A segunda edição do Marina Monumental tem como tema central a arte móvel inspirada na correria do cotidiano da Marina da Glória


O evento conta com a curadoria de Marc Pottier e a presença de diversos artistas nacionais e internacionais. Apesar de contar com grandes nomes, a exposição também apostou em novos talentos ainda pouco conhecidos pelo grande público

Quem estava caminhando pelo Aterro do Flamengo no domingo passado se deparou com um cenário um tanto incomum. No meio da Baía de Guanabara, diversas bóias salva-vidas flutuavam pelo mar com a frase ‘a arte salva’. O acontecimento marcou a inauguração da segunda edição do Marina Monumental, enaltecendo a importância das obras para a cultura. O tema do evento coloca em evidência a beleza natural da Marina da Glória e a sua relação com a arte, prevalecendo a interação do público com as obras. “Trouxemos o conceito da Arte Móvel já que estamos na Marina da Glória, um espaço com muitos eventos, barcos passando e aviões sobrevoando. Logo, o lugar possui um movimento bem forte, algo que é muito importante para muitos artistas. Dessa forma, queremos mostrar a capacidade de cada um de reagir com o tema. A nossa ideia é trazer uma arte que converse com o público no geral e não apenas com a elite, por isso as esculturas são muito interativas o que contribui com o resultado final”, explicou o curador Marc Pottier.

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Para chegar ao cenário que mistura a beleza natural com artes planejadas, dezoito artistas nacionais e internacionais estiveram envolvidos no projeto. O melhor de tudo é que o público poderá conhecer pessoas cujo talento ainda não havia sido reverenciado até o momento. “Trouxemos artistas de diferentes lugares que estão, de fato, saindo da sombra, ou seja, demos oportunidade a outras pessoas que não são tão requisitados. Existem alguns profissionais no evento que ainda estão no início da carreira, entre eles está Erwan Le Bourdonnec, Maritza de Orleans e Bragança, Renata Adler e outros”, informou Marc. A artista Renata, por exemplo, expôs pela primeira vez no Parque das Ruínas em setembro.

Cianometer Dock feito por Ewan Le Bourdonnec (Foto: Divulgação)

Além destes jovens talentos, o evento conta com a presença de grandes nomes como Amelia Toledo, Anna Helena Cazzani, Carmelo Arden Quin, Coletivo Muda, Eduardo Srur, Gustavo Prado, Luiz Monken, Marcelo Jacome, Mariana Manhães, Oskar Metsavaht, Paulo Nenflidio, Raul Mourão, Thiago Toes, Xavier Veilhan e Zoe Dubus. “A seleção destes artistas foi bem natural, já que estou em contato o tempo todo com integrantes do meio por ser curador. Vi previamente o trabalho de alguns e busquei as obras que mais se assemelhavam à proposta definida. Conversei com as galerias onde cada peça estava instalada e pedi a autorização para ceder o objeto para o evento. Dessa forma, a escolha de pessoas, tanto as que fizeram materiais para o evento quanto as que apenas cederam suas esculturas, foi muito orgânica”, lembrou. Alguns profissionais tiveram a disponibilidade de criar uma obra para o espaço e outros apenas cederam a arte que já haviam produzido.

Display de Marcelo Jácome (Foto: Divulgação)

A disposição das obras foi pensada para que o público tivesse uma experiência lúdica. Apesar da escolha final pertencer ao curador Marc Pottier, o profissional aceitou pitacos dos próprios criadores. “Algumas peças eu já imaginava qual seria o melhor lugar para elas por já ter ido ao espaço anteriormente, mas dei a oportunidade de que cada um escolhesse. Tive a sorte de muitos artistas preferirem locais que ninguém mais havia pedido como é o caso de Oskar Metsavaht que quis colocar a sua obra em cima do gramado. Mas o Gustavo Prado, por exemplo, mudou quatro vezes de espaço, por inúmeros acontecimentos”, brincou. Certos profissionais tiveram a sorte de encontrar de cara os espaços, o que ajudou para compor o resultado final.

Lamp Beside The Golden Door de Gustavo Prado (Foto: Divulgação)

Ajudando a compor esta proposta orgânica e móvel do evento, o curador resolveu selecionar alguns filmes para serem exibidos na Marina da Glória. A seleção contou com a ajuda do Festival do Rio que aconteceu recentemente e contribuiu para uma percepção mais acentuada da metalinguagem do Marina Monumental. “Gosto muito quando artistas do mundo da dança, das artes visuais, das artes plásticas, da música e outros estão trabalhando junto. Cada vez que estou fazendo um projeto, estou tratando de dar a palavra para este tipo de movimento. Dessa vez o casamento foi com o Festival do Rio na busca de misturar os públicos. A versão de 2018 espero trazer performances de dança, porque quero que a exposição seja um lugar onde o público possa descobrir visões de vida diferentes”, adiantou.

Da série Interfaces de Oskar Metsavaht (Foto: Divulgação)

A primeira passagem do evento pela Marina da Glória foi no ano passado, em uma exposição pensada para apresentar ângulos artísticos diferentes como a arte moderna, a técnica do grafite, a música e outros. Dessa forma, o curador Marc Pottier quis traçar uma panorama geral das formas de trabalho. “Colocar apenas esculturas decorativas no lugar seria a coisa mais fácil do mundo, mas o que queremos fazer é criar, cada vez mais, ambientes diferentes com propostas incomuns para que o produto final seja uma surpresa para o observador. Foram mais de dez obras realizadas especificamente para a Marina da Glória, não estamos passando apenas na frente de galerias para trazer peças já existentes. A nossa ambição é que a maioria das esculturas seja feita apenas para o evento”, contou Marc. O objetivo final, portanto, é trazer uma arte em movimento, literalmente.

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Seguindo a ideia de que cada ano haverá uma inovação do objetivo final do evento, terceira edição do Marina Monumental já está encaminhada e tem como tema chave uma homenagem a um grande artista brasileiro, cuja identidade ainda não pode ser revelada. Em tempos conturbados de crise, o evento provou que é possível ter sucesso ao investir em arte e cultura. “Temos a sorte de contar com a Gabriela Lobato que está administrando a Marina da Glória. Ela é uma colecionadora apaixonada por arte e, por isso, pretende dar um toque cultural ao espaço, o que acho muito importante. Já existem projetos para o futuro, porque pretende, realmente, colocar o local dentro do mapa cultural do Rio de Janeiro. Além disso, sei que o sonho dela seria criar a primeira bienal da escultura no aterro”, contou Marc.

 

Filmes:

1) Vermeluz, 1972 – 7’17’’

Álvaro de Sá, Flávio Diniz e Neide Sá

(Original em Super 8) Edição em arquivo digital

 

2) Lúzir-lúzir, 1972 – 3’10’’

Álvaro de Sá, Flávio Diniz e Neide Sá

(Original em Super 8) Edição em arquivo digital

 

3) Experiência 5, 1970 – 3’13’’

Frederico Marcos

(Original em Super 8) Edição em arquivo digital

 

4) Experiência 6, 1970-72 – 3’45’’

Frederico Marcos

(Original em Super 8) Edição em arquivo digital

 

5) The way things go, 1987 – 30′

Peter Fischli & David Weiss

 

6) O Circo de Calder, 1961

Alexander Calder

 

Serviço:

Monumental – Arte na Marina da Glória

Data: 19/11 a 17/12

Horário: 10h às 22h – Entrada gratuita

Av. Infante Dom Henrique s/n