Flores para todos: Maria Fernanda de Castro trabalha no ramo há quase 20 anos e declara: “Sei que eu e meus produtos ajudamos a causar o bem”


A designer floral dá cursos e foi quem assinou os buquês de hortênsias do nosso editorial exclusivo com Fernanda Souza. Em entrevista exclusiva, ela nos contou um pouquinho de sua rotina que inclui acordar às 2h para cruzar a cidade em direção à Cadeg e garantir flores sempre frescas

Três vezes por semana, Maria Fernanda de Castro, de 38 anos, acorda às 2h da manhã e cruza a cidade do Rio de Janeiro para chegar bem cedo à Cadeg, em Benfica. O que ela faz por lá? Dá prosseguimento a uma história que começou há quase 20 anos do outro lado do continente, mais precisamente em Nova York: seu trabalho como florista. “Caí de paraquedas nesse mercado. Fui morar em Nova York aos 21 anos para estudar na NYU e tinha uma vizinha brasileira que era designer floral do Michael George, o melhor florista da cidade. Ela me convidou para trabalhar e eu comecei entregando flores e dali já me interessei, quis ajudar a limpar e o Michael George me deu essa promoção (risos). Fiquei limpando todos os tipos de flores por um ano e ele não me deixava fazer arranjos, queria que eu soubesse tudo sobre cada uma delas antes, dizia que eu tinha um dom. Teve um dia que faltou uma designer e era um evento enorme, aí ele: ‘pega dez rosas ali’, eu meti a mão no balde e peguei rápido e ele ‘como você sabe que tem dez aí?’, e eram exatamente. Nesse dia ele viu que eu estava pronta”, lembrou Maria Fernanda, a responsável pelo lindo arranjo usado por Fernanda Souza em nosso editorial especial.

Maria Fernanda de Castro é designer floral (Foto: Reprodução/Facebook)

Maria Fernanda de Castro é designer floral (Foto: Reprodução/Facebook)

A partir daí, foram 15 anos entre Queens, Brooklyn e Manhattan trabalhando no ramo. Mas foi uma mudança de ares, para Connecticut, que fez Maria Fernanda ter seu próprio espaço. “Lá abri a ‘Green Flowers and Events’, casei, tive filha, separei e voltei para o Brasil para que ela crescesse perto da família”, contou. Mas engana-se quem pensa que isso a fez mudar de ramo. “Cheguei ao Brasil e fui trabalhar com a minha irmã, ela tem um bufê chamado ‘3 na cozinha’ e eu fazia as flores dos eventos. Fui entrando devagar no mercado, abri um ateliê sustentável na Rocinha e foi uma época incrível. Fiquei lá por um ano, mas começou a ter problemas com a UPP e não ficou tão seguro, então mudei o ateliê para a minha casa, em Ipanema”, explicou ela, que, há três anos, comanda o ‘Maria Fernanda de Castro Flower Design‘ de perto e sabe: a diferença dos produtos naturais estrangeiros é enorme.

“A qualidade das flores é muito diferente. Nos Estados Unidos se recebe do mundo inteiro, Holanda, África do Sul, França, Japão, Equador, Colômbia, Brasil. No mercado das flores, que fica na 28th street, tem produtos do mundo todo. Aqui temos São Paulo e fornecedores locais como Campo Grande, Teresópolis, Petrópolis, Friburgo. Todo mundo reclama que a rosa não dura, nos Estados Unidos dura uma semana. Aqui eu trato as rosas que recebo com água fervendo, para que vivam mais tempo. Inclusive quando dou curso – sou designer floral – ensino essa técnica”, disse.

A florista tem técnicas especiais para fazer com que seus produtos durem mais (Foto: Reprodução/Facebook)

A florista tem técnicas especiais para fazer com que seus produtos durem mais (Foto: Reprodução/Facebook)

E se por lá já é cultural ter flores dentro de casa, Maria Fernanda garantiu que os brasileiros estão pegando o hábito: “Já começo a ver uma mudança das pessoas nesse sentido por aqui. Se você manda um presente, são flores”, analisou ela, que oferece diversos pacotes para seus clientes fixos. “Tem a assinatura semanal, em que troco as flores da casa das clientes toda semana, a assinatura mensal de orquídeas e plantas que eu troco uma vez por mês e, fora isso, tem para dermatologistas, médicos e escritórios no geral que é um pacote de aniversariantes do mês, que mando buquês para a casa dos clientes. Além disso, faço presentes e eventos. Mas não gosto dos grandes. Prefiro focar nos detalhes, a florzinha no guardanapo, cada pedacinho”, explicou. E, claro, não poderíamos deixar de citar: buquês de noiva. “Eu faço para a Thaís Carvalho Dias, organizadora de eventos. É o que eu mais amo, porque converso com a noiva, vejo o vestido para que as flores conversem, entro naquele clima mágico. É um bate-papo muito legal e uma peça muito importante para o grande dia. Eu entrego no hotel, ensino a segurar, tudo que tem direito”, contou.

Não por coincidência, o que Maria Fernanda mais gosta em seu trabalho é, justamente, a troca de energias. “É mais o que meu produto leva para as pessoas. Fico muito satisfeita com isso. Agora estou estudando o benefício das flores para uma aula que vou dar. Tem a ver com saúde, bem-estar. Receber e dar flores está diretamente ligado à felicidade e saber que eu estou envolvida nesse processo é incrível, porque eu ajudo a causar o bem. Certas flores ajudam na recuperação de pacientes em quimioterapia, afetam certos pedaços do cérebro como compreensão, paciência e serenidade. Até flores no ambiente de trabalho podem deixá-lo mais criativo”, garantiu. E será que, com tantos pontos positivos, há algum negativo? “O pior é que não é tao romântico quanto parece. Acordo de madrugada, vou sozinha para a Cadeg, um caminho que é perigoso. Além disso, a parte de desmontagem de evento também não é muito legal (risos). Mas o que eu mais amo é o processo criativo, o contato com as pessoas, criar algo que é importante pro meu cliente é incrível. É a hora que jogo tudo, nada mais importa e fico enlouquecida, tendo todos os tipos de ideias”, entregou.

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Maria Fernanda de Castro já trabalhou com Michael George, florista mais famoso de Nova York (Foto: Reprodução/Facebook)

Maria Fernanda de Castro já trabalhou com Michael George, florista mais famoso de Nova York (Foto: Reprodução/Facebook)

Falando em ideias: Maria Fernanda não consegue eleger uma especialidade. “Não tem algo que eu saiba mais. Trabalho com isso há muito tempo e conheço cada flor, cada técnica, limpeza, tudo para durar mais tempo. Como eu disse, amo fazer buquês de noiva, mas assim, não tem algo específico que eu saiba mais”, disse ela, que tem consciência de que trabalha com um produto perecível. “A flor de corte realmente precisa de muitos cuidados e eu gosto de entregar qualidade para que meus clientes retornem. Tem um hotel que eu faço que os arranjos têm durado duas semanas, acho o máximo. Tenho uma geladeira específica, coloco conservantes que tiram o gás etileno – o amadurecedor das frutas e flores – da água. O fornecedor é diário e a parte do cuidado é muito sutil”, disse. Trabalho para poucos. E bons.