Na Sapucaí, Grande Rio mostra força da comunidade de Caxias e Salgueiro ‘toca o coração’ do público com ensaio técnico arrepiante


No sábado, Império da Tijuca e São Clemente realizaram testes apenas medianos na Passarela do Samba

* Por Pedro Willmersdorf

Mais um fim de semana de testes derradeiros para quatro agremiações do Grupo Especial das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. No sábado (8), a passagem discreta do Império da Tijuca e da São Clemente, que ainda buscam a consolidação na elite da folia. Já domingo, a demonstração da força do ‘chão’ de Duque de Caxias, na Grande Rio, e o avassalador desempenho do elogiado samba-enredo do Salgueiro fizeram da noite um momento mágico.

IMPÉRIO DA TIJUCA

Dezoito anos depois, a escola do Morro da Formiga está de volta ao rol das principais agremiações do Rio, calcada em um samba elogiadíssimo (assim como “Batuk”, seu respectivo enredo), com um refrão que profetiza: “o chão vai tremer”. No entanto, de forma mais contida, o Império da Tijuca fez um ensaio apenas correto na noite de sábado. Presente, a comunidade tijucana fez bonito, cantando de forma uníssona seu hino, escolhido em uma disputa acirradíssima na quadra da escola, em 2013. No entanto, as arquibancadas não responderam de forma tão veemente como as expectativas prometiam.

Nada, porém, que seja motivo de preocupação à escola, dona de uma comunidade confiante, uma bateria dominada com tranquilidade por mestre Capoeira e orquestrada pela voz forte e cativante de Pixulé, à frente do carro de som. Se mantiver o bom gosto estético apresentado pelo carnavalesco Júnior Pernambucano no desfile vitorioso (e incontestável) na Série A, ano passado, e superar o nervosismo de ser a responsável pela inauguração dos desfiles em 2014, a escola do Morro da Formiga tem tudo para vir forte na briga pela permanência no Grupo Especial.

SÃO CLEMENTE

Considerada por muitos adversária direta do Império da Tijuca na luta para ficar na elite do Carnaval, a São Clemente deu sinais de que não entregará os pontos facilmente neste simbólico duelo desconfortável. Se, no barracão, as notícias não são das mais animadoras, na pista a resposta da nação clementiana foi dada em alto e bom som.

O subestimado samba-enredo da agremiação de Botafogo foi cantado de forma intensa por sua comunidade, com uma evolução bem dirigida e uma harmonia digna de qualquer escola “grande”. Destaque para a ala das baianas, sempre ponto de carinha especial nos ensaios da São Clemente. Já a bateria de mestre Gil e Caliquinho se mostra, a cada ano, mais robusta, sem qualquer resquício dos “medos” que pairavam sobre seus desempenhos quadrados e cansativos de anos atrás. Muito por conta da performance irretocável do jovem, carismático e talentoso Igor Sorriso no comando do carro de som.

Será que a chegada do mago das cores Max Lopes no meio do desenvolvimento do enredo “Favela” terá sido suficiente para encher de otimismo o coração dos clementianos? Ao menos no ensaio, seus componentes deixaram um belo recado.

GRANDE RIO

Susana Vieira, Bárbara Evans, Denise “Furacão da CPI” Rocha, Paloma BernardoMarina Ruy Barbosa, Klebber Toledo, Dani Albuquerque, Samara Felippo e Christiane Torloni, a rainha de bateria: como sempre, a Grande Rio aposta, mais uma vez, no seu exército de celebridades (e também as sub) para o Carnaval 2014. No entanto, como também de costume, a tricolor de Caxias tem na manga a força de seu reconhecido “chão”.

Prova deste trunfo foi o rendimento do fraquíssimo samba escolhido pela agremiação este ano: na voz da tropa caxiense que foi ao Sambódromo no domingo, se tornou um hino mais encorpado, nos deixando esquecer, pelo menos temporariamente, de sua letra temerária. Outro agente facilitador para o bom ensaio da Grande Rio, além de sua comunidade aguerrida, foi mestre Ciça, que decidiu deixar para trás o ritmo um tanto acelerado que vinha marcando sua bateria, apostando desta vez em uma cadência mais suave, sem abandonar suas paradinhas e bossas ousadas, uma espécie de marca registrada deste veterano.

Podemos dizer que, a despeito da legião de famosos e seus seguranças, fica na lembrança o canto intenso de Duque de Caxias, prova cabal, ano a ano, de que a Grande Rio, se negligenciasse um pouco sua relação estreita com a mídia e apostasse em enredos mais autorais, poderia, sim, se tornar definitivamente uma grande escola.

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Fotos: Pedro Willmersdorf

SALGUEIRO

Grandeza que sobra ao Salgueiro, dono do mais comentado samba da safra deste ano, e que, ontem, arrebatou a Sapucaí com um ensaio incontestavelmente perturbador. Claro, para a concorrência. Do início ao fim, o que se viu foi uma plateia extasiada, cantando, vibrando e delirando com a passagem da escola, abraçada ao seu hino como quem abraça um filho após um boletim repleto de notas máximas. Um sentimento de orgulho nos olhos de cada componente era facilmente observado. O orgulho de ter nas mãos um favoritismo e, ali, naquele ensaio fazer jus a este status.

Na bateria, mestre Marcão se exibe mais dono da situação do que nunca, comandando suas bossas dificílimas com a habilidade de um craque. Assim como a soberana Viviane Araújo, ainda de longe a mais poderosa dentre as rainhas do Rio de Janeiro. Furiosa, a bateria do Salgueiro é mais um ponto de equilíbrio e, claro, orgulho, no atual momento que a escola vive.

E assim, com uma performance irretocável no ensaio técnico aliada a um barracão coberto de elogios nos bastidores e um samba que “toca o coração” de qualquer folião apaixonado pelo Carnaval, o Salgueiro desponta,  definitivamente, como uma grande favorita na disputa do título de 2014.

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Fotos: Pedro Willmersdorf

* Aos 26 anos, o sagitariano Pedro Willmersdorf é um jornalista carioca apaixonado pelo carnaval, obsessão que ele concilia com outros amores, como a música pop, o cinema, o voleibol e a vida noturna ao lado dos amigos.