Gabriela Mureb participa do Festival Multiplicidade onde apresenta as máquinas que compõem o seu trabalho artístico


A artista das artes visuais se inspira em suas percepções de mundo para poder criar os objetos abstratos

O décimo terceiro Festival Multiplicidade faz um exercício para antever o imaginário do ano de 2025. A ideia tem curadoria de Batman Zavareze e parte do conceito de que até lá é possível transformar o mundo com arte, inquietação, curiosidade, experimentação e poesia. A partir deste conceito, estes pilares de transformação do mundo podem ser encontrados na obra de Gabriela Mureb. A artista irá encerrar o festival com sua exposição na qual traz máquinas esteticamente diferentes que reproduzem sons particulares. “Este trabalho consegue entrar em muitas instâncias. É um objeto, mas pode ser pensado como uma performance. Me interessa pensar na apresentação, porque se o objeto estiver no meio da dança, da música, do teatro ou do museu a percepção será diferente. A interpretação depende de onde a máquina será colocada. No caso da exposição, vai ocupar o espaço da performance como objeto ao lado dos atores. Acaba sendo um lugar um pouco estranho, porque ver isto dentro de uma galeria é uma coisa, mas no teatro ocupa outra ideia. Está relacionado à dança e à música. É um acontecimento que reúne muitas ideias”, informou.

O evento começou em outubro, mas a exposição dela está marcada para dia 4 de novembro. Para Gabriela está sendo muito bacana participar já que esteve nas últimas edições como espectadora. “Quando comecei a frequentar o festival estudava artes e estava investindo na minha carreira. Na época, o trabalho que eu fazia era de outra ordem, mas questões dentro do meio acabaram me levando para as artes visuais mais ligado aos sons e à performance. Por isso, é muito bacana participar desta vez como artista”, afirmou. Por causa das mudanças sua carreira, ela teve a oportunidade de participar das exposições.

Gabriela Mureb produz as máquinas com a ajuda de um técnico de engenharia mecânica (Foto: Francisco Costa)

As figuras que a artista traz despertam a curiosidade do espectador por serem extremamente abstratas. Além disso, as máquinas reproduzem os barulhos oriundos da sua forma de produção, ou seja, são objetos que aguçam a audição. Para criar esta parafernália auditiva e visual, Gabriela Mureb conta com a ajuda do amigo Marcio Chavez. “Tenho um amigo que é técnico de engenharia mecânica. Fazemos todos os trabalhos juntos. Normalmente, chego para ele e mostro a minha ideia como, por exemplo, se é algo que bate na parede, qual o ritmo do som e qual o tamanho. A partir disso, ele vai me avisando as possibilidades técnicas e trazendo os motores. Quando ele mostra o modelo, vou mudando a forma até se assemelhar ao máximo com o que pensei”, contou.

Apesar das máquinas não possuírem vida, a artista buscou fazer uma relação com o corpo humano. A ideia, por tanto, é reproduzir sons que possam existir. No entanto, ela não tem a intenção de que os objetos se tornem um robô ou imitem o físico. “Não tenho a pretensão que se pareça com pessoas ou de competir com elas. O que reproduzem é algo de outra ordem. São máquinas que fazem o mesmo trabalho, repetitivamente, e o que é gerado por elas é o barulho que vem do próprio funcionamento da arte”, explicou. Apesar desta relação com o humano não existe a pretensão de serem movimentos e barulhos que simulem o corpo. “São formas no espaço, possuem uma presença e provocam reações nas pessoas”, informou.

A inspiração para estas criações vem de diferentes espaços, mas principalmente da forma como Gabriela Mureb experimenta o mundo. Cada sentimento e percepção que ela tem da sociedade pode ser um trampolim para o próximo trabalho. “As máquinas estão ligadas ao corpo, porque é como se eu estivesse reproduzindo e tentando chegar perto de uma experiência e uma intensidade que é minha. São feitas a partir de situações que me afetam e me tocam em determinados momentos. De alguma forma, são o efeito ou resultado que estas coisas exercem sobre o meu corpo. São atitudes e a violência que vivemos que moldam o trabalho”, explicou a artista.

Apesar de Gabriela se sentir tão afetada pelo mundo ao redor, nunca teve problemas com censura ideológica. “Nunca sofri nada com o meu trabalho, apesar da minha inspiração ser o corpo. Os problemas que enfrentei com a minha arte não possuem um caráter ideológico e não tem a ver com uma tentativa de controle. Os meus problemas são técnicos ou dificuldades devido ao espaço da exposição. Sem contar que a minha arte gera um desconforto”, explicou. De qualquer forma, a artista lamentou a situação cultural do Brasil afirmando que a censura a uma exposição é um reflexo da sociedade que temos hoje.

SERVIÇO

Festival Multiplicidade

De 07 de outubro a 11 de novembro de 2017

Oi Futuro Flamengo – Rio de Janeiro

Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo

De 11h às 20h, de terça a domingo

Valor: Gratuito

Classificação etária: Livre

Exposição Gabriela Mureb: 4 a 10 de novembro

Programação do Teatro

Valor: R$ 20,00 e R$ 10,00 a meia

Horário: sob consulta

Lotação do teatro: 63 pessoas

Classificação etária: Livre

 

Armazém da Utopia (Galpões 6/5)– Rio de Janeiro

11 de novembro de 2017

De 23h às 4h, sábado

Valor: Gratuito

Classificação etária: Livre