Fernando Schlaepfer reúne 365 fotos artísticas de nus cheias de poesia em 365 dias: “Sem amarras estéticas ou formais”


O projeto fez tanto sucesso que foi replicado em diversos sites e até protestos feministas. Agora, Fernando lança um crowdfunding com o objetivo de publicar um livro e expôr as imagens em uma galeria de arte

Um ano fotografando nus artísticos rendeu a Fernando Schlaepfer, do “I Hate Flash”, material suficiente para lançar uma campanha de crowdfunding (quer participar? clique aqui) com o objetivo de financiar um livro e, mais do que isso, experiência suficiente para provocar um debate sobre a relação das pessoas com o próprio corpo. Entre jovens, homens, mulheres, transsexuais, jovens, adultos, idosos, irmãos gêmeos, casais, famílias, mães e filhas, avós e outros, Fernando exercitou-se criativamente durante os 365 dias. “A ideia para o projeto #365nus surgiu depois de uma conversa com um amigo, também fotógrafo. Como a maioria dos trabalhos que eu faço está relacionada à moda, minha cabeça está sempre focada no produto e no posicionamento da marca em questão. Queria tentar me exercitar criativamente nos momentos em que estivesse livre, propondo a mim mesmo testes que saíssem daquele caminho. Por isso decidi fazer um projeto apenas com nus, em que minhas preocupações fossem apenas conceituais, sem amarras estéticas ou formais”, explicou ele, que sempre teve uma boa relação com seu próprio corpo, fruto da convivência com o avô naturalista que frequentava praias de nudismo.

136 - labritja - lais alta

(Foto: Fernando Schlaepfer)

“Na verdade o que eu mais queria era naturalizar o nu. Um corpo é um corpo, e é isso. Mas talvez o fato da minha percepção sobre isso ser um pouco diferente da das pessoas que estão a minha volta e de querer mostrar isso sem esses pudores seja uma provocação em si. Sem querer ser ‘o diferentão’ (risos). Eu fui criado indo a clube de naturismo, tendo gente com pouca roupa ou sem roupa em casa, só porque estava calor e é isso. Sem dúvidas, a relação de grande parte das pessoas com o corpo é muito pudica. Especialmente quando foge o mínimo do padrão. Felizmente, muitas pessoas fora desse padrão toparam participar mesmo assim”, contou. De fato: os modelos foram, na maioria das vezes, espontâneos. “Era sempre uma pessoa que estava próxima de mim no dia em que eu fiz a foto. Nunca dava tempo de planejar muito, de combinar com alguém para daqui a um mês, já que já teria que publicar uma foto naquele mesmo dia ou no próximo… Então variaram entre amigos que estavam onde eu estivesse, pessoas com quem eu estava trabalhando naquele dia, pessoas que eu acabei de conhecer, mas sabe-se lá como consegui convencer de participar. Isso aconteceu muitas vezes, porque eu estava em outro estado ou país onde não conhecia mais ninguém, mas a foto tinha que rolar”, lembrou ele, que não consegue destacar uma das tantas histórias que ouviu ao longo do ano. “Tem 365 histórias. Cada foto, cada motivo, cada olhar conta uma história ali. Por mais bem resolvida que seja uma pessoa com seu próprio corpo, o fato de topar se mostrar para a internet como veio ao mundo é extraordinário. É uma afirmação, um confronto, é desafiador, e em cada situação há um motivo que leva a pessoa a ter escolhido aquele lugar, determinada expressão corporal, a encarar ou não a lente…”, explicou.

#357 - pedra - lian alta

(Foto: Fernando Schlaepfer)

Falando em conforto, a intenção em provocar um debate sobre a relação das pessoas com o corpo gerou resultados. Depois dele, outro fotógrafo, Gabriel Wickbold, criou o projeto “Antes nua do que sua”. “Conheço o Gabriel e não faço ideia se eu influenciei de alguma forma, mas cada vez mais vejo projetos que falam sobre o nu tentando sair do lugar-comum e fico muito, muito feliz com isso – independente de eu ter sido inspiração ou não”, garantiu ele que, em uma época que o feminismo aflora nas redes sociais, teve muitas de suas fotos usadas em manifestos desse tipo. “Felizmente estamos nessa época e muitas imagens minhas repercutiram nesses protestos, seja pelas próprias mulheres fotografadas ou por outras que usaram imagens do projeto para ilustrar um discurso. Das pouquíssimas vezes que tiraram alguma foto do projeto de contexto e falaram algo na contramão, um sem-número de pessoas voou em cima desse(s) veículo(s), chegando a tirar do ar uma matéria de um grande jornal”, disse.

#363b - hollywood - maila alta

(Foto: Fernando Schlaepfer)

Lá no começo de 2015, quando o projeto surgiu, Fernando não poderia imaginar o sucesso que fez. “Não fiz o projeto esperando reconhecimento, projeção, tapinha nas costas… Mas não vou ser hipócrita e dizer que não gostei de ele ter ido longe. É muito gratificante ver um trabalho seu ter um alcance e repercussão tão grandes, principalmente quando é um projeto sem nenhuma amarra comercial”, afirmou ele, que não consegue escolher uma foto preferida entre tantas. “Mesmo que eu queira muito, é impossível”.

155 - meca - malu alta

(Foto: Fernando Schlaepfer)

Em compensação, as melhores histórias são muitas! “Talvez as fotos mais difíceis de fazer tenham sido as debaixo d’água, por colocar as pessoas em uma das situações mais difíceis de posar. Mas nenhuma foi realmente difícil, já que não era uma preocupação atingir um resultado específico, mas capturar o que acontecia de fato quando a pessoa estava sem roupa. Não tinha que esperar ela se soltar, porque seria ok se ela aparentasse ser tímida na foto, por exemplo. E nenhuma foi estressante, por isso não sei dizer qual foi a mais calma. Tudo foi feito com tempo para a pessoa respirar fundo, tirar a roupa e, juntos, criarmos algumas situações em que ela quisesse mostrar algo novo, passar alguma ideia ou apenas se sentisse confortável em determinada locação e posição. Acho que nunca passou de uns 30 minutos para cada foto”, arriscou ele, que, agora, quer financiar seu livro e uma exposição do projeto #365nus. “Já temos a editora escolhida, e pensamos em um espaço maior que uma galeria convencional para a exposição. Afinal, são 365 fotos”, disse. Mal podemos esperar.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Saiba mais em: 365nus.com.