. Me dá pena, mas é carnaval e é hora de se refastelar e expurgar demônios, sejam eles de Brasília ou não”.

De fato, os anos 1920 foram abundantes em badalos, mas também se espremeram entre duas crises globais, o que traz certa semelhança com os dias atuais. Momento de escapismo entre guerras mundiais, aquela década trouxe como marcas a consolidação do espírito cosmopolita nas grandes cidades, o espírito empresarial, a Semana de Arte Moderna, as colunas sociais como nova via para o estrelato e o estabelecimento do automóvel como principal veículo de transporte urbano. E também se caracterizou como o período imediatamente anterior à ascensão do fascismo. É possível até traçar um paralelo entre o que se viu no agito desta noite passada e o bafão das festas nos antigos cabarés e nightclubs pré-Crise de 1929, quando as borbulhas do champanhe abundavam, as pessoas consumiam rapé, faziam questão de não perceber o que acontecia à sua volta e a cocaína ainda era vendida em farmácias.

Tempo também de emancipação feminina, dos sufrágios, dos vestidos subindo até os joelhos e revelando parte das pernocas. Com seus cabelos curtinhos, à la garçonne, as melindrosas são o reflexo do surgimento do Século XX como algo nunca visto até então e, com sua sede de se libertar do jugo masculino para descobrir o mundo, elas também ganharam a alcunha de flappers, uma alusão à onomatopeia que significa “bater as asinhas”. Andrea Natal, a toda-poderosa gerente geral do Copacabana Palace, assumiu essa personagem e, com sua peruquinha Chanel, poderia mesmo ser uma Pagu, Louise Brooks, Marion Davies ou Clara Bow, três digníssimas integrantes dessa turma. Ou, quem sabe, a loura Daisy Buchanam de “O Grande Gatsby”.

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Zezé Polessa, Totia Meirelles, Kátia Spolavori, Nina Kauffmann e as prima donnas Ana Botafogo e Nora Esteves foram outras que incorporaram com precisão esse visual. Obviamente, com as melindrosas como mote desse ano, tudo que se esperava era um badalo digno de animar aquela turma que se encanta com as nababescas festas a la Jay Gatsby, e claro que isso foi cumprido à risca! Quem leu tanto “O Grande Gatsby” quanto “Suave é a noite” não teve dificuldade em encontrar semelhança entre os romances de Scott Fitzgerald e o ambiente criado no Copa. A única diferença, talvez, foi que saíram de cena o jazz e o ragtime, mas entrou o samba.

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Apesar de Eliana Pittman – sempre cantora convidada no rega-bofe – ter encantado todos com a música-tema da noite, uma salsa-merengue com pegada pop criada em parceria entre ela, Zeka e o maestro Dudu Vianna, “As Melindrosas”: “Alô, Kiki/ Cheguei aqui/ Aqui fiquei/ Gamei, chérie/ Vertigem da noite/ Desmaio poente/ Delírio à la française/ Loulou de la Falaise/ Luz que excita/ A aurora nascente/ Gota de prata/ No espaço da vida/ Lavando a alma da gente. Uma homenagem à Kiki de Montparnasse (1901-1953) e à eterna musa de Yves-Saint Laurent, Loulou de la Falaise (1948-2011), deslocada no tempo, mas que bem poderia ter vivido na Paris dos 1920’s.

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Zéka Marquez aproveita a deixa da música para completar: “A que preço se vive no Brasil de hoje, não é mesmo? Mas carnaval é fantasia e é preciso um bom sopro desta nesse momento tão difícil. Aliás, não só durante o carnaval, mas sempre. Um jeito lúdico de ser e viver move montanhas e pode transformar. Kiki e Loulou foram dois ícones de glamour e savoir-vivre”.

Como elixir para a fase pela qual o Brasil passa, o decorador é categórico: “É necessário ser suave não só no Brasil, mas no mundo todo até, eu diria. Hoje (ontem) vi a mensagem do Papa Francisco I, me senti revigorado. Carnaval é período de paz, amor e alegria reinantes. Mas é de arte, poesia e beleza também. A beleza de Deus precisa imperar também entre nós, inclusive nessa festa magnífica. É tempo de lavar a alma e é para isso que o baile serve”.

Portanto, para ele, duas dicas são vitais para encarar o carnaval com a mesma leveza de um badalo descrito em livro de Fitzgerald: “É fundamental ter o olhar festeiro (e faceiro!) de uma melindrosa. Essas flappers batiam suas asinhas à procura de um admirável mundo novo e hoje se deve encarar a vida (e o Brasil) com esse olhar jovial. E, claro, manter o savoir-vivre desse peessoal que viveu nos anos 1920, de Fitzgerald e sua mulher Zelda a Josephine Baker e Cole Porter. Que turma fabulosa! Precisamos ter novamente gente desse calibre nos ensinando a viver!”

Em dado momento da noite, a Rainha do Baile, uma ruivérrima Marina Ruy Barbosa toda de vermelho e embelezada por Alê de Souza adentrou o Golden Room atrasadíssima, pois vinha de gravação de “Império” que rolou noite adentro, junto com o namorado Caio Nabuco. è ela quem conta para o HT: “Me sinto cada vez mais em um momento especial. Comecei como modelo infantil, depois como atriz-mirim, cresci, virei adulta, me elegeram como it-girl e agora tô aqui, como soberana do baile mais icônico da cidade. É muita loucura, até hoje não me acostumo com essa velocidade toda”.

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Confira as fotos de Zeca Santos:

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