Aos quarenta anos de carreira de Ana Kfouri, atriz, diretora e professora realiza o sonho da abertura do próprio Centro de Estudos


O Centro de Estudos de Ana Kfouri será inaugurado no próximo dia 11 em um sarau que conta com música, leitura de textos e lançamento de três livros de diferentes autores. O espaço será dedicado à experimentação e pesquisa artística

Espaço do CEAK no Rio de Janiero (Foto: Dalton Valério)

“A minha trajetória fala de uma artista dedicada à experimentação e investigação artística. Esta é a marca que espero estar traçando”, definiu Ana Kfouri. A atriz, diretora e professora completa, em 2017, 40 anos de carreira e, para celebrar, abriu o Centro de Estudos Ana Kfouri, um espaço localizado no Cosme Velho dedicado à experimentação e pesquisa artística e da linguagem. A coincidência das datas não passa disso já que o CEAK sempre esteve nos planos de vida da atriz, que começou a investir neste projeto nos últimos três anos. “Foi uma conjuntura e uma consequência de tantos anos de trabalho. Eu nem imaginei que conseguiria dar conta deste trabalho e concretizar os meus planos”, afirmou Ana.

O Centro contará com aulas e oficinas administradas pela própria dona. Além disso, sempre que possível, ela contará com a presença de artistas e estudantes de artes que tenham projetos com este perfil de pesquisa na busca de diversificar a informação. O espaço será dedicado à potencialização da pesquisa artística, por isso é importante que Ana agregue pessoas que exploram a mesma área. A ideia, portanto, é que um trabalho chame o outro para aumentar a gama de opções no meio. “No final do ano, por exemplo, farei uma experimentação visual, pensando a imagem experimental. Além disso, quero estimular trabalhos de estudiosos que lidem com o universo da palavra como potência. Pretendo fazer um espaço com leituras abertas e apresentações, que abra caminhos experimentais em um momento importante e difícil. Quero poder agregar e ter uma convivência entre alunos, artistas e professores”, contou.

A abertura oficial das portas ocorrerá no dia 11 de novembro. A ocasião será celebrada em um sarau de inauguração que contará com leituras de textos, músicas, que incluem Ana no acordeão, e o lançamento de três livros. Tudo isto foi pensado da forma que melhor traduzisse o que a atriz quer passar com este Centro de Estudos. “São pessoas com as quais trabalho, que dialogam com a minha pesquisa, direta ou indiretamente. Por isso é uma honra e uma alegria que os meus parceiros possam lançar um livro no meu espaço, por exemplo. São ideias que me tocam e falam desta dimensão política da linguagem. A Angela Leite Lopes, por exemplo, me apresentou ao Novarina, em 2007, que foi o primeiro autor que interpretei depois de dezesseis anos dirigindo. Isto tudo somente por causa dela. Por isso é significativo lançar este livro no meu sarau, já que ela traduz este autor”, explicou a dona do espaço. O exemplar de Angela, Traduzindo Novarina – Cena, Pintura e Pensamento, fala sobre uma pesquisa feita há mais de quinze anos, do intercâmbio entre o teatro francês e o brasileiro. A inauguração também contará com outras pessoas que já trabalharam como o texto de Novarina.

O sarau acontecerá no dia 11 e conta com música, leitura de livros e outros(Foto: Dalton Valério)

O segundo título que será lançado no sarau é o da pesquisadora, diretora e dramaturga Silvana Garcia. Em seu exemplar Territórios e Paisagens – Estudos Sobre o Teatro, a autora reuniu artigos publicados ao longo de mais de duas décadas, dentro e fora do país. Os textos abortam a produção teatral e o pensamento por trás das artes cênicas sobre diversos ângulos e momentos. “A Silvana é uma diretora teórica de São Paulo que acompanha o meu trabalho e está lançando este exemplar no meu espaço”, garantiu Ana. A ideia era reunir uma galera que mexesse com os palcos e a literatura.

Por fim, o exemplar de Marcelo Jacques e Inês Oseki-dépré traz a tradução de Para Que Poetas Ainda?, do francês Christian Prigent. A obra conta com ensaios publicados pelo escritor entre 1996 e 2014, girando em torno da poesia contemporânea. “O Prigent será o autor que irei fazer como atriz no ano que vem. O Marcelo é o meu parceiro atual com quem estou produzindo a peça”, explicou a atriz. Além disso, muitos textos deste dramaturgo serão lidos durante o sarau. Prigent faz parte da carreira atual da atriz com a peça Uma Frase Para Minha Mãe, a qual está produzindo. Atualmente, Ana Kfouri está na fase de captação, mas prometeu estrear até julho do ano que vem.

Ana Kfouri afirma que podemos esperar grandes trabalhos dos jovens que estão apostando no teatro (Foto: Dalton Valério)

Com este projeto, Ana Kfouri acabou fazendo o caminho inverso. Diferente de outros profissionais da área, ela investiu em um espaço para que, no futuro, este possa gerar incentivos artísticos. “Eu sempre quis abrir um espaço, então o investimento foi unicamente meu. Vejo o centro também como um lugar que pode gerar novos investimentos nos meus projetos, em editais que se interessem pela valorização artística. É um lugar onde posso desenvolver coisas muito legais. Logo fiz o contrário, investi para poder ter verba de outros lugares”, explicou a atriz.

Este investimento pode parecer loucura em um momento que a arte parece estar tão desvalorizada no Brasil. No entanto, Ana acredita que o CEAK irá servir de incentivo para os alunos e profissionais da área. “O centro é um ato de luta, resistência e enfrentamento pelo simples fato de impulsionar para que as coisas aconteçam no sentido de dar a vez para o artista. Nenhum governo pode despontencializar a arte porque ela é potência, a saúde de uma sociedade. Estou conseguindo cavar e abrir este espaço acaba sendo um ato de resistência artística. Tenho a certeza de que continuaremos, principalmente, se investirmos na pesquisa, valorizando a experimentação e a investigação artística”, afirmou. Por tanto, ela pretende que os jovens vejam naquele espaço um respiro em meio à crise.

Além de pesquisadora, Ana Kfouri é professora e coordenadora do curso de Artes Cênicas da PUC-Rio, fornecido pelo departamento de letras. Dessa forma, Ana tem um contato direto com os jovens que estão se formando e irão se tornar a nova geração do teatro. A atriz já adianta que são pessoas que possuem um futuro promissor. “Este desmonte que está havendo no país é um momento muito difícil, mas vejo que os alunos da PUC são muito potencializados, com uma consciência crítica. Aos poucos eles estão aumentando estes pensamentos que serão capazes de interferir de maneira mais afirmativa na vida da sociedade através de seus trabalhos. São pessoas que tem uma amplitude de ideias. Sinto que é uma geração que vai entrar no mercado de forma bem empoderada. Estes problemas que existem no país acabam sendo positivos neste sentido por criar pessoas com uma alta conscientização política. É difícil não trabalhar com o consenso, mas acho que eles podem dar um show mais para frente”, anunciou.

CEAK – CENTRO DE ESTUDOS ANA KFOURI

Endereço: Rua Filinto de Almeida 109 / 101 – Cosme Velho

Sarau de Lançamento: Dia 11 de novembro, das 19h às 22h.