Aos 87 anos, Fernanda Montenegro mergulha em universo místico para próxima novela da Globo e analisa cenário cultural como o pior que já viveu: “Nunca foi tão ruim assim”

São mais de 60 anos dedicados à arte e o consenso geral de que Fernanda Montenegro é um símbolo da cultura brasileira. Ícone da nossa dramaturgia e dama do teatro nacional, ela volta às telinhas em outubro, em “O Outro Lado do Paraíso”. Na trama que irá substituir “A Força do Querer” no horário nobre da Globo, Fernanda será mais que uma personagem do enredo. “É uma novela muito bonita que vai se passar no Tocantins e eu irei fazer uma rezadeira. Ela é uma velhinha que ouve vozes e age sempre lutando pelo melhor”, adiantou sobre a obra de Walcyr Carrasco.

Com a missão de evitar o apocalipse, Fernanda Montenegro mergulha em um universo místico da ficção. Sobre a experiência na pele de Mercedes, a “velhinha que ouve vozes”, a atriz destacou que abordar a temática não será uma missão simples. Mas, a seu favor, Fernanda tem uma bagagem dramatúrgica que dispensa comentários. “É uma experiência que eu como atriz acho muito interessante, mas não é fácil. Por isso, eu espero dar conta”, disse.

Em “O Outro Lado do Paraíso”, Fernanda Montenegro interpretará uma rezadeira que irá evitar o apocalipse (Foto: Reprodução)

Desta vez, a novela do horário nobre terá o Tocantins como pano de fundo. Longe das tradicionais metrópoles que inspiram as tramas, “O Outro Lado do Paraíso” aposta no novo para abordar a exploração de pedras preciosas, com destaque para as esmeraldas. No entanto, para Fernanda Montenegro, a proposta de Walcyr Carrasco não é tão nova assim. Com seu extenso currículo na telinha, a atriz destacou que Rio e São Paulo não são mais os cenários favoritos. “Na medida em que estamos vivos, andamos e falamos, a gente segue em frente. Mas eu acho que para mim não é uma novidade. Afinal, já são mais de 60 anos de carreira e eu já vi muita coisa diferente nessa vida”, argumentou.

Mas um ponto é novidade na carreira de Fernanda Montenegro: a atual situação da arte no Brasil. Conhecida como a dama do teatro, a atriz não escondeu a tristeza que sente ao acompanhar as notícias que cercam o panorama contemporâneo. Para ela, a arte nunca este tão mal como hoje em dia. “Eu vejo que as situações são como partos. Com o tempo, a gente esquece a dor. Mas, igual ao que vivemos hoje, conscientemente, te digo que nunca foi tão ruim assim”, analisou Fernanda que garante que isso não afeta aqueles que mantem a cultura viva. “Nós somos vocacionados. Então, mesmo no desespero, a gente arruma maneiras de sobreviver a isso, e não só economicamente. Estamos falando de vida vivida”, completou.

Para ela, a arte nunca acabará porque os personagens que a mantêm viva são vocacionados para a profissão (Foto: Reprodução)

E os desafios não estão só na esfera política ou econômica de nosso país. Na visão de Fernanda Montenegro, os avanços da tecnologia também representam uma questão nova neste cenário que precisa ser explorada de forma positiva. “Eu acho que a arte moderna está precisando trabalhar a questão da ciência e da tecnologia que acaba interferindo. O artesanato precisa aceitar esses avanços e vice-versa”, destacou.

No entanto, o mais importante disso tudo é que, como ela falou, ser artista é uma vocação e que, por isso, garante vida eterna à cultura de um país. Aos 87 anos, Fernanda Montenegro segue sua caminhada na dramaturgia, se prepara para mais uma novela e mantem a fé de que um cenário próspero nos aguarda no futuro. Mas, neste momento, é hora de reduzir a marcha na carreira. Afinal, 64 anos de experiência não é para qualquer um. “Atualmente, meu único trabalho é a novela. Só esse mesmo e olhe lá. Tomara que eu dê conta”, brincou. Alguém duvida?