Com entrevista e fotos exclusivas, Thiago Soares e Danilo D’Alma adiantam detalhes sobre a reestreia do espetáculo “Roots”, no Teatro João Caetano


Sem perder um só movimento dos últimos ensaios com os cliques do fera Lucas Landau, nós do HT conversamos sobre o clima de cumplicidade que paira sobre o tablado do espetáculo que reestreia esta sexta-feira

Dança, sincronismo e muita cumplicidade. Foi com a mistura desses três poderosos elementos que a dupla Thiago Soares, primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres, e Danilo D’Alma, coreógrafo reconhecido no cenário dos movimentos de rua, mergulhou de cabeça no espetáculo “Roots”, que volta à cena para mais uma temporada de sucesso no Rio. Assim como na primeira temporada, o projeto continua desafiando os artistas a interagirem com muita sensibilidade com mundos que, por mais antagônicos que possam parecer, acabam por se tornarem um corpo só em movimento. Pois bem. Insiders que somos, nós do site HT não conseguimos esperar até a reestreia do espetáculo, no dia 13 de janeiro, no Teatro João Caetano, e convidamos o super fotógrafo Lucas Landau para nos acompanhar até o espaço Deborah Colker, na Glória, para registrar uma tarde de ensaios sob o seu ponto de vista. E teve ainda, claro, um papo cheio de significante e significado que você confere aqui embaixo.

Thiago Soares e Danilo D'Alma durante ensaio para o espetáculo "Roots" (Foto: Lucas Landau)

Thiago Soares e Danilo D’Alma durante ensaio para o espetáculo “Roots” (Foto: Lucas Landau)

A cumplicidade entre os dois é monstruosa. Afinal, o fato de os artistas serem oriundos de dois gêneros totalmente diferente – apesar do espetáculo marcar a reencontro de Thiago Soares com a dança de rua -, seus movimentos não permitem um só passo em falso. “É um espetáculo que exige uma itinerância de dois artistas individuais, mas em um pas de deux. É um dueto. Por mais que a gente venha de dois mundos diferentes, a entrega tem que ser completa”, destacou Thiago Soares. “Sermos apenas dois em cena é o maior desafio. Acredito que a qualidade esteja lá em cima. Conexão é a palavra-chave. Além do que o público pode ver no palco, existe uma equipe no backstage que faz isso tudo acontecer de uma forma linda”, destacou Danilo.

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Foto: Lucas Landau

E, de fato, existe muita sintonia na equipe. Além da direção assinada por Renato Cruz e Ugo Alexandre, o músico e multi-instrumentista Pedro Bernardes assina a trilha sonora original executada integralmente ao vivo no palco. Entre uma e outra pirueta dos protagonistas, aos olhos atentos dos diretores, muito suor, dedicação e talento são respingados no tablado durante a passagem. “É uma verdadeira gangue de amigos. É muito importante a presença dos coreógrafos e de toda a equipe que está com a gente. Dentro de muitas brincadeiras a gente consegue inserir novos passos e podar o que esteja fora do contexto. O espetáculo é uma grande conversa. Tem na essência uma narrativa”, destacou Thiago, que comemorou a receptividade do público. “Nos tempos de hoje, que está cada dia mais difícil emplacar produções culturais, é um verdadeiro golaço conseguir fazer esse trabalho dignamente e iniciar o ano com uma temporada popular e uma montagem nacional, feita aqui. Por trás e na frente das cortinas, só artistas brasileiros. As pessoas estão falando muito para gente levar ele para a Europa, porque tem essa pegada underground, no entanto, antes de mais nada, ele carrega a bandeira do Brasil”, ressaltou.

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Thiago Soares (Foto: Lucas Landau)

As referências na criação de “Roots’ vão de Marius Petipa a George Balanchine, de William Forsythe a Bruno Beltrão. O espetáculo apresenta influências do balé clássico, dança contemporânea, hip hop e house dance. A dança de rua em diálogo com a clássica promove um jogo de deslocamentos e quebras de paradigmas, e o encontro destes bailarinos conduz o espectador a um quadro vivo e imprevisível. “É um aprendizado a cada ensaio. Independente das dificuldades que possam existir – afinal, o corpo não é uma máquina -, a gente tem encontrado mais consciência. O nosso backstage se resume de fato ao respeito. A gente entende muito bem o posicionamento de outro”, destacou Danilo D’Alma, que comemora o intercâmbio rítmico com o parceiro. “Esse espetáculo merece vida longa. A evolução é constante. Estamos descobrindo caminhos na dança, mas também na parte artística e teatral. A nossa presença no palco é muito forte. E, por isso, se torna tão importante para a gente dar seguimento a isso. Queremos ter mais tempo em cartaz e abrir espaço para novas parcerias”, frisou D’Alma.

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Danilo D’Alma (Foto: Lucas Landau)

No entanto, a longevidade do espetáculo também exige investimentos, que, de acordo com os artistas, tem se tornado cada vez mais escassos em tempos de crise. Como uma espécie de uma montagem de resistência, “Roots” foi idealizado como forma de expressão. “Viver de arte nos dias de hoje está diferente, muito complicado. Com dinâmicas diversas, sem contar essa violência do nosso cotidiano. Poder viver de dança é algo muito precioso. Arte é isso: criar, errar, ganhar, aprender, se surpreender… não temos pretensão de resultados financeiros imediatos. Queríamos vencer essas barreiras apenas com a nossa resposta artística”, destacou Thiago.

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Foto: Lucas Landau

Com um movimento genuinamente cultural, os bailarinos comemoraram o sucesso da primeira temporada do espetáculo aplaudido de pé pelos cariocas. “Muita gente não viu o projeto. Por isso, sentimos a necessidade de fazer uma reestreia. Como da primeira vez ficamos pouco tempo em cartaz, e a receptividade foi imensa, decidimos remontá-lo”, comentou Thiago, que ressaltou a nova casa do projeto. “Da outra vez nós estávamos no Teatro Oi Casa Grande, que é um espaço lindo em uma área nobre da cidade. Agora, quisemos trazer acesso para outra parte Rio poder acompanhar esse processo. Para democratizar o acesso ao espetáculo. Estamos agora bem no Centro, no coração da cidade”, disse o primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres.

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Foto: Lucas Landau

Já no ensaio, é um corre-corre daqui e dali que não acaba mais. Entre um pitaco e outro, os dois bailarinos têm se surpreendido com os desafios de fazer o balé clássico de Thiago conversar na mesma linguagem da dança de rua de Danilo. “A gente está em um lugar diferente, porque agora a gente já tem uma historinha. É tipo um relacionamento que você começa a conhecer a pessoa, passa um tempo junto e de repente já conhece a dinâmica e as brincadeiras. Os ensaios são intensos e enriquecem essa relação artística e pessoal entre nós. O que faz o desenvolvimento ficar ainda mais gostoso. O projeto criou vida e passa a carregar a gente. Muitas vezes, chego aqui com dor, ou sem disposição, mas essa vontade de tocar o projeto para frente tem estimulado muito a gente”, contou Thiago Soares, que ganhou o complemento de Danilo D’Alma.

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Foto: Lucas Landau

“A gente se surpreende ao prestar atenção no outro nos ensaios. Porque no palco é onde os esforços se materializam. É muito bom ver a evolução do parceiro e observar que isso ainda vai muito além. Por isso estamos tão dedicados nessa preparação. O desafio foi me conectar com ele em relação à técnica. A sorte é que já estudava alguns passos e trazia elementos para a dança de rua. Para mim, a dificuldade foi conseguir com que ele entendesse isso. Foi difícil me adaptar, mas a gente experimenta muito. Esse é o verdadeiro segredo do espetáculo. A experimentação”, sintetizou Danilo.

Thiago Soares e Danilo D'Alma (Foto: Lucas Landau)

Thiago Soares e Danilo D’Alma (Foto: Lucas Landau)

Agora, apesar de comemorar a expansão da dança dentro de solo verde e amarelo, Thiago Soares, que tem passado uma boa temporada no Brasil, destacou que ainda precisa haver muito mais investimento na base profissionais das danças. “Algumas coisas na comunicação popular com o ‘Dança dos Famoso’, e os musicais promovem uma divulgação e elevação do nome da dança. Esses eventos ajudam, mas por outro lado, isso falta na indústria. Falta qualidade financeira e mais apoio das empresas. Como talento, a gente tem crescido. Tem muita gente boa fazendo arte nesse país”, completou.

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SERVIÇO – ROOTS
Temporada: De 13 a 22 de janeiro.
Dias e horários: Sextas e sábados, às 20h. Domingos, às 18h.
Local: Teatro João Caetano.
Endereço: Praça Tiradentes, S/N – Centro, Rio de Janeiro.
Capacidade: 1.139 lugares.
Telefone: (21) 2332-9257.
Duração: 50 minutos. 
Classificação etária: Livre.
Ingressos: Plateia e Balcão Nobre: R$ 40,00 (inteira) | R$ 20,00 (meia)
 Balcão Simples: R$ 20,00 (inteira) | R$ 10,00 (meia)

FICHA TÉCNICA:
Elenco: Thiago Soares e Danilo D’Alma
Direção: Renato Cruz e Ugo Alexandre
Colaboração de criação: Pedro Cassiano
Trilha Sonora: Pedro Bernardes
Iluminação: Renato Machado
Figurino: Carla Kalache/Balletto
Realização: Araucária Agência Cultural
Diretor Geral: Miguel Colker
Diretor Financeiro e Administrativo: Rodrigo Wodraschka
Diretor Artístico Rio H2K: Bruno Bastos
Coordenadora de Relacionamento: Agatha Santos
Coordenadora de Produção: Carol Bandeira
Produtor: Dyogo Botelho
Designer: Patrícia Niemeyer
Comunicação: Gabriel Wasserman
Desenvolvimento Web: Rafael Rocha
Assistente financeiro: Lucas de Lafuente