XVII Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro – HT lista 10 curiosidades sobre o evento: dos best-sellers ao comportamento dos jovens


Qual o livro mais vendido? O que a geração pós-Y gosta de ler e por onde? Como a crise financeira tem afetado o mercado editorial? Fomos ao Riocentro ontem (terça-feira) e conversamos com estudantes, pais e editoras para saber como anda o mercado de livros

Em sua 17ª edição, a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro homenageia a Argentina, enquanto ocupa o Riocentro até o dia 13, na Barra, esperando um público médio de 600 mil pessoas. Referência mundial no que diz respeito à celebração da literatura, o evento armou a sua maior edição: são três pavilhões espalhados por uma área total de 80.000 m², abrigando um total de 950 expositores. HT esteve por lá e pode afirmar: a infraestrutura e o investimento de R$ 36,8 milhões não apenas valeram a pena, mas conquistaram os visitantes que podem se entreter com espaços interativos.

Indo além dos números, a quantidade de programações e espaços disponíveis para o público é extensa e atende aos mais diferentes tipos de leitores. O Bamboleio proporciona para as crianças, através de jogos e brincadeiras, uma experiência de aprendizado sobre a cultura de diversos países, tendo como ponto de partida a aproximação dos Jogos Olímpicos. Já a Cubovoxes, com curadoria de João Alegria, oferece debates com o público jovem, que tem a chance de interagir com nomes que são referência em mídias e literatura contemporânea, como Gregório Duvivier, Karina Buhr, o coletivo Mídia Ninja, Eduardo Spohr, dentre muitos outros. Há ainda o Conexão Jovem, no Pavilhão Verde, que promove encontros com autores nacionais, como Thalita Rebouças e Paula Pimenta, assim como estrangeiros, incluindo nomes que vão de Anna Todd a Jeff Kinney.

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Entre fenômenos literários, público variado, metas de vendas, espaços interativos e um total 245 autores (218 nacionais e 27 estrangeiros), HT foi in loco para trazer as 10 curiosidades principais sobre a XVII Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, e você confere tudo abaixo. Vem com a gente:

A longevidade de Maurício de Souza: o desenhista responsável por criar a Turma da Mônica comemorou 80 anos em plena Bienal, com uma homenagem mais que especial. Além de ter recebido o Prêmio José Olympio, por seu desempenho na promoção da leitura, Maurício ainda ganhou um mural no qual os fãs deixaram recadinhos de parabéns, além de ter uma exposição por 190 m², mostrando sua trajetória de sucesso, desde os primeiros desenhos. Durante a sua passagem pelo evento, na segunda-feira (7/9), é possível ver como o autor ainda emociona gerações diferentes e consegue mobilizar um público 50 anos após o lançamento do primeiro quadrinho da Turma da Mônica.

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O fenômeno Kéfera Buchmann: uma das vlogueiras mais seguidas do Youtube, com quase 6 milhões de assinantes em seu canal, Kéfera é, por enquanto, o maior destaque jovem durante a XVII Bienal do Livro. Seu livro de estreia, “Muito mais que 5inco minutos”, é o best-seller mais vendido da edição entre todos os gêneros e, de acordo com a Editora Paralela, da Companhia das Letras, já está em sua terceira tiragem para o evento, chegando a quase 200 mil exemplares.

A vlogueira Kéfera Buchmann é a autora do best-seller mais vendido da XVII Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, com "Muito mais que 5inco minutos" (foto: Divulgação)

A vlogueira Kéfera Buchmann é a autora do best-seller mais vendido da XVII Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, com “Muito mais que 5inco minutos” (foto: Divulgação)

Ontem (8/9), a autora estreante de 22 anos participou de uma sessão de autógrafos para os fãs e, apesar de ter apenas 800 senhas distribuídas, o público estimado por ali foi de mais de 2 mil pessoas. Entre elas, estava Karine de Souza, com 18 anos e ensino médio completo, que saiu de Bonsucesso às 7h para o evento que estava marcado para 16h, apenas para conseguir uma foto com Kéfera. “Ela fala exatamente o que eu penso, é muito engraçada!”, tentou explicar a jovem fã, empolgada de ainda teve de passar algum tempo na fila para conseguir chegar perto da escritora.

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Presença digital: a tendência por trás do fenômeno editorial que transforma personalidade online em sucessos de venda instantâneos vai muito além de Kéfera. Apenas pela Bienal, outros blogueiros como Christian Figueiredo, autor de “Eu fico loko” e com mais  de 1 milhão de assinantes em seu canal; Isabela Freitas, autora de “Não se apega, não” e “Não se iluda, não”, que vendeu 2.ooo livros em apenas cinco dias; e Rafael Moreira, autor de “Diário de um adolescente apaixonado”, comoveram e arrastaram multidões durante suas sessões de autógrafo.

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A queda do romance erótico: a estudante de fonoaudiologia Tatiane Machado, com 20 anos, contou para HT que havia comprado cinco livros durante o evento, todos sobre romance erótico. A administradora Ana Paula Souza, de 33 anos, que estava acompanhada da sobrinha Nicolle Cristine, de 13, também confessou ao site que só adquiriu gosto pela leitura há cerca de três anos, quando as amigas indicaram Cinquenta tons de cinza”. Elas, entretanto, são exceção. Há um sinal de diminuição no mercado editorial. Uma representante de marketing que preferiu não se identificar, contou ao HT que já é notável uma redução nas vendas do gênero, mesmo entre as autoras nacionais, e que nem o próximo lançamento da “franquia-mãe”, no qual a história será contada pelo ponto de vista do infame Christian Grey, ou até mesmo a adaptação cinematográfica da história, estão conseguindo reacender o fluxo de vendas dos títulos.

O reflexo do cinema: o fracasso de crítica e bilheteria de “Cinquenta tons de cinza” é um caso à parte, quando falamos de filmes baseados em livros e o retorno em vendas que o mercado editorial recebe após o lançamento nos cinemas. Heloiza Daou, gerente de marketing da Editora Intrínseca, conta que os títulos do norte-americano John Green, como “Cidades de Papel” e “A culpa é das estrelas”, ganharam um aumento de cerca de 80% nas vendas após suas respectivas adaptações para a sétima arte.

Carlos Machado, consultor de compras especializado em HQ e atuante no mercado há mais de 27 anos, explica para o site que o boom das franquias de super-heróis refletiu positivamente no mercado de gibis, resgatando os bons tempos dos anos 1990. “Esse é o grande pulo do gato. Os quadrinhos pegaram carona na febre cinematográfica e, a partir dos anos 2000, alavancaram as vendas. E isso atrai todo o público geek, tanto os jovens, que hoje estão interessados em ter uma graphic novel na mão, para poder se deliciar, quanto os colecionadores, que se encantam com os relançamentos especiais em capa dura e edições premium – que, por sinal, voam das prateleiras”, disse, acrescentando que tiragens de 12 a 15 mil levam cerca de seis meses para se esgotarem, e que “o share está atingindo todo mundo, dos mangás aos cartunistas brasileiros como Maurício de Sousa e Ziraldo“.

Página por página: ao contrário do que acontece com a indústria fonográfica, o mercado editorial, principalmente o brasileiro, ainda não vê no e-book uma ameaça real. “Os livros em plataforma digital representam, no máximo, 3% das vendas”, conta Heloiza Daou. Já Rodrigo Barbuda, gerente de marketing do Grupo Editorial Record, acrescenta: “O público que lê livros online é completamente diferente, principalmente quando falamos aqui da Bienal, onde as pessoas vêm comprar, porque gostam do livro palpável”.

Jovens ainda preferem ler o livro físico do que consumir um e-book (Foto: Divulgação)

Jovens ainda preferem ler o livro físico do que consumir um e-book (Foto: Divulgação)

Além dos livros: o visitante que for conferir a Bienal se depara com opções que vão muito além de livros. Por lá, é possível encontrara ainda algumas edições especiais de baralho, disponibilizadas pela Copag, posteres de bandas, cantoras e filmes blockbusters, e até um pedacinho de moda com o estande da Poeme-se, que cria estampas criativas com versos de  Frida Kahlo, Pablo Neruda, Fernando Pessoa e Olavo Bilac, espalhadas por buttons, book bags e camisetas.

Público renovado: ao contrário do que muitos pensam, os jovens da geração pós-Y têm o gosto pela leitura, apesar de, paralelamente, não abrirem mão das redes sociais e da internet. Sara Rangel, estudante do ensino médio com 16 anos, por exemplo, se declarou apaixonada por literatura nacional, citando Machado de Assis e Eça de Queiroz entre seus preferidos. “Comecei lendo por causa da escola, mas, depois, acabei gostando muito”, disse. Já as amigas Milena Moreira e Luana Victoria Alves, ambas de 12 anos e estudantes do 7º ano, preferiram ir ao evento antes com a mãe de Milena, mesmo que fossem voltar um dia depois com a escola. “Queríamos passear e olhar mais opções de livros. Com a turma, a gente fica muito presa”, disse Luana, que afirma ler 10 livros “grossos” por ano.

Entre os títulos mais procurados pelos pequenos, estão as fantasias na mesma pegada de “Jogos Vorazes”, romances obscuros como a série “A seleção”, títulos de John Green, e as adaptações de games. “As principais procuras são por romances new adult e os livros de jogos”, explica Rodrigo Barbuda, apontando que os gêneros atraem a faixa entre 12 e 18 anos, citando como exemplo a franquia Assassin’s Creed”, que não foi considerada uma aposta na época de seu lançamento, mas hoje já conquistou mais de 1 milhão de exemplares vendidos pelo mundo todo.

Geração pós-Y ainda mantém gosto pela leitura e comparece em massa à Bienal do Livro

Geração pós-Y ainda mantém gosto pela leitura e comparece em massa à Bienal do Livro

Preços mais do que acessíveis: claro, nem só de lançamentos e edições especiais é feita uma Bienal do Livro. Além das promoções que as próprias lojas e editoras fazem, há uma grande concentração de sebos e livrarias modestas que vendem títulos a preços populares, concentradas principalmente no Pavilhão Verde. Por lá, HT flagrou uma oferta na qual três livros saíam pela bagatela de R$ 10,00. Não há nem como usar a desculpa da crise depois dessa…

Crise?: por sinal, a crise financeira não parece ter afetado o mercado editorial da Bienal do Livro, ao menos por enquanto. Além de já terem recebido 200 mil visitantes entre quinta-feira e domingo, e mais uma estimativa de 90 mil apenas no feriado de 7 de Setembro, as editoras olham para o número de vendas com alegria. O Grupo Editorial Record, por exemplo, afirma que bate em mais de 20% a sua meta diária para o evento, enquanto Heloiza Daou, da Intrínseca, afirma que “já passaram mais de 25 mil livros pelos nossos caixas da Bienal”.